Depoimento de Syl Mortilla (02)


''Quando eu tinha dezesseis anos, eu pulei em um ônibus, no qual eu fiquei sentado por 30 horas, antes de desembarcar em Praga, na República Checa. Como um(a) adolescente tímido(a), eu não era confiante o suficiente para fazer amigos na viagem, assim que a viagem foi feita sozinha.

Além disso, eu não estava viajando para fazer amigos. Eu estava indo para ver Michael. Eu não tinha visto ele por quatro anos, desde aquela noite na Dangerous Tour. Eu estava muito empolgado.

Estava tão frio. Mas eu estava determinado a conseguir uma posição próxima à frente do concerto do dia seguinte, por isso, depois de ter ficado um tempo em frente aos pés da estátua stalinista HIStory especialmente erguida, olhando para ela, tanto perplexo como maravilhado, eu deixei o ônibus.

Após caminhar pelas ruas da cidade estrangeira por um número de horas, eu finalmente consegui chegar em frente ao estádio do Letna Parque; onde eu me juntei à uma multidão que também estava se reunindo para a fila, durante a noite antes do concerto.

Mas estava tão frio. O concerto aconteceu. Eu consegui fazer a minha perigosa corrida em direção à frente do palco, uma vez que os portões finalmente se abriram. E, desprovido de comida e sono, tinha também, de alguma forma, conseguido ficar em pé o dia todo, a despeito das constantes ondas humanas criadas pelas 130 mil pessoas em pé atrás de mim.

Assim como quando todos nós saltamos e nos juntamos ao coro... ''Tom Sneddon is a cold man...''

Enchi os bolsos com os confetes que tinham estourado dos canhões que sinalizavam o fim do show, então - muito, muito lentamente - me arrastei no meu caminho para uma tenda de mercadorias. Meu entendimento sobre a moeda Checa era limitado, na melhor das hipóteses, e minha adrenalina estava nas alturas: a combinação perfeita para o desastre.

O tipo de desastre onde você se encontra perdido e sozinho, à noite, em meados dos anos 90, usando as três camisetas ''Michael Jackson'' onde eu tinha gasto todo o meu dinheiro, e ao mesmo tempo, segurando o folheto do programa do concerto bem junto ao corpo, na tentativa de conseguir um aquecimento extra.

Eu tinha um bilhete com o nome do hotel onde eu deveria ficar, mas eu não conseguia pronunciar seu nome, e cada pessoa estranha que passava e da qual eu tinha a coragem de me aproximar, eu mostrava a elas o bilhete, para apenas darem de ombros e continuar caminhando. Após o rugido do concerto, tudo parecia mais silencioso do que o possível.

Sem dinheiro nas ruas desertas de Praga, eu sentei e chorei.

Em seguida, um carro parou. Uma mulher baixou o vidro e disse algo incompreensível em uma língua estrangeira, enquanto gesticulava para eu me aproximar dela. Ela era a minha única esperança.

Mostrei o bilhete. Mais uma vez, ela deu de ombros e tinha um olhar confuso. Meu coração afundou enquanto eu era atingido por um verdadeiro terror por eu não poder ir para casa me aquecer, comer e descansar.

Então a mulher apontou para a minha camiseta [a de cima, pelo menos] e apenas disse, ''Michael!", antes que eu me acomodasse no assento na parte de trás, e ela começasse a dirigir em torno do que veio a parecer intermináveis, escuras e desoladas ruas da cidade.

Finalmente, ela dobrou uma esquina e eu vi algo que eu reconhecia.

Iluminada como um farol, em toda sua glória de luz branca, estava a estátua HIStory. E a seus pés, a minha carona para casa.''

Syl Mortilla (depoimento de fã)

Fonte: http://sylmortilla.com