Depoimento da leitora Regina C. Bettin


''Minha história de fã é interessante. Até 1984 eu morava em um sítio, onde até o final de 1983 não havia eletricidade. De 1977 a 1982 (mais ou menos) meu pai ficou sem rádio, o único meio de comunicação que tínhamos, e por isso eu não sabia que aquele Michael Jackson que estava fazendo o maior sucesso no mundo todo, rompendo barreiras raciais e de classes sociais com seu imenso talento, carisma e luz, era o mesmo que fizera muito sucesso ainda criança, junto com os irmãos e em carreira solo, pois nos anos 1970 eu era muito pequena!

Foi no início de 1984 que me apaixonei, principalmente porque o jornalista (fofoqueiro) Nelson Rubens estava falando muito bem dele também como pessoa. Dizia que o jovem astro era um devoto Testemunha de Jeová, que jejuava aos domingos, levava a mensagem da Bíblia de casa em casa, praticava caridade, não falava palavrões, não fumava, não bebia e pretendia se casar virgem! Então eu pensava assim: existe um rapaz tão perfeito? Ele é o genro que minha mãe e meu pai pediam a Deus... E ficava a pensar se ele seria tão bonito também em sua aparência física. 

Eu, que já estava ansiosa para ver a imagem de MJ, certo dia fui à casa de minhas primas, onde vi um jornal com o anúncio do lançamento do curta Say, Say, Say no “Fantástico” e quando vi aquela fotografia dele e Paul McCartney sorridentes no estúdio de gravação, me apaixonei. Afinal constatei que, além do enorme talento e tantas outras qualidades, aquele era o garoto ou homem mais lindo que eu já tinha visto, com aqueles olhos, aquele sorriso, aquelas mãos... Meu Deus!! 

No início de 1984, com a chegada da energia elétrica ao nosso sítio, meu pai comprou uma TV, mas o sinal lá era ruim e somente tínhamos os canais Bandeirantes e Cultura, e eu ainda não poderia acompanhar os comentados concursos de imitadores nos programas do Chacrinha, Raul Gil e Barros de Alencar. Mas na Band havia o programa de videoclipes “Super Special” e na Cultura, o “Som Pop”. Oh, saudades... 

E interessante também é que, apesar de Billie Jean e Beat It ainda estarem fazendo muito sucesso, o primeiro vídeo em que vi a imagem de Michael foi exatamente Say, Say, Say, no Super Special da Band. E foi marcante porque nele o astro aparece descontraído, sorridente e vestindo vários tipos de roupas. Em setembro daquele ano, nós viemos morar na cidade e então eu pude aproveitar o incrível sucesso de MJ, em todos os canais de TV. Era um sonho! Ali começava o amor eterno que só aumentava na medida em que fui conhecendo também a dimensão do lado altruísta e humanitário dele. 

Ainda em 1984, fiquei sabendo que ele não concordou com a maneira como foi realizada a venda dos ingressos da Victory Tour e doou toda a sua parte da renda para caridade. E esse seu lado ficou evidente para o mundo todo com o projeto USA for Africa – We Are The World, no ano seguinte. Quando a febre Menudo chegou, eu me mantive fiel a MJ, sentindo em meu coração que ele seria sempre grande e eterno e que o Menudo passaria rapidamente, foi o que aconteceu. E eu ficava a desenhá-lo nos versos das folhas que separam os componentes curriculares nos cadernos escolares.

A partir do momento que me tornei mega fã de MJ, o mundo se tornou inexplicavelmente diferente para mim, com um brilho diferente. Hoje, com a abençoada internet, vejo que todas(os) as(os) fãs possuem o mesmo sentimento que eu! Ele só pode ser um anjo iluminado que veio a este mundo, pois nos fazia sentir uma alegria em saber que ele vivia conosco, trazendo um brilho, uma magia, uma inocência, um encanto... Era o que eu sentia, algo inexplicavelmente bom! A época do Natal que já era especial para mim se tornou muito mais ainda, com os especiais musicais que quase todos os canais de TV traziam com o Rei do Pop. Era bom demais!

