My Friend Michael (11)

Gstaad, a vila que acolheu Michael durante a Dangerous Tour
'E assim, meu irmão e eu estávamos em turnê com Michael Jackson. Meus pais voaram ao nosso encontro em várias cidades no roteiro, mas através de tudo isso, viajamos, assistimos a concertos e passamos o tempo com Michael.

Eu já o tinha como uma figura paterna e um amigo. No momento em que tudo acabasse, eu iria conhecê-lo como um entertainer. Eu também presenciaria e sentiria profunda compaixão pelas lutas que se iniciaram para Michael no dia em que ele foi acusado de abuso sexual e continuaram a persegui-lo pelo resto de sua vida.

Antes de ir para a América do Sul, a turnê teve uma pausa de uma semana na Suíça. Papai nos deixou em Gstaad, onde a amiga de Michael - Elizabeth Taylor - lhe tinha oferecido o uso de seu chalé. Gstaad era uma bonita aldeia nas montanhas, onde você poderia ver vacas andando pelas ruas entre as pessoas, balançando suas cabeças pesadas e soando seus chocalhos.

A primeira noite no chalé teve sopa de creme de frango em um hotel chamado Palace, logo abaixo da rua. Era tão gostosa que a pedimos novamente a cada noite. No chalé, havia uma doce vovó que cuidava de nós.

Ela era pequena e um pouco trêmula, e nos divertíamos lhe respondendo calorosamente, com um entusiasmo exagerado. Nós a abraçávamos e beijávamos até que ela desse uma risadinha, envergonhada. Fosse a sopa ou a velha senhora, achávamos que era engraçado estar 'por cima'.

Gstaad foi uma fuga perfeita dos rigores da turnê. Era uma cidade tão pequena e tão distante do resto do mundo que, no início, pelo menos, Michael podia andar livremente pelas ruas, sem disfarces, sem ser incomodado.

Esta foi uma rara alegria para ele. Em nosso primeiro dia, entrávamos e saíamos juntos das lojas pitorescas, admirando e comentando sobre tudo o que Gstaad que tinha para oferecer. Em algum ponto, eu decidi que iria começar a colecionar canivetes e isqueiros artesanais. Eu acho que eu tinha ouvido falar dos canivetes suíços, mas eu não tenho ideia porque eu pensei que precisava de mais de um. 

De qualquer forma, uma vez que eu tomei esta decisão, nós três estávamos totalmente comprometidos com ela. Assim, no curso de nossa estadia, encontramos (e Michael comprou para a minha coleção) quase todos os canivetes em toda a cidade. Quanto aos isqueiros, gostava de usá-los para deixar pedaços de papel em chamas (Não, eu não era um piromaníaco, apenas um garoto adolescente).

Mais tarde, quando estávamos saindo da Suíça, Bill Bray me pediu para entregar meus isqueiros. Ele não os queria no avião por razões de segurança, então ele disse que  os guardaria para mim. Depois de partirmos, eu nunca mais os vi. Infelizmente, Bill Bray faleceu há vários anos. Para onde os meus isqueiros foram é um mistério que ele levou para o túmulo, com ele.

Uma coisa que eu sempre vou lembrar sobre o nosso tempo em Gstaad, foi Michael me apresentando à nova música. Nós sempre ouvíamos música juntos, e sempre que estávamos em uma loja de discos, eu ficava em pé , ao lado de Michael, para ver quais os álbuns que lhe chamavam a atenção.

Eu também ouvia as canções que eram populares no rádio, mantendo-me a par dos hits atuais. Ele tinha um empregado cujo único trabalho era preparar fitas cassete de músicas de topo de cada semana, de todo o mundo, e enviá-las para Michael.

Enfim, de volta ao chalé, sentamo-nos extasiados, ouvindo por horas, com Michael atuando como DJ, dizendo: 'Você tem que ouvir essa canção. Agora você tem que ouvir este grupo.' Ouvimos Stevie Wonder e todas as estrelas da Motown. Ele nos fez ouvir a música de James Brown - Papa Don't Take No Mess - todos os quatorze minutos da mesma.

Ouvimos a música dos Bee Gees, How Deep Is Your Love? (Eu ainda acredito que é uma das maiores canções de todos os tempos.) Michael passou por Aaron Copland, a quem ele considerava o maior compositor do século XX.

Ele me apresentou a todos os tipos de música country-folk, clássica, funk, rock. Ele até me aproximou de Barbra Streisand. Eu me apaixonei pela canção People. Michael gostava de ir dormir ouvindo música clássica, especialmente as obras de Claude Debussy.

