A entrevista de Michael para ''Ebony Magazine'' em 2007


[Edição da revista de 12/2007] ''Sentado em um sofá próximo a Michael Jackson, pode-se ver rapidamente a luz do enigmático ícone de pele translúcida e dar-se conta de que esta lenda afro-americana é mais que superficial. Mais que um artista, mais que um cantor e bailarino, o pai de três filhos revela um homem confiante, controlado e maduro que ainda tem muita criatividade por dentro.

Michael Joseph Jackson estremeceu o mundo em dezembro de 1982, quando rompeu a cena da música pop com Thriller, o rico, enigmático e pegajoso álbum que introduziu muitos objetivos a um talento que a maioria dos negros conhecia há décadas, e lançou por terra quase todos os records da indústria discográfica do planeta. O histórico projeto foi outro passo em uma carreira musical que começou 18 anos antes, aos 6 anos de idade, com os Jackson 5.

Em sua primeira grande entrevista a uma revista norte-americana em uma década e ao 25° aniversário de Thriller, Jackson reuniu-se com a Ebony para uma íntima e exclusiva conversa sobre Thriller, a histórica atuação no Motown 25, ser pai, o estado da indústria musical e a força por trás de sua criatividade.

Aqui está Michael Jackson, em suas próprias palavras...

Ebony: como tudo começou?

MJ.: A Motown estava preparando-se para fazer um filme chamado The Wiz... E Quincy seria o homem que faria a música. Eu sabia disso antes dele. Quando eu, ainda criança, estava em Indiana, meu pai normalmente saía para comprar álbuns de jazz, portanto ele era conhecido como músico de jazz. Então, depois de fazer o filme, durante a rodagem fizemos muitos amigos, também; ele ajudou-me a compreender certas palavras, era realmente como um pai.

Chamei-o depois do filme, sendo totalmente sincero, porque sou uma pessoa tímida, especialmente então, nem sequer olhava as pessoas quando falavam. E eu lhe disse: 'estou preparado para fazer um álbum. Creio... você poderia me recomendar alguém que esteja interessado em produzi-lo ou que trabalhe comigo?'

Ele deu uma pausa e disse: 'porque você não me permite fazê-lo?', e eu disse a mim mesmo: 'não sei por que não pensei nisso antes'. Possivelmente porque pensava que era mais que um pai, mais jazzístico. Assim quando disse isso, pensei 'Wow, isso seria fantástico'. Seria genial trabalhar com Quincy, ele deixa você fazer suas coisas. Não se mete no caminho.

Portanto, a primeira coisa que fiz com ele foi Off The Wall, o nosso primeiro álbum, e Rod Temperton entrou em estúdio, e veio com este tema - ... doop, dakka doop, dakka dakka dakka doop, toda esta melodia e os coros...Rock With You. Eu disse: 'Wow!' Assim que escutei aquilo pensei: 'Ok, realmente tenho que trabalhar agora'. A cada vez que Rod me apresentava algo, eu também apresentava algo e ambos formamos uma pequena e amigável competição.

Gosto de trabalhar assim. Ele normalmente fazia como fazia Walt Disney: se estavam trabalhando em Bambi, ou em um filme animado, eles colocavam um cervo no meio da sala e faziam os animadores competirem-se com diferentes estilos de desenho. Aquele que realizasse o efeito mais estilizado que agradasse Walt, seria o
escolhido. Era como uma competição, algo amistoso, mas era uma competição, porque precisava de um maior esforço. Assim, quando Rod trazia algo, eu também trazia, e continuava assim. Criamos maravilhas.

Ebony: Então, depois de 'Off The Wall', na primavera de 82, você voltou ao estúdio para trabalhar em 'Thriller'?

MJ.: Depois de Off The Wall, tínhamos todos esse números 1Dont Stop 'Til You Get Enough, Rock With You, She's Out Of My Life, Workin' Day And Night e fomos nomeados ao Grammy, mas eu não estava contente por como tudo ocorreu, porque queria fazer muito mais, apresentar muito mais, colocar mais de minha alma e coração nele.

