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13 janeiro 2017

O grão da voz


''Há tantos aspectos de Michael Jackson que iluminaram o mundo, mas no coração do fenômeno pop foi um instrumento simples habilmente empregado. Quando nós retiramos todas as outras coisas que fizeram de Michael Jackson quem ele era - o estrelato, a moda, a dança, os vídeos, os prêmios, a imagem... até os músicos que o apoiam - ficamos com nada mais e nada menos do que sua voz.

E o que uma voz é senão um instrumento onde cada bit é equivalente a um Stradivarius: requintado, distintivo, raro. Nunca se perde na mistura de seus discos; Michael sempre foi um artesão muito talentoso para deixar isso acontecer. Mas ela se perdeu, até certo ponto, no mix de nossa cultura pop movida pelos meios de comunicação, na qual os superstars são muitas vezes idolatrados mais pela sua celebridade do que pelo talento que os tornou superstars em primeiro lugar. [...]

Como ele chegando à marca de um quarto de século em um momento na vida, quando a maioria dos jovens estão apenas começando a ter uma ideia aproximada de qual a sua vocação poderia ser, Michael já havia acumulado 15 anos de experiência em seu ofício. E claramente, ele tinha dado um salto gigante, tanto comercial quanto artisticamente, desde Off The Wall.

Mas algo mais sobre sua voz estava mudando também - não tanto o timbre, mas o grão. Ele nunca ficara com pouca confiança, enquanto a mera perspectiva de se levantar no palco teria enviado a maioria dos garotos de dez anos correndo para a segurança das cordas do avental da mamãe, até mesmo as primeiras apresentações de Michael estavam prontas para além dos seus anos. 

E sua voz nunca havia perdido sua capacidade de inocência, admiração e esperança. Por esta altura, entretanto, tinha tomado uma borda, afiado pelas horas incontáveis ​​que tinha gastado no projetor, pelas centenas de profissionais com os quais ele tinha estudado [ou de longe], pelas demandas de ser ambos um artista solo e um membro de The Jacksons. [...]

Ao longo de tudo isso, de fato, ao longo de toda sua carreira, o notável instrumento de Michael continuou a nos lembrar que uma voz é algo mais do que apenas o som de um par de cordas vocais batendo uma contra o outra em alta velocidade, mais do que o ar que corre através do diafragma para um microfone de estúdio.

É um canal que pode transmitir todo o espectro da emoção humana diretamente de uma mente ou de um coração, para outra [o]. É uma mistura perfeita de arte e artesanato, de dom e esforço, de intelecto e emoção. E, embora possa ser reforçada pelo estilo, pela música ou pela celebridade, para que ela seja eficaz - para que ela seja transformadora - ela tem que ser capaz de se manter por conta própria.

Quando tudo estiver cantado e feito, depois de termos tirado todos os seus acessórios, uma voz tão magnífica e atemporal como a de Michael Jackson não é nada mais e nada menos do que uma janela... na alma de artista incomparável.''

Trecho extraído do livro Michael Jackson Opus