Depoimento de John March


Em entrevista exclusiva à EDCYHIS, John March - produtor que já trabalhou com Michael Jackson - conta a sua experiência com o Rei do Pop e fala da sua vasta carreira musical.

EDCYHIS: Como Michael lhe escolheu para trabalhar com ele na Dangerous World Tour em 1992?

John March: Eu estava trabalhando como um programador de sinclavier naquela época. Sinclavier era uma ferramenta de programação e de música, muito popular (um seqüenciador/estação de trabalho de áudio baseado em disco rígido), para um determinado grupo de artistas, dos mais variados gêneros. Eu estava em um pequeno grupo de indivíduos que conhecia sinclavier realmente bem, então eu acabei participando do processo de programação da turnê.

EDCYHIS: Você teve a chance de conhecê-lo?

John: Felizmente, tive.

EDCYHIS: Como é, na sua opinião, a personalidade de Michael?

John: Eu encontrei o Sr. Jackson duas vezes, durante as fases de pré-produção. Ele foi bastante gracioso, profissional e extremamente educado. Meu filho estava prestes a nascer e ele me perguntou se eu estava muito nervoso e eu disse que estava trabalhando muito, para ter tempo de ficar nervoso. Ele riu disso. De qualquer modo, eu estava muito impressionado com o trabalho dele, sua ética e profissionalismo. Ele sabia exatamente o que queria e como conseguí-lo.

EDCYHIS: Como um músico reconhecido e que já trabalhou com gente do porte de Sting e Babyface, Michael Jackson chegou a te impressionar?

John: Eu nem sei como responder a isso. Eu fico impressionado pelas pessoas e coisas que me chocam em virtude de suas ações humanas, então eu não posso dizer que fiquei impressionado. Eu lembro sim, de estar muito maravilhado com a extensão da visão do Sr. Jackson em entreter as pessoas e com a sua aplicação e concentração.

EDCYHIS: Num ponto de vista musical, como você define o trabalho de Michael?

John: O Sr. Jackson é um músico e performer pop no topo do paradigma dos performers e tem sido desde quando era uma criança. É difícil avaliar alguém assim, de um ponto de vista musical, já que ele por si próprio cria suas definições. O gosto para música é muito subjetivo e, enquanto eu tenho a minha opinião, eu também sei que a música pop é definida pela popularidade que qualquer música ou artista possa ter com a população geral de ouvintes e com o público consumidor. Meus gostos pessoais na música ainda estão muito longe do mercado de pop mainstream.

EDCYHIS: Qual o seu álbum e música preferidos de Michael Jackson e por quê?

John: De quando ele estava no Jackson 5, uma música chamada Who's Loving You, uma excelente e profunda canção que simplesmente toca seu coração.

EDCYHIS: O que você vê no futuro da música?

John: Bem, agora essa já é uma questão difícil. Se você lê os meus artigos na Musico Pro, você já sabe que eu tenho uma perspectiva meio fora do usual, em se tratando de música. O futuro da música é uma questão ampla. Eu acho que retorno a pergunta e peço para tentar ver o que realmente está perguntando.

O futuro da música é indescritível e se torna no que a gente faz dela. No momento em que o futuro da música for controlado inteiramente pelo combinado em pauta, as visões do mundo musical e artístico estarão ligadas a comércio e dinheiro. Com o passar das eras e com o enterro dos mitos na cultura da imaginação, será mais difícil fazer música. No momento, fórmulas, grupos vocais pré-fabricados e divas são os dominadores do terreno. A música se tornou num meio visual ao invés de um meio relacionado à alma das pessoas. Antes, para se fazer música você deveria ser, no mínimo, um bom músico. Eu não tenho mais segurança pra falar isso hoje em dia.

EDCYHIS: O novo álbum de Michael Jackson está sendo considerado, por grandes produtores e músicos, como o senhor, o melhor álbum já feito. Eles dizem que Michael superou Thriller com este que ainda está por vir. Você acha realmente que Michael pode voltar à cena e se sair tão bem como quando ele ainda não era mal-compreendido pela imprensa?

John: Eu tenho que ser honesto e dizer que eu não acredito muito nestas coisas e eu nunca especulo sobre música em termos de popularidade e vendas recordes. O Sr. Jackson não tem nada para provar a ninguém e, se ele fizer a música que gosta e ficar orgulhoso disso, então eu acho que esse é o sucesso que qualquer um poderia querer.

EDCYHIS: Qual a sua atividade preferida na área musical?

John: Eu ainda sou um guitarrista de estúdio ativo e eu adoro tocar. Eu tenho um grupo de amigos que são músicos de estúdio, com quem eu viajo, às vezes, e eu adoro isso. Eu acredito ser um bom produtor, já que sempre tento criar uma atmosfera segura e fácil para um artista. Eu sempre procuro absorver o melhor de cada pessoa, para criar situações onde isso seja possível.

EDCYHIS: Você já pensou em ser contratado novamente por Michael para trabalhar num novo projeto?

John: Não.

EDCYHIS: Você já se cansou de fazer música ou sempre pensa que tem algo novo a aprender? Qual seu real sonho?

John: Eu adoro música e tenho tocado desde que tinha 4 anos. Sempre irei tocar, mas, na cultura contemporânea, ser apenas um bom músico não é suficiente. Estabilidade é sempre a chave. Ser um bom músico, um grande ser, conhecer as questões criativas e técnicas, almejar, no sentido da arte. Eu gosto da música e da habilidade que ela proporciona. Meu sonho é fazer música e desenvolver artistas, projetar estúdios e ser um profissional de áudio, numa cultura que não é inteiramente dominada pelo combinado em pauta. Onde fosse mais importante desenvolver boa música e boa arte e, daí sim, ir em busca do todo-poderoso Dollar.

EDCYHIS: Obrigado pela sua gentil disposição em participar desta entrevista.

John: O prazer é todo meu e desejo o melhor à EDCYHIS e aos seus integrantes.

Fonte: EDCYHIS/MJBEATS