Ebony: Foi um ponto de transição para você?

MJ.: Uma completa transição. Desde que era um garoto, estudava composição. E foi Tchaikovsky que mais me influenciou. Se você toma um álbum como o Suite do Quebra-nozes, todos os temas serão ótimos, cada um. Portanto disse a mim mesmo: 'porque não fazemos um álbum pop onde cada canção seja um êxito?' A gente faz discos onde há um bom tema e o resto são como caras B.

Porque cada música não pode ser tão boa quanto para as pessoas que as compram, se as editarmos como single?' É desse jeito que tento fazer. Esse era meu propósito para o próximo disco. Essa era a ideia principal. Queria sacar todas as que quiséssemos. Trabalhei duro para ele.

Ebony: Então, o processo criativo, você o delibera ou ele simplesmente acontece?

MJ.: Não, fui bastante deliberado. Até por tudo que vem junto de alguma forma, conscientemente, se cria no universo, mas, uma vez a química adequada dentro na sala, a mágica acontece. Tem que fazê-lo. É como pôr certos elementos em um extremo e isso produz magia no outro. É ciência. Chegando lá, com as melhores pessoas, é simplesmente maravilhoso.

Quincy me chamava de Smelly, que vinha de cheiroso; Spielberg também me chamava assim. Assim, eu dizia: 'Esta é uma canção 'cheirosa'. Isso significava, 'é genial'. Portanto me chamavam de Smelly. Trabalhar com Quincy era algo maravilhoso. Ele te deixava experimentar, fazer suas coisas, e era tão gênio que ficava fora do caminho da música, e se houvesse algum elemento para adicionar, ele o adicionava.

E escutava esses pequenos detalhes. Como, por exemplo, em Billie Jean, eu tive de conseguir o som do baixo, e a melodia e toda a composição, Mas, escutando-o, ele acrescentou outra frase musical muito bonita...Trabalhamos em uma canção e logo nos juntávamos em sua casa, colocávamos o que tínhamos trabalhado, e ele dizia 'Smelly, deixe que ela fale'. Eu lhe dizia 'Ok'. Respondia-me: 'Se a canção necessita de algo, ela te dirá'.

Aprendi a fazê-lo. A chave para ser um compositor maravilhoso não é compor. É só você sair do caminho. Deixar o lugar para que Deus entre na sala. E quando escrevo algo que sei que é bom, ajoelho-me e dou graças: 'Obrigado, Senhor!'


Ebony: Qual foi a última vez que você teve esse sentimento?

MJ.: Bom, recentemente. Sempre estou compondo. Quando você sabe que é bom, às vezes sente algo que está se aproximando, uma gestação que é quase como uma gravidez ou algo do tipo. Você se emociona, e começa a sentir que algo está em gestação e, magia, aí está! É uma explosão de algo que é tão bonito, você diz 'Wow! Aí está!'.

Assim é como flui. É algo bonito. É um universo do qual se pode entrar, com essas 12 notas... O que faço quando estou compondo é uma versão avulsa, desnuda, só para ouvir os coros, só para ver o quanto gosto deles. Se eu gosto desta versão primitiva, então sei que funcionará... Ouvi-lo, isso é em casa. Janet, Randy, e eu... Janet e eu fazemos: 'Whoo, whoo... whoo, whoo...', é o que faço, o mesmo processo para cada canção.

É a melodia, a melodia é o mais importante. Se ela entra em mim, se eu gostar, então vou para o passo seguinte. Se soar bem em minha cabeça, logo soará melhor quando eu acabar. A idéia é transcrever o que está em sua mente a uma fita.

Se você pegar uma música como Billie Jean, onde a linha de baixo é a parte proeminente e dominante, o protagonista da canção, é a frase principal que você escuta e conseguir o caráter desta frase, fazer com ela seja o que quiser, é algo que leva muito tempo. Escute, você está ouvindo quatro baixos, fazendo quatro personalidades diferentes, e isso lhe dá Personalidade. Mas requer muito trabalho.


