Depoimento de Michael Bush (22)


''Qualquer pessoa que viu Michael Jackson em suas turnês solo sabe que ele incluía um ato mágico em cada show, especificamente um ato de desaparecer. O ato mágico ocorria no meio do show, sempre antes de Beat It, o que sempre fazia a casa cair.

O show de mágica funcionava como uma maneira de Michael entrar em sua roupa Beat It sem uma mudança de guarda-roupa. Precisávamos dobrar suas roupas em camadas, então ele poderia vestir suas calças Billie Jean e camisa branca, que estariam dobradas como a roupa Beat It, por baixo das que ele estava usando durante as músicas anteriores.

A maneira de fazer isso era construir um terno separador e porque ele sempre o usaria bem antes e durante seu ato mágico, foi apelidado de O Terno Mágico.

O terno mágico era composto de várias peças de material unidas com velcro ao invés de costuras, o que pareceu ser mais sábio. As muitas peças se cruzavam no centro da frente, para criar a aparência de uma jaqueta sendo usada em cima de um par de calças mas essencialmente, eram usadas como um macacão. 

Cada peça de velcro, cada costura e cada placa estava ajustada, então tudo que eu tinha a fazer era pegar Michael na altura da nuca e puxar, a roupa toda viria para fora. Depois de cada terno mágico que fazíamos, Dennis e gostávamos de testá-lo. Por algum tempo, eu era do mesmo tamanho que Michael, então eu colocava o terno mágico e Dennis o puxava por trás. Será que isso iria funcionar? 

Muitas vezes isso não acontecia. Eu chegava, me curvava, chutava o mais alto possível, contorcia meu corpo de maneiras que eu até então nunca tinha imaginado, apenas para ver se alguma costura iria estourar, o que muitas vezes acontecia.

E este processo nos ajudou a determinar qual era o problema. O velcro pode ser muito grosso no meio ou não o suficiente na lateral. Teríamos que inspecionar: 

Será que iria segurar se Michael fizesse um chute com a perna, ou será que o velcro se abriria e mostraria suas roupas por baixo? Onde estavam os pontos de tensão? Será que iria se abrir se ele se inclinasse para apertar a mão de um fã ou rolasse no chão do palco? 

Então aqui eu estava fazendo a minha melhor imitação de Michael Jackson. Dennis puxava e empurrava, cruzava as costuras de velcro e cronometrava com uma rapidez o tempo do processo. E então, faríamos tudo de novo no escuro. E no escuro durante a execução porque, durante um show, que é onde nós estávamos e o que estávamos fazendo quando tiraríamos a roupa e colocaríamos Michael em sua jaqueta Beat It.

Michael cantou Working Day and Night de Off The Wall bem antes do ato mágico. Sob o terno mágico, que variava dependendo do show (já que levava algum tempo para colocar os pedaços de velcro todos juntos novamente), Michael teria as calças Billie Jean enroladas e uma camiseta branca.

Para o ato de desaparecimento durante a Dangerous Tour Michael trazia David Copperfield (às vezes Siegfried e Roy) para ajudá-lo a fazer as ilusões acontecer. E o terno mágico era parte da estratégia. 

Como Michael poderia estar em um lado do palco vestindo o que parecia ser um par de calças de nylon branca e azul e uma jaqueta azul correspondente e, em segundos, estar do outro lado do palco vestindo um casaco preto, pronto para matar o público com Beat It

Todo mundo na turnê teria que assinar acordos de confidencialidade, dizendo que não divulgariam os segredos comerciais dos quais estavam agora a par. É justo revelar, no entanto, que a iluminação e as explosões são os melhores amigos de um ilusionista. 

Na Bad Tour Michael subia um lance de escadas que o conduziam sob o palco. Logo que tocasse o chão, Michael teria que sair da escuridão para o outro lado do palco, comigo correndo atrás dele, esquivando de tubos e grades metálicas, lhe puxando pela nuca e descartando a roupa atrás de mim. 

Uma vez do outro lado, nós tiraríamos a sua calça Billie Jean, o vestíamos com a sua jaqueta Beat It e o prendíamos a um gancho elevatório que o levantava de volta ao palco no outro lado do estádio... em onze segundos.

Se eu tivesse tempo, eu teria pirado. Nem sempre havia uma oportunidade para ensaiar o show de mágica em cada cidade da turnê - 123 shows em 16 meses, em quinze países. E mesmo se a infra-estrutura do local fosse uma surpresa, de alguma forma, eu ficava focado. Eu tinha que fazer. 

Eu sabia pela batida certa que eu teria Michael em um determinado lugar debaixo daquele palco. Se eu não o fizesse, estaríamos totalmente ferrados. A magia de Michael precisava ser perfeita. Se aquelas luzes se acendessem e não houvesse nenhum "da-daaaa", não haveria volta. A sua mágica ilusionista estaria destruída.''

Michael Bush
(estilista de Michael Jackson, em seu livro The King of Style: Dressing Michael Jackson)

Fonte: http://alchrista.tumblr.com