My Friend Michael (43)


'Apesar do circo que a mídia desencadeou  pelo incidente no hotel com Blanket, o Natal de 2002 em Neverland foi grande. Minha família estava lá, assim como Omer Bhatti e sua família, uma família da Alemanha com quem Michael tinha feito amizade, até Dr. Farshchian e sua família.

Nós todos amávamos os grandes Natais, com muita comida, presentes e as crianças correndo ao redor. Durante anos, tivemos o mesmo ritual de Natal. Nos meses que antecederam o feriado, Michael e eu sempre comprávamos os presentes juntos, às vezes convocávamos Karen para ajudar a encontrar o que tínhamos em mente.

Nós armazenávamos tudo o que tínhamos comprado no departamento dos bombeiros. Devido ao tamanho de Neverland e seu isolamento, os regulamentos de seguros ou de lei estadual da Califórnia exigiam que ele tivesse se próprio departamento de bombeiros no local, com um pequeno caminhão de incêndio ostentando um logotipo Neverland e com bombeiros em tempo integral.

O pessoal da equipe envolvia todos os presentes, rotulava cada um, conforme o seu conteúdo. Então, na véspera de Natal, Michael e eu gostávamos de escrever os nomes nos presentes e os colocávamos debaixo da árvore, em preparação para a manhã.

No dia de Natal, nós todos dormíamos, sabendo que não iríamos abrir os presentes imediatamente. Porque meu pai sempre teve que trabalhar na véspera de Natal, nunca abríamos os presentes até ele fugir para a Costa Leste.

Todo mundo se vestia... e então esperava. Prince e Paris eram muito pacientes, não só porque eles estavam acostumados ao ritual, mas também porque seu pai havia trabalhado duro para incutir neles um sentimento de gratidão e respeito. Quando meu pai chegou, Michael tomou seu lugar ao lado da árvore, entregando todos os presentes, ao estilo de Papai Noel.

Poucos dias depois da Véspera de Ano Novo, quando todo mundo tinha ido embora, Michael e eu passamos o dia assistindo a filmes e fazendo alguns trabalhos em seu escritório. No final da tarde, decidimos ir até a adega, que era o nosso acolhedor esconderijo secreto, abaixo da sala de jogo. A porta parecia ser parte da parede, então você tinha que saber onde ela estava, a fim de encontrá-la.

Dentro da adega, abrimos uma garrafa de vinho branco. Eu amo o meu vinho tinto, mas Michael preferia o branco. Naquela tarde, Michael e eu falamos sobre o futuro, e quais seriam as nossas metas para este ano que chegava. Desde o início, suas palavras eram arrojadas e ambiciosas, mas eu poderia ver o que ele queria dizer.

'Eu vou tirar a mim mesmo dessa bagunça financeira que todo mundo tem feito na minha vida', afirmou.

Esta foi a primeira vez que Michael tinha admitido abertamente para mim, ou tanto quanto eu sabia, a ninguém mais, que ele estava com problemas financeiros. O fato dele finalmente se dispor a encarar o fato de frente, foi surpreendente.

'Sim, a culpa é deles', eu respondi. 'Mas a culpa também é sua, por permitir que isso aconteça.'

'Eu precisava me concentrar em ser criativo', disse ele, com uma pitada de defesa em sua voz. 'Você sabe, quando eu fiz Off the Wall e Thriller, eu era o único que assinava cada cheque que saía. Tudo corria bem, na época.'

'O que mudou?' Eu perguntei, honestamente querendo saber. 'Por que você começou a deixar que outras pessoas lidassem com o seu dinheiro?'

'Ele ficou muito grande. Era demais para eu lidar', disse ele.

Embora possa parecer óbvia, essa admissão foi uma das únicas vezes que eu tinha ouvido Michael aceitar a responsabilidade pela situação na qual ele estava e pela disfunção da sua organização.

Mesmo agora, anos depois, é difícil entender por que ele estava tão hesitante sobre a discussão de problemas como estes, não apenas comigo, mas com qualquer um. Claro, alguns dos motivos se resume a sua desconfiança, mas para mim, aquela era apenas parte da equação.

Como uma pessoa que lutava para aceitar a realidade, Michael poderia isolar-se, ele poderia ficar em Neverland, ele poderia saciar seus caprichos, mas todos os elementos de seu estilo de vida eram habilitados por suas finanças. Dizer, em voz alta, que estes estavam em desordem tornou-se um problema real, que ele não podia mais evitar.

Quando Al Malnik encarregou-se de suas finanças, ele assegurou a Michael que ele iria tirá-lo da confusão na qual ele se encontrava. Mas Al me disse que ele também havia dito:

'Michael, eu não posso fazer isso, a menos que você faça a sua parte.'

Agora parecia que Michael tinha guardado as palavras de Al no coração. Ele tinha participar, para que as coisas mudassem. O bem-estar contínuo de seus filhos, mais que tudo, o obrigou a enfrentar o que ele tinha evitado por tanto tempo.

Falamos um pouco sobre meus planos. Eu ainda estava tentando descobrir o que eu queria fazer da minha vida, mas agora Michael disse: 'Você sabe que eu sempre posso usufruir da sua ajuda. Você é o único que ficou, lembra? Nós podemos trabalhar juntos, novamente.'

'Sim' eu disse 'nós poderíamos fazer isso.'

Naquele momento, eu percebi que a maioria das pessoas na organização com quem eu tinha problemas já não estavam na foto; Michael e Al Malnik tinham se livrado delas.

Michael e eu não tomamos nenhuma decisão, mas a realidade é que quando eu estava com ele, em Neverland, eu estava de volta na minha zona de conforto, e eu não estou falando apenas da adega de vinho, embora eu certamente me sentisse confortável lá.

Eu conhecia os meandros do trabalho, exatamente o que Michael queria e como queria que as coisas fossem feitas. Trabalhar com Michael era minha zona de conforto. Foi um momento agradável. Ambos, de certa forma, estavam numa encruzilhada. Eu tinha me ramificado desde que deixei de trabalhar para Michael, mas agora eu estava achando meu caminho de volta.

Ele tinha terminado um álbum e estava enfrentando as duras verdades da sua situação financeira, e se sentia energizado sobre começar de novo. Sentamo-nos na familiaridade tranquila da adega, ruminando sobre nossas vidas, como havíamos chegado onde estávamos, e para onde nós iríamos, a partir daí.'