Michael concedeu uma entrevista para Mark Ellen, da revista Smash Hits [Inglaterra] em dezembro de 1982, quando estava sendo lançado Thriller. Michael não sabia, até então, que iria se converter no disco mais vendido da História.
Smash Hits: Seu novo disco Thriller já saiu na Grã Bretanha. Está contente com ele?
Michael Jackson: Já saiu?
SH:: Eu tenho uma cópia.
MJ: Já está nas lojas?
SH: Bom, em breve. Está contente com ele?
MJ: Oh, sim, estou contente com ele. Estou feliz, sou do tipo de pessoa que nunca está satisfeita.
SH: Quais são as suas faixas favoritas?
MJ: Minhas músicas favoritas são Thriller, Billie Jean, Beat It, Startin’ Somethin’, The Lady In My Life. Temas assim.
SH: Há todo tipo de pessoas extraordinárias nele - Vincent Price, por exemplo. Como chegou a trabalhar com ele?
MJ: Conheço Vincent desde que tinha 11 anos. E quando se pensa em Thriller… Quero dizer, quém é o rei do terror que está vivo? Por exemplo, Bela Lugosi e Peter Lorre estão mortos e o gigante nestes dias é Vincent Price, assim pensei que tinha a voz perfeita. Foram Rod Temperton e o Quincy quem pensaram nele, porque é um bom amigo. Veio diretamente, não houve problema.
SH: Como foi com Eddie Van Halen?
MJ: Compus o tema chamado Beat It e queríamos um bom solo, um solo de guitarra. Então, naquela noite, Quincy disse: 'Tenho uma grande ideia. Sabe, alguém como Van Halen seria uma boa ideia ou Peter Townsend...' Mas Townsend e o The Who estavam em turnê nesse momento e pensamos que seria um problema. Assim que, no dia seguinte, justamente no dia seguinte, Eddie estava no estúdio. É o tipo de pessoa que sempre está preocupado de fazer bem a sua parte e queria estar seguro. É um perfeccionista.
SH: Que qualidades busca para suas canções?
MJ: Foco para que a música seja sólida e, acima de tudo, que tenha melodia.
SH: Que tipo de gente tem oferecido canções e que não tenha aceito? Creio ter escutado que há uma do Stevie Wonder?
MJ: Bem, Stevie tinha uma que era boa. Era uma boa canção, mas do tipo dançante. Também havia outra de... como se chama...?
SH: David Grant?
MJ: Oh... esqueci (risos). Tenho tanto coisa em andamento agora que me esqueci. Stevie é incrível. Fizemos um tema mais dançante, a canção era muito boa.
SH: Porque escolheu o título Thriller? Você gosta muito de cinema?
MJ: Os filmes me encantam. Todos os filmes. Mas não gosto dos de terror.
SH: Porque não?
MJ: Não consigo dormir se vejo um. Me dão medo.
SH: Quais são os seus favoritos?
MJ: Qualquer um do Steven Spielberg
SH: Você gosta do E.T.?
MJ: Adoro E.T. Porque lembra a mim. Toda a história, sabe, alguém de outro mundo que vem a Terra e se torna seu amigo e essa pessoa têm 800 anos e te completa com todo o tipo de sabedoria e é mágico, te ensina a voar. É o tipo de fantasia que creio que é genial. Quero dizer, quem não quer voar?
SH: Que outros filmes você gosta ?
MJ: Gosto dos antigos musicais da MGM. Gosto dos que tem grandes atores, como Katherine Hepburn, Spencer Tracey. Adoro Oliver, é um dos amigos que tenho que vivem aqui (na Inglaterra) – Mark Lester. É meu amigo. Oliver é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. Quando estou aqui o visito e conversamos pelo telefone.
SH: Porque você gosta tanto desse filme em particular?
MJ: Ooooooh! É maravilhoso! É uma história de (Charles) Dicken. Quero dizer... é... é... incrível. A música de Lionel Bart é irreal… é mágica. Vou gravar a canção no futuro, uma das canções...
SH: Qual?
MJ: Where Is Love?
SH: Conhece outras estrelas do cinema?
MJ: Sim, estamos no mesmo campo. Katherine Hepburn veio a um de nossos concertos da última turnê. Foi o primeiro concerto ao qual assistiu. A imprensa estava surpresa. Sabe, uma atriz de sua importância e todo o glamour de Hollywood... Estavam surpreendidos de que aparecesse por ali. Foi o primeiro concerto ao qual ela assistía em sua vida.
SH: O que ela achou?
MJ: Ficou encantada. Me disse que ficou encantada e me convidou para jantar na casa dela no dia seguinte, mas tínhamos que nos apresentar em outra cidade, sabe como é.
SH: Há algum herói ou heroína do cinema que quer conhecer?