Eu me tornei uma pessoa melhor depois de conhecê-lo. Pouco antes do lançamento do álbum Bad, Michael deixou a rigorosa religião, mas nunca deixou de seguir a Bíblia e seu principal mandamento que é viver o Amor. Meus pais me ensinaram os valores como honestidade; benevolência; humildade; gratidão; lealdade; compaixão; amor aos animais, à natureza, ao próximo e a Deus, mas Michael me fez sentir que agir assim é muito gratificante, pois ele transbordava todas essas virtudes! E foi assim a vida toda, mesmo com todos os percalços que o afligiam!

Michael costumava demorar a lançar um novo álbum e quando era anunciado o lançamento de um deles, era muita expectativa, muita alegria e emoção! E o nosso amado artista estava engajado no seu esforço em curar este mundo tão cheio de injustiças causadas pela ganância, pelo egoísmo e pelo ódio dos seres humanos e, cada vez mais, se tornava um missionário. E como todo mensageiro do Amor é perseguido, com ele não poderia ser diferente. 

No início dos anos 1990, ele estava realizando esse sonho através do enorme êxito de seu álbum e sua turnê Dangerous, sua Fundação Heal The World e o lançamento do livro Dancing The Dream, até que veio o terrível golpe, que foram aquelas torpes e infundadas acusações. Eu, como todos os outros fãs ao redor do mundo, sofria junto com ele e rezava por ele, sempre acreditando na sua inocência, pois não me faltavam motivos para isso. 

A mídia era injusta com Michael, omitindo evidências que apontavam para sua inocência, publicando informações distorcidas e todo o lixo sensacionalista. Infelizmente, como o próprio disse uma vez, uma mentira repetida muitas vezes acaba se tornando verdade, e muitas pessoas não tiveram a oportunidade de conhecer o verdadeiro Michael Jackson, acreditando que ele seria mesmo um monstro! 

A partir dali eu vivia apreensiva, preocupada com a próxima bomba que poderia vir sobre nós, me deixando com muita raiva, e fazia o que podia para defendê-lo. Lembro-me que enviei cartas para revistas e programas de televisão e escrevia comentários na internet, geralmente rebatendo outros comentários pra lá de ofensivos por parte de pessoas ignorantes. 

Inclusive, com a permissão da querida Rosane, administradora deste maravilhoso blog, vou anexar uma dessas cartas, da qual tenho uma cópia gravada em meu PC. Eu torci tanto para que a mídia se redimisse com ele durante e depois do julgamento de 2005, para ele pudesse reestruturar sua vida e sua carreira, retomar a Fundação H.T.W. e outros projetos beneficentes, recuperar o enorme prestígio que tinha antes de tais acusações. Mas, infelizmente, isso não aconteceu.

Além de mais momentos difíceis, ele ainda teve muitos momentos felizes ao lado de seus três amados filhos. E também nos proporcionou muitos, até que a cortina se fechou em 25 de junho de 2009, quando a mídia cínica e oportunista, aproveitando aquele momento de comoção a nível global, teve um pouco mais de boa vontade para com ele, mostrando um pouco sobre quem ele realmente foi, e muitas pessoas não só perceberam que estavam erradas no conceito que tinham sobre aquele homem extraordinário que a humanidade perdeu tão prematuramente, como também se tornaram fãs, após buscarem mais informações sobre ele na internet.

Logo após a inesperada e chocante notícia da partida de nosso amado, fiquei muito mal; chorei muito nos primeiros dias e meu coração doía demais, literalmente; senti-me sem chão; o mundo parecia que não tinha mais cores, nem brilho; nada mais tinha graça; fiquei deprimida durante mais de 3 anos. Foram anos horríveis, que contaram também com doença de minha mãe e doença seguida da partida de meu amado pai! Mas depois de ler tantos depoimentos, tantos relatos, tantas declarações lindas e edificantes sobre ele, especialmente no blog “Cartas para Michael”, que conheci em 2012, fui me sentindo melhor, mais reconfortada. 

