The King of Style: Dressing Michael Jackson (14)


O primeiro ato de magia - os sapatos Florsheim

''As pessoas estavam sempre tentando trocar os sapatos de Michael. "Deveria usar na medida dos designers'', escutava com frequência. Mas se meter com os Florsheim de Michael poderia ser um movimento para acabar com sua carreira e eu aprendi da pior maneira.

Eu era novato quando entrei para a Bad Tour no Japão em 1987, mas sabia algumas coisas sobre meu trabalho como assistente de figurino. Eu estava no comando do uso e manutenção das roupas de Michael.

Durante e após os shows, lavada à mão e secava as camisas de seda e meias de lantejoulas. Aplicava álcool nos cintos de metal, fivelas e todas as peças que precisavam de um polimento após uma atuação agressiva. Revisava as costuras ou reparava qualquer outro dano ao seu guarda-roupa.

E, por ordens da direção, dei brilho a um par amassados, arranhados e esfarrapados sapatos Florsheim. Era o mínimo que eu poderia fazer. Nenhuma estrela ou empresário se atreveria a ser visto com uma coisa dessas em seus pés. Michael me viu sentado ali em sua sala, polindo com uma pasta para sapatos no meio da Estação Hrilho polido no meio da Grand Central Station.

"Não! Não toque nos meus sapatos!'' Uma onda de ansiedade e confusão me deixou sem palavras. Eu não sabia o que dizer.

"Nunca dê polimento aos meus sapatos", disse Michael. Ele estava chateado. Era um lado dele que eu nunca tinha visto e meu estômago se apertou. Ele nunca levantava a voz, mas a combinação de gestos com as mãos e a inflexão de suas palavras pronunciadas lentamente, indicavam que ele estava falando sério.

Toda vez que Michael estava zangado por algo relacionado à sua profissão, nunca brincava. Em vez disso, ele era como um pai explicando ao seu filho não só que tinha feito algo errado, mas por que razão estava errado. Não bastava me dizer para não tocar o fogo, não era o mesmo que dizer que eu poderia me queimar. Michael queria que eu aprendesse com este erro.

Ele explicou, ''O couro está gasto do jeito que eu gosto. Se você colocar pasta, o sapato vai deslizar. Se eu cair e eu torcer o tornozelo, ficamos todos sem trabalho."

Antes que Michael pudesse andar, ele já sentia o ritmo. Ele disse que sua mãe Katherine lembra dele imitando os movimentos da máquina de lavar quando era uma criança. Michael aprendeu a dançar nos [sapatos] Florsheim e temia que, se ele tentasse dançar com qualquer outro, poderia perder a magia de seus passos de dança.

"Esses são os sapatos que minha família podia pagar e com os quais eu aprendi a dançar", ficava me dizendo. "Eu não me importo com o que você faz com as minhas roupas, mas não toque nos meus sapatos. São os meus sapatos de dança. Eu gosto dos meus sapatos. Deixe-os quietos.''

Na verdade, eu tinha permissão para tocar seus sapatos quando os tirava para fora da caixa, novos. Com uma lâmina, fazia cortes na solas novas de couro, na parte em que apoia o metatarso [a almofada do pé].

E, como as solas de borracha se aderiam, as substituía com pele apta para a dança, um material mais macio e escorregadio, o qual permitia que Michael deslizasse ao longo do palco. A adesão não era uma boa amiga de um moonwalker.

Para o filme Captain EO de 1985, Michael teve de dançar em um traje espacial e seus Florsheim não se encaixavam com o tema. Um Reebok combinava muito melhor, mas ele não dançava com esses. De modo que me fez cortar as solas do Reebok com uma serra e encaixei um Florsheim neles.

Pedir a Michael para dançar em um novo par de sapatos ou mexer com aquele que ele já tinha amaciado, era como pedir a um batedor que trocasse o seu taco ou um defensor para trocar sua luva.

Os sapatos eram sagrados e também representavam outro paradoxo que contribuiu para a mística de Michael. Ele poderia usar protetores de pernas em ouro 18 quilates e cobrir sua mobília com cristais austríacos, mas não se daria para Michael um calçado de designer. Eles não poderiam fazer o moonwalk ou ficar na ponta dos pés, ou rolar mais de nove voltas com a precisão de um brinquedo.


O Florsheim, no entanto, poderia fazer isso e muito mais. Durante as turnês tinha dois pares de Florsheim desgastados, por isso me tornei paranoico com a ideia de perder a eles. Eu dormia com um dos pares sob o meu travesseiro todas as noites.''

Por Michael Bush
*Estilista de Michael Jackson, em seu livro The King of Style: Dressing Michael Jackson

Fonte: MJHideout