MJ: Bem, queria conhecer Walt Disney mas ele já morreu. E queria conhecer a Charlie Chaplin, mas também já morreu. Realmente não há ninguém que quero conhecer. Vou trabalhar com Steven Spielberg.
SH: Verdade? Fazendo o quê?
MJ: Um filme. Vamos fazer um filme juntos. Agora ele está preparando a história e as ideias, trabalhando nelas gradualmente. Sabe, eu gravei o Storybook de E.T. e estamos acabando já. Ele e o Quincy dirigiram tudo..
SH: Não fez nada desde The Wiz, verdade?
MJ: Certo.
SH: E quer fazer mais?
MJ: Oh, sim. Quero.
SH: Obviamente, na maior parte do seu tempo, está envolvido na criação de música. O que você faz além disso? Quais outros interesses você tem?
MJ: Eu realmente não ...porque eu estou sempre criando material ... escrever ... e que é principalmente o que eu faço ... (risos) e estou interessado no cinema e na interpretação e esse tipo de coisa ... Eu não sou como nos esportes ou todas essas coisas ...
SH: Ande você mora?
MJ: Nós vivemos no Vale da Califórnia.
SH: Como é lá?
MJ: Há muitos limoeiros e laranjeiras. Por todo vale há laranjas, para onde quer que olhemos, há laranjas. E, ah, agora (risos) há algum nevoeiro porque choveu nesta manhã, mas é agradável e claro, com um céu azul ... e o vento...
SH: Que tipo de música você ouve?
MJ: Eu gosto de todas as músicas, todas as músicas. Do clássico ao country, ao pop. Eu realmente gosto do primeiro trabalho solo de Paul McCartney.
SH: Você trabalhou com ele ...
MJ: Ah, sim, foi divertido. É maravilhoso. Linda é muito divertida. Toda a família.
SH: Você conhece seus filhos?
MJ: Oh sim. Stella, James, Mary e Heather ....
SH: Teve um sucesso fantástico, você acha que ele ainda tem muito para viver? Você ficará aborrecido se este LP não for tão bem sucedido quanto o último?
MJ: Sim. Porque eu sempre quero vencer. Eu não gosto de dar passos para trás. Mas a economia de hoje é diferente ...
SH: Você quer dizer que as pessoas não compram muitos discos?
MJ: Sim. Mas isso não é desculpa.
SH: Nos anos setenta, por que você acha que fazia tanto sucesso?
MJ: Provavelmente porque foram boas canções, com frescor, diferentes e nós éramos muito jovens. E eu não tenho ninguém assim lá fora. Os Osmonds também foram, mas eles foram uma cópia do que fizemos. Eu gostava de vê-los - não estou dizendo que eles não eram bons - gostei do que eles fizeram.
SH: Você ainda vê seus irmãos?
MJ: Sim
SH: E como estão?
MJ: Ok
SH: No final dos anos 70, foram muito representativos do disco boom. É algo do qual você queira fugir?
MJ: Eu não acho que eu representava o disco. Fizemos baladas e todo o tipo de material. Eu não chamaria de disco: One Day In Your Life, Never Can Say Goodbye, She's Out Of My Life ou Rock With You... Eu gosto de boa música dançante. Eles podem rotulá-la como quiserem, desde que as pessoas gostem e que seja música dançante.
SH: Que grupos britânicos vocês gostam?
MJ: Eu gosto da bateria de Adam Ant, ele também é meu amigo.
SH: Trocam jaquetas ou algo assim?
MJ: Sim (risos). Falamos sempre sobre suas jaquetas. Sim, nós falamos muito no telefone. Eu amo a bateria de suas músicas. Você pode lhes dizer um olá por mim?
SH: Como você o conheceu?
MJ: Eu nunca estive com ele. Somos amigos por telefone. Sempre que ele está aqui, me chama. Como quando me chamou por ocasião do Teatro Grego. Eu estava nos bastidores. Quando estou na Inglaterra, eu o chamo e falamos como se nos conhecêssemos há anos, mas nunca nos vimos cara a cara.
SH: Não gostaria de vê-lo?
MJ: Sim, gostaria, se as nossas agendas coincidirem. (risos)
SH: Sobre o que conversam?
MJ: Nós conversamos sobre diversos assuntos musicais, como gravamos as baterias e como conseguimos o som de Antmusic. Ele gosta do meu material e eu gosto do seu, ele fala sobre a maneira como eu danço e eu sobre o seu figurino.
SH: Você tem um conhecimento muito técnico da música, então?
MJ: Não.
SH: É emocional?
MJ: Sim, vem direto do coração.
SH: Qual o tema que tenha gravado e lhe tenha deixado mais satisfeito?