Ebony: Outro grande momento foi a apresentação no Motown 25...

MJ.: Eu estava em estúdio editando Beat It, e por alguma razão resultou que eu estava fazendo nos estúdios da Motown, e fazia muito tempo que eu havia abandonado a companhia. Eles estavam preparando algo para eu fazer no aniversário da Motown, e Berry Gordy me perguntou se eu queria performar no show, e lhe disse 'NÃO'. Disse-lhe que não.

Disse-lhe não por causa de Thriller... eu estava construindo e criando algo que eu queria fazer, e ele respondeu 'Mas é o aniversário...'. Assim que me disse isso, eu respondi: 'Eu farei, mas a única forma para que eu aceite é se me deixar cantar uma canção que não seja da Motown'. Ele me disse 'Qual é?', 'Billie Jean', respondi.

Ele concordou. E eu disse: 'De verdade, me deixará cantar Billie Jean?', ele disse 'Sim'. Assim, ensaiei e criei a coreografia, vesti a meus irmãos e escolhi as canções e escolhi o medley. E não só isso, tem que trabalhar com os ângulos da câmera. Dirijo e edito tudo. Cada plano que se vê é meu.


Ebony: Quanto tempo você leva criando esses elementos?

MJ.: Desde que eu era um garoto, com meu irmãos. Meu pai dizia: 'ensina-os, Michael, ensina-os'.

Ebony: Alguma vez eles sentiram ciúmes?

MJ.: Eles nunca admitiram em seus dias, mas devia ser duro, porque a mim nunca me pegaram durante as práticas ou ensaios (risos). Mas depois é quando me encontrava em problemas (risos). É certo, então é quando eu recebia. Meu pai normalmente passava o ensaio com o cinturão na mão. Você não podia errar. Meu pai era um gênio na hora de nos ensinar como se comportar no cenário, como trabalhar com o público, antecipando o seguinte que tínhamos que fazer, ou não deixando nunca o público notar se estávamos sofrendo, ou se algo ia mal. Para isso era incrível.

Ebony: Quando ele pensava que não só você tinha um grande sentido para o negócio, como controlar o pacote inteiro?

MJ.: Absolutamente. Do meu pai, a experiência; mas aprendi muito do meu pai. Ele tinha um grupo chamado The Falcons. Eles vinham e tocavam música, portanto sempre tivemos a música e a dança. Ele é este aspecto cultural que as pessoas negras têm. Separamos toda a mobília, aumentamos a música... Quando chega o pessoal, estão todos no meio da sala, você tem de fazer algo. Eu amava...


Ebony: Suas crianças fazem isso, agora?

MJ.: Eles fazem-no, mas são tímidos. Porém às vezes eles fazem-no pra mim.

Ebony: Falando de ser um artista: a MTV não exibia nada de tipos negros. Como isso te afetou?

MJ.: Diziam que não podiam (artistas negros). Partia-me o coração, mas ao mesmo tempo acendeu algo em mim. Eu dizia a mim mesmo: 'Tenho que fazer algo que eles...' Simplesmente ignorei. E Billie Jean, disseram, 'não podemos'. Mas quando colocaram, conseguiram um recorde mundial. Logo começaram a me pedir tudo que tínhamos.

Chamaram na nossa porta. Logo chegou Prince, abriu a porta para Prince e o resto dos artistas negros. Eram 24 horas de heavy metal, um simples poutporri de imagens loucas... Vieram a mim muitas vezes no passado e disseram: 'Michael, se não fosse você, não existiria a MTV'. Isso me disseram, uma e outra vez, pessoalmente. Suponho que eles não foram escutados nesse momento... Mas estou seguro que não o faziam com pura malícia (risos).

Ebony: Isso deu a luz para a era moderna do vídeo...