Eu me lembro dele colocando um grupo chamado Bread. Eu não prestei muita atenção à música porque eu estava muito ocupado tirando sarro do nome. 'Bread? (Pão?) Que tipo de nome é esse? Quer um pouco de pão com manteiga? E esse tipo de bobagem.

Mas quando me acomodei por um minuto e realmente ouvi em vez de fazer comentários sarcásticos, ele se tornou um dos meus grupos favoritos. Eu queria saber tudo o que havia sobre Bread. Sim, era o meu pão doce (trocadilho ruim...).

Michael muitas vezes falou sobre a universalidade da música. Ele queria escrever uma música que qualquer pessoa em qualquer país pudesse cantar, e como nós viajávamos, eu ouvia as pessoas que não falam Inglês cantar Man in the Mirror, Heal the World e, mais tarde, Stranger in Moscow.

Ele sempre disse que as letras das suas canções escreviam-se por si mesmas. Era tudo sobre a melodia. Um músico - Brad Buxer - estava conosco na turnê, e como eles compunham juntos, Michael dizia a ele: 'Toque o piano como uma criança de cinco anos de idade, Brad. Se você puder tocá-lo como uma criança, ela (a música) vai durar para sempre.'

Durante o nosso segundo dia em Gstaad, nevou, mas naquela noite, ao anoitecer, o céu clareou. Michael disse: 'Vamos fazer pedidos às estrelas.' Nós saímos para o quintal e olhávamos para o céu daquela noite incrível. Michael disse, com um toque de misticismo em sua voz: 'Cuidado com o que você deseja.. irá tornar-se realidade.'

De repente houve um movimento nas proximidades. Um homem apareceu ao lado do jardim. Ninguém estava hospedado na casa conosco, e essa aparição inesperada definitivamente não era algo que qualquer um de nós tivesse desejado. Em um flash, Michael deu um pulo e começou a gritar para tentar assustar o cara, mandá-lo embora. Michael jogou uma luva para ele. (Se o cara tivesse alguma noção, teria fugido com com aquela luva e a guardaria para seus netos.)

O cara levantou seus braços no ar, dizendo: 'Não, não, está tudo bem.' Enfim, ele era um trabalhador inofensivo que tinha vindo para verificar algo na casa, e naquele nós pudemos ver que, com todo o seu amor pelas coisas infantis e a absorção infantil que encontrava nelas, Michael absolutamente viu-se responsável por nós. Ele era o nosso protetor, e nesta posição, ele não tinha medo de nada nem de ninguém.

No dia seguinte, espalhou-se a notícia sobre o ilustre visitante que estava hospedado no chalé de Elizabeth Taylor, e alguns fãs apareceram. Tarde da noite, eles se reuniram fora do chalé e começaram a cantar algumas das músicas de Michael. Fomos à janela e passamos algum tempo conversando com eles.

Isso não era incomum: onde quer que fôssemos, Michael iniciava conversas com seus fãs. Ele queria saber de onde vinham, o que gostavam de fazer. Ele os amava, e não importa o quão grande fosse o seu número, ele nunca deixava de ver e respeitar cada um, como indivíduo.

Nos enxames de fãs que se encontravam onde quer que ele fosse, poderia ter alguém que prezasse sua solidão como Michael fazia, mas ele sempre encontrava uma maneira para mostrar sua apreciação, dando ainda mais de si mesmo para seus fãs. Ele era tão aberto às pessoas como o era às experiências, e esta, também, foi uma lição que eu aprendi com ele.

Um dos caras da equipe de segurança de Bill Bray, Wayne Nagin, foi a cada parada da turnê um dia antes de nós, para coordenar o transporte, hotéis e segurança. A segurança era importante. Dangerous foi a maior turnê de Michael. Os fãs sempre sabiam, de antemão, que ele estava vindo para a cidade.

Nós não poderíamos viajar sem escolta policial. Quando chegamos, a rota entre o jato particular e o hotel estaria cercada pelos fãs, como se toda a cidade tivesse sido fechada a fim de dedicar-se para receber a Michael Jackson.

Em Buenos Aires, a intensidade dos fãs parecia maior do que nunca. Enquanto nos dirigíamos para o aeroporto, centenas de pessoas perseguiam o carro, batendo nas janelas, querendo ver MJ por dois segundos, tentando tocá-lo. As pessoas nas calçadas acenavam para nós por todo o caminho para o hotel, como se Michael fosse o papa.