MJ: Provavelmente Thriller, Baby Be Mine. Eu não posso responder porque eu nunca estou realmente satisfeito, nunca estou totalmente satisfeito. Eu realmente sou um perfeccionista.
SH: Com quem você gostaria de trabalhar e que não tenha feito isso ainda?
MJ: (Barbra) Streisand é um exemplo. Vamos fazer um dueto juntos. Vamos escrever juntos. Eu adoro como ela canta.
SH: E quanto a McCartney e o Urso Rupert?
MJ: Nós conversamos muito sobre isso, mas não chegamos a uma decisão de trabalhar nele. Tem um doce caráter...
SH: Quem? Rupert?
MJ: Sim. Parece inocente e muito amoroso, tudo o que acontece é sempre bom. Eu tenho um par de livros de Rupert aqui para Paul. É muito doce. Lembra-me sempre de Winnie The Pooh (O Ursinho Pooh)
SH: Você lê muitos livros?
MJ: Sim.
SH: Obviamente, é sempre muito interessado na magia e nos contos.
MJ: Eu amo contos de fadas. Eu adoro a fantasia, a ficção científica. Eu gosto da magia. Eu gosto de criar magia. Eu adoro mágica. Não importa o que você faz - tem que ser mágico. Algo que a pessoa ouça ou veja e o deixe alucinado. Eu gosto do inesperado.
SH: Algum escritor em particular?
MJ: Eu gosto de JM Barrie. A maioria são autores que já não estão entre nós. Sua imaginação estava fora deste mundo. Frank Baum que escreveu OZ, Steven Stevenson. Eu gosto de Steven Spielberg, ele é o Walt Disney de hoje. Eu dei a Steven um grande livro que não pode ser comprado em lojas.
É de uma antiga editora que costumava fazer um livro chamado Sabedoria e é muito difícil de encontrar, mas é a história de Walt Disney e o dei a Steven. E eu escrevi uma dedicatória e ele adorou.
Ele disse que era o melhor presente que já havia recebido. Ele disse que lia todas as noites, antes de deitar. Na parte de trás estão todas as citações, coisas que Disney havia dito em entrevistas, palavras de sabedoria, como três páginas inteiras, e estávamos lendo juntos em um avião. Quer dizer, eu adorei. É um grande livro.
SH: O que diz na dedicatória?
MJ: Eu disse a Steven como Disney foi uma das pessoas que mais me inspirou na música e tantas outras coisas e senti que ninguém, desde a morte de Disney, ninguém tinha tinha tanta imaginação e que ele, Steven Spielberg, era a única pessoa que havia me inspirado. Ele me deu um grande abraço e tudo mais. Quero dizer, foi ótimo, ele disse ter sido o melhor presente que já havia ganho.
SH: Então, são bons amigos?
MJ: Ah, sim, com todas as letras.
SH: Quando irão filmar juntos?
MJ: Provavelmente após o álbum dos Jacksons e começaremos a trabalhar em janeiro. A qualquer momento, desde que finalizemos a história e começamos a nos mover. Steven está fazendo um filme animado, quer que eu faça o roteiro. (risos) Me disse que começara a pensar nas ideias, porque ele queria que eu trabalhasse nele e eu disse: 'Ótimo!' Então, eu estou pensando como um louco.
SH: Que papel terá no filme que está fazendo com você?
MJ: Não sei. É futurista, do tipo fantástico, mas não tenho certeza do roteiro, por isso não sei o papel do personagem ou qualquer coisa.
SH: Você sai em público lá fora?
MJ: Não. Eu não saio.
SH: Então você vê filmes em casa?
MJ: Sim, temos uma sala de cinema. Eu vi um filme ontem à noite, no nosso cinema. Temos uma sala de cinema, onde vemos os filmes. Podemos nos sentir como se houvessem 32 pessoas e se eu quiser ver ET ou algo assim, eu só tenho que pedir o que queira ver.
SH: Sua casa é grande?
MJ: Ah sim.
SH: Quais são os cômodos?
MJ: Temos uma biblioteca. Temos uma sala de exercícios ... e a Disney está me fazendo algo, um quarto ambientado com o tema Piratas do Caribe. Eu tenho diferentes partes da atração na minha sala de jogos. Eles nunca fazem essas coisas, então me sinto honrado porque eles estão fazendo comigo. Eles vão montar.
SH: O quê? Fazer todas as bonecos?
MJ: Robôs.. o rosto em movimento, a figura, os movimentos das sobrancelhas, olhos e corpo inteiro, e disparam... Quando você entrar nesta sala, haverá uma guerra inteira acontecendo ... Tiros de canhão e fumaça entre eles - lutas ... uma guerra inteira acontecendo.
SH: Vão reunir tudo isso em um único quarto?
MJ: Sim.
SH: Como uma atração só para você?