Além disso, acredito que o amor vive para sempre e que um dia nos encontraremos na eternidade, onde não haverá medo, tristeza e dor! Eu penso nele todos os dias e sempre oro a Deus por ele. E ele ainda me faz feliz, pois a grandeza e a riqueza de seu imenso legado e a certeza de que ele, com maestria, cumpriu sua missão aqui na Terra e que vive no plano espiritual, me possibilitam isso.


SEGUE A CÓPIA DA CARTA QUE ENVIEI AO PROGRAMA "CÂMERA RECORD", EM 2008

R................................, 30 de março de 2008.
Olá,
Estou escrevendo para manifestar minha indignação ao assistir ao “Câmera Record” exibido no dia 28/03/2008, sobre crianças geniais. A matéria sobre Michael Jackson foi extremamente maldosa e errônea: disseram que Michael abafou o caso de abuso sexual de um menor com um acordo milionário, enquanto mostraram imagens do JULGAMENTO de 04 meses, com 07 horas diárias, mais 01 semana de reunião entre os jurados, quando se chegou ao veredicto que não poderia ser outro: INOCENTE.
Só quem acompanhou tudo de perto (buscando na internet e na TV paga) sabe que MJ realmente e suficientemente provou inocência através de evidências e das contradições existentes no processo e nos depoimentos das principais testemunhas de acusação, sendo que as mais confiáveis ajudaram mais a defesa do que a acusação.
Para mim foi mais do que suficiente. Se Michael fosse um maníaco incontrolável a ponto de abusar de Gavin Arvizo naquele momento (estava sendo investigado por suspeitas levantadas pelo documentário de Martin Bashir e seu enfoque maldoso das acusações de 1993), já o teria feito antes, pois convivera com o garoto desde o final de 2000 e em 2002 este já estava curado; e se fosse calculista teria esperado a “poeira baixar” e não teria rompido amizade com a família (aconselhado por seus advogados que descobriram que aquela mãe já havia aplicado golpe de estelionato contra a Loja J.C. Penney, usando os filhos).
Quanto ao caso de 1993, também há provas de sua inocência. Houve mais de 04 meses de forte investigação pela polícia, sendo que nada contra o artista foi encontrado; fortes investidas da imprensa; calúnias lucrativas (ganhavam altos cachês de jornais sensacionalistas) por parte de ex-funcionários que haviam sido despedidos por justa causa, sendo que as supostas vítimas que eles disseram ter visto sendo molestadas (Brett Barnes, Wade Robson e Macaulay Culkin) acabaram, no julgamento, negando com veemência e depondo em favor de Michael, uma vez que hoje são adultos bem resolvidos e ainda são amigos dele; a gravação telefônica entre o pai Evan Chandler, um dentista de Beverly Hills ambicioso e aspirante à carreira de roteirista em Hollywood e que via no astro um trampolim para chegar lá (ele e seu filho chegaram a participar de uma comédia de Mel Brooks onde satirizam Robin Hood e ouvi dizer que Jordan tinha bem mais talento que o pai) e Dave Schwartz, o padrasto, onde diz, entre outras coisas, que contava com a ajuda de um advogado sacana, que tudo estava acontecendo de acordo com um plano que não era só dele, e quando Dave perguntou em que seu plano ajudaria o filho, disse que isso era irrelevante para ele e o que importava é que não tinha como ele perder, ameaça Michael que havia rompido amizade com ele por não gostar de seu comportamento, mas não fala em abuso contra seu filho, a qual foi entregue à defesa de MJ pela própria mãe do garoto, antes de seu ex-marido forçá-la a ficar do seu lado; além das humilhantes fotos que a polícia tirou das partes íntimas de Michael, as quais não bateram com a descrição feita por Jordan Chandler. MJ só concordou em pagar a extorsão porque, além de seus advogados, sua então noiva Lisa Marie Presley, que é o grande amor de sua vida, o encorajou a fazê-lo, pois este estava sem dormir e dependente de remédios e ela achou que ele ia acabar exatamente como seu pai.