O carro se movia lentamente através das multidões. Às vezes, Michael colocava uma mão para fora da janela e as pessoas iam à loucura, gritando, até mesmo, desmaiavam, ao saber que ele estava tão perto. Eu provocava Michael, dizendo: 'Essas pessoas não desmaiam por você, você sabe. É por mim. Elas estão desmaiando por minha causa. Você não pode ouvi-las gritando? 'Fraaaank, Fraaaank!'

Ele sorria e brincava junto: 'Por favor, vocês não sabem quem eu sou?'

Michael queria ir às compras, mas era claramente impossível para ele aparecer em público sem ser assediado. Ele amava seus fãs, mas obviamente ele não podia se conectar com eles, em todos os momentos. A ironia é que todo esse amor, esse desejo de fazer contato, servia apenas para forçá-lo mais em isolamento.

Esta tinha sido a realidade de Michael durante tanto tempo que ele nunca pareceu incomodado com isso, e eu segui o seu exemplo. Nós nos divertíamos trabalhando em torno das restrições. Muitas vezes, um disfarce estava em ordem, mas nenhum óculos escuros do planeta iria camuflar a identidade de Michael. Nesta ocasião, em Buenos Aires, meu irmão e eu nos vestimos como nerds, usando chapéus engraçados, óculos e mochilas. Michael, para não ficar atrás, se disfarçava como se fosse fora um sacerdote em cadeira de rodas.

Em nossa expedição às compras, ficou inexplicavelmente apaixonado por uma estátua de Napoleão a cavalo e entrou em negociações vigorosas com o negociante de arte, para conseguir o melhor preço por ela. Como Michael gastava dinheiro de forma extravagante, ele ainda saboreava um bom negócio. Vê-lo disfarçar-se como um sacerdote, ou comprar uma enorme estátua por seis dígitos... bem, eu amei essa loucura.

De volta ao hotel, Eddie e eu tivemos que fazer o trabalho escolar que tinha sido enviado. Era para completar as tarefas e devolvê-las à escola. Os professores imaginavam que tínhamos recebido um tutor, e nós, de fato, tínhamos um... mas que mantinha sua identidade em segredo. Tínhamos quase certeza que a escola não iria aceitar a ideia de (termos) Michael Jackson como um tutor para viagem.

Certo, nós não tínhamos exatamente as horas regulares iguais à escola. As aulas aconteciam no meio da noite, às vezes, mas era Michael quem regularmente se sentava comigo e meu irmão e passava por nossas atribuições com a gente.

Quando tínhamos que ler livros, (Michael) lia capítulos em voz alta para nós, então, nós recapitulávamos o que tínhamos ouvido, perguntando: 'Então, quem eram os personagens principais? O que eles queriam? O que significa?' Da mesma forma que ele abriu as nossas mentes com os filmes que ele nos fez assistir, ele também encorajou-nos a pensar sobre a nossa lição de casa de forma diferente diferente da qual estávamos  acostumados, e levá-las a sério.

Além das atribuições que a nossa escola tinha nos dado, Michael insistiu que mantivéssemos diários de nossa viagem.

'Documente esta viagem' ele costumava nos dizer... 'porque um dia você vai adorar olhar para trás e revê-la.' Em cada país, tínhamos que fotografar o que víamos, fazer alguma pesquisa sobre os costumes, e colocar o que tínhamos visto e experimentado em nossos diários.

Nós exploramos as diferentes culturas. Visitamos orfanatos e escolas. Eddie e eu começamos a ter uma maior consciência do nosso lugar neste grande, largo mundo. Só mais tarde fui sábio o suficiente para ser grato a meus pais por nos permitir ter essa experiência.

Eles reconheceram que a educação não se tratava apenas de leitura, escrita e aritmética. Eles entenderam que nós aprendíamos vivendo.'

NOTA DO BLOG: Gstaad é uma vila de 3.600 habitantes, no interior do cantão de Berna. A típica estação alpina é conhecida pelos torneios de tênis, beach-volley e golfe. Desde a década de 60, é proibida a construção de prédios em Gstaad, por isso a maioria das casas possui o tamanho de um chalé.


Na região há cerca de 10 restaurantes que figuram no Gault-Millau, o guia francês que é considerado referência em matéria de gastronomia. A vila oferece de chalés luxuosos a hotéis confortáveis, sendo 3 hotéis de cinco estrelas e cinco de quatro estrelas. Fica a 52.4 km do aeroporto Bern Belp e a 93.4 km do aeroporto Geneva Cointrin.

Os visitantes podem conferir diversas atrações, como patinação no gelo, jogos de curling e squash, passeios a pé ou de trenó e, para relaxar, saunas, massagens e piscinas aquecidas. A vida noturna é repleta de animação e elegância.



Fonte: site snow adventures