MJ: Para mim e meus amigos. Para quem quer vir e vê-la. Vai ter o som, a iluminação e tudo mais. Logo estará na sala de jogos.
SH: Que tipo de jogos que você tem aí?
MJ: Space Invaders, Fire Star e jogos de basquete.
SH: Você é bom com eles?
MJ: Eu sou bom até que algumas crianças venham e me superem. (risos)
SH: E há um ginásio?
MJ: Sim, eu não faço muito exercício, mas ele está lá para as pessoas. A sauna e outras coisas. É apenas um lugar onde - se você trabalhar duro - você pode relaxar, se divertir e entreter seus amigos.
SH: Com quem você mora?
MJ: Minha mãe, minhas duas irmãs e meu pai. Eu ainda vivo com a minha gente. Eu morreria de solidão, se eu me mudasse. Eu também não posso controlar os fãs e coisas assim. Seria cercado. Nunca saio de casa, mas há guardas, segurança ... tudo organizado.
SH: Então, você raramente sai?
MJ: Muito raramente.
SH: Alguma vez esteve envolvido com uma avalanche de pessoas?
MJ: Oh, sim.
SH: É assustador?
MJ: Não, é divertido porque você tem que se esconder novamente. Mas uma vez que você se encontre preso não é divertido.
SH: O que acontece, então?
MJ: Eles começam a beijá-lo e puxá-lo, a rasgar suas roupas e puxar o seu cabelo ... Fui a alguns países e andando por aí, uma fã me mostrou uma mecha de cabelo e disse: 'Eu puxei ele há dois anos' e o carregava, desde então, na carteira.
SH: Como você se sente sobre estas coisas?
MJ: Não sei.. é raro.
SH: Então, como você viaja? Como voa e se move para todos os lugares?
MJ: Sim, temos segurança com a gente. Temos um jato particular.
SH: E provavelmente você tem guarda-costas.
MJ: Sim, eu tenho que tê-los.
SH: Gostaria de ter uma vida normal?
MJ: Oh, não, eu não posso dizer isso.
SH: Você já tentou levar uma vida normal?
MJ: Não, eu sou feliz como sou.
SH: Você gosta de bandas como Human League e Soft Cell?
MJ: Sim, eu gosto desses grupos. Eu gosto deles. O meu favorito sempre será o grupo britânico The Beatles, porque eles faziam músicas muito boas.
Muitas bandas atuais têm mais sons musicais e sons diferentes e coisas que você nunca ouviu falar, mas há uma boa letra com a melodia lá. Eles sempre tiveram grandes melodias e letras, mesmo tocando apenas a gaita no fundo, a melodia estava presente durante toda a canção.
SH: Você tem um tema favorito dos Beatles?
MJ: A minha canção favorita dos Beatles é de Paul...
SH: Qual?
MJ: Yesterday. Foi sempre a mais próxima. Sempre foi especial para mim. Eu acho que é maravilhosa, a melodia da música e todo o sentimento.
SH: Você acha que alguém tem abordado a qualidade da composição dos Beatles?
MJ: Sim. Holand, Dozier, Holand.
SH: Você tem uma favorita deles?
MJ: Todas elas. Esse período dos anos sessenta para mim - com Simon and Garfunkel, The Beatles e Motown - foi o melhor na história da música.
SH: Por quê?
MJ: Porque eram temas reais. Realmente bons temas. Agora, um compositor pode ter um grande sucesso e irá celebrá-lo durante toda a sua vida, e se esqueça de escrever de novo - sem auto-controle, passa o resto da vida festejando. Naquela época, as pessoas sempre buscavam criar materiais de qualidade.
SH: E sobre os anos setenta?
MJ: Eu gosto do material de Elton John - excelente. Bernie Taupin. Yellow Brick Road, Your Song, Benny And The Jets. Todo esse material. Isso é bom.
SH: O que você gosta?
MJ: Toda a sua imagem, com canetas e óculos... eu acho que foi bom, mas tinha muitos bons temas. Somos bons amigos.
SH: A quem mais conhece na Inglaterra?
MJ: Estas são as pessoas que eu visito: Mark Lester, o McCartney. Falo muito ao telefone com Adam Ant. Conheço o Elton. Eu conheço um grande compositor chamado Don Black ...
SH: Onde você vai estar no Natal?
MJ: Eu vou estar em casa.
SH: O que você gostaria...?
MJ: Eu não comemoro o Natal. Nós nos sentamos ao redor do fogo ou o que seja, nós assistimos às corridas ou o que tenha. Nós realmente não fazemos nada de especial. Gostamos da temperatura. Quero dizer, faz 21 a 26 graus no Natal. Nós não fazemos nada. Está quente. É escaldante. (risos)
Fonte: http://www.lacortedelreydelpop.com