Acredito que se ele fosse culpado e quisesse resolver a questão com dinheiro, o teria feito antes de estourar o escândalo, que aconteceu no final de agosto, pois Evan o estava chantageando desde o início de julho (a gravação foi feita no dia 08/07/1993) e arranjando um jeito de tirar Jordan da guarda da mãe e botá-lo contra Michael. E o caso acabou sendo julgado no julgamento de 2005, mas com menor relevância, pois os principais acusadores não quiseram depor.
O pai não quis depor (por motivos óbvios). A mãe June foi, mas ela não tinha nada demais a dizer, afinal, não foi ela quem levou o filho a advogados e psicólogos caça-niqueis e nem lhe aplicou a droga da confusão psiquiátrica (Amytal sódico) durante um tratamento dentário(!!) para depois lhe fazer perguntas insidiosas. O filho, a suposta vítima, também não quis depor. O advogado de Michael, Tom Mesereau, disse em um debate após o julgamento, que conversara com amigos de Jordan e eles lhe disseram que o rapaz contou-lhes que nunca foi molestado por Michael, mas eles achavam que ele não falaria porque prejudicaria seu pai e... Pai é pai.
O que estou reclamando é que as pessoas que ouvem o que vocês falam descuidadamente acham que MJ é um monstro pedófilo que saiu impune, ou pior, que comprou sua impunidade. Sou extremamente religiosa e me apaixonei por Michael Jackson justamente pelo ótimo exemplo que ele era no auge de sua juventude e fama, sendo Testemunha de Jeová devoto e seguidor dos ensinamentos da Bíblia, ao contrário da maioria dos ídolos da juventude, e acho que o crime de pedofilia é um dos o piores que existem, pois os traumas podem ser terríveis.
Porém, como acompanho a vida e a carreira de MJ desde 1984 (eu tinha 14 anos) e pelos motivos acima citados, do fundo do meu coração, acredito que ele NÃO é este tipo de monstro. Ele deixou as TJ, mas nunca perdeu a fé, nem deixou de valorizar os princípios bíblicos.
Outra prova de que Michael é perseguido é que Elvis Presley não deixou de ser o Rei do Rock e Bob Marley não deixou de ser o Rei do Reggae, mesmo depois de mortos; James Brown não deixou de ser o Rei do Soul, mesmo depois de estar praticamente inativo, assim como os Beatles que tiveram uma carreira ativa de menos de uma década.
Concordo plenamente que todos eles merecem o título pelos seus feitos inigualáveis, exatamente como Michael Jackson com suas mais de 03 décadas de absoluto sucesso, com inúmeros prêmios e recordes! Então por que Michael tem de ser chamado de ex-Rei do Pop, como a grande maioria da imprensa o está chamando?
Se disserem que sua carreira se prejudicou por causa do que ele fez com sua própria aparência, eu até concordaria, se não soubesse que seu embranquecimento teve origem com o vitiligo, porque há registro da constatação do aparecimento da doença em 1983, no consultório do dermatologista Arnold Klein, que teve de depor na investigação de 1993, e que as cirurgias plásticas são devido a outro problema: o Distúrbio Dismórfico Corporal, que Michael tem por causa de traumas da infância e adolescência, quando até seu pai o chamava de “Narigão”.
Com certeza, vocês da mídia têm estas informações, mas fazem questão de NÃO as apresentarem. Mas as acusações que ele sofreu prejudicaram porque a grande mídia não lhe deu chance de provar sua inocência perante o grande público. Gostaria que vocês tomassem mais cuidado ao falar da reputação de alguém!
Estou chateada porque gostei muito da cobertura que o Domingo Espetacular deu ao resultado do julgamento, ao contrário do Fantástico que o ignorou depois de terem dito um monte de besteiras no início do mesmo. Não deixem que eu me decepcione com o jornalismo da Record assim como me decepcionei com o da Globo. Por favor, sejam mais justos e imparciais.
Grata pela atenção,
Regina C. Bettin

Depoimento da fã e nossa leitora Regina C. Bettin,
escrito com exclusividade para o blog 'Cartas para Michael'.


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