MJ.: Ele normalmente assistia a MTV. Meu irmão (Jackie)... nunca me esquecerei, ele me disse: 'Michael, você precisa ver este canal. Meu Deus, é a melhor idéia. Colocam música 24 horas... 24 horas ao dia !', e eu respondi: 'Deixe-me ver'. E eu assistia a tudo o que eles colocavam e o que diziam... 'se eles dessem um pouco mais de entretenimento, história, um pouco mais de dança, estou seguro de que a gente gostaria mais'. Portanto eu disse a mim: 'quando fizer algo, terá que ter uma história: um começo, meio e um fim, para que eles possam continuar, como um argumento linear'; Tem de haver um sentido.

Assim, enquanto você está vendo o valor que proporciona ao entretenimento, você se pergunta o que vai acontecer. Foi assim que comecei a experimentar com Thriller, The Way You Make Me Feel, Bad e Smooth Criminal, e dirigindo e escrevendo.

Ebony: O que você pensa sobre o estado da música e dos vídeos de hoje?

MJ.: A indústria está em uma encruzilhada. Está acontecendo uma transformação. As pessoas estão confusas, o que vai acontecer, como distribuir e vender música. Creio que a internet lançou pessoas de alguma forma a um giro real. Porque é muito poderoso, as crianças adoram. Todo o mundo está em seus dedos, em seu colo.

Tudo que querem saber, com quem quiser se comunicar, qualquer música, qualquer filme... Isto concedeu a todo o mundo um grande giro. Agora mesmo, todos esses acordos com Starbucks, com Wal-Mart, diretamente com o artista, não sei se esta é a solução. Acredito que a solução é simplesmente a música fenomenal, a grande música. Chegar às massas.

Creio que a gente segue buscando. Tampouco há uma evolução real da música funcionando, atualmente. Mas quando chega, a pessoa romperá as barreiras para consegui-la. Quero dizer, porque antes de Thriller, estava um pouco igual. As pessoas não compravam música. Ele ajudou as pessoas voltarem às lojas. Assim, quando acontece, acontecerá.

Ebony: Quem te impressiona?

MJ.: Quanto a ser artista, creio que o Ne-Yo está fazendo maravilhosamente. Mas tem um sentimento muito Michael Jackson, também. Porém, isso é o que eu gosto nele. Posso dizer que é um jovem que compreende a composição.

Ebony: Você trabalha com esses jovens artistas?

MJ.: Claro. Se for uma grande canção, é uma grande canção. Muitas das idéias mais geniais vem das pessoas comuns, que simplesmente dizem: 'porque você não prova isso?'. Poderia ser grande, portanto você deve tentá-lo. Chris Brown é maravilhoso. Akon é um artista maravilhoso.

Sempre quero fazer música que inspire ou influencie outra geração. O que você cria tem que ter vida, seja uma escultura ou um quadro, ou música. Como disse Michelangelo, 'sei que o criador vai, mas seu trabalho sobreviverá. Por isso há de escapar da morte, eu tento unir minha alma a meu trabalho'. E assim é como me sinto. Dou tudo para meu trabalho.

Ebony: Como você se sente sabendo que mudou a história? Você pensa muito nisso?

MJ.: Sim, eu faço isso, realmente. Estou muito orgulhoso de ter aberto portas, isso ajudou a alcançar muitas coisas. Viajando ao redor do mundo, fazendo turnês, em estádios, você vê a influência da música. Quando se olha desde o cenário, até onde aonde a vista alcança, você vê as pessoas. E isso é um sentimento maravilhoso, mas chega com muita dor, com muita dor.

Ebony: Por que diz isso?

MJ.: Quando você está no mais alto nível de seu jogo, quando é um pioneiro, as pessoas vem até você. Está lá, quem está no topo, você quer alcançá-los... Mas me sinto agradecido, todos esses records superados, desde os maiores álbuns até todos esses números 1, e ainda sou agradecido. Eu era um garoto que sentava-se na sala de estar, ouvindo o pai tocar Ray Charles. Minha mãe costumava me acordar às 3 da manhã: 'Michael, ele está na TV, ele está na TV!' Eu corria e ali estava James Brown na televisão. Eu dizia: 'Isso é o que eu quero fazer'.

Ebony: Podemos esperar mais de Michael Jackson?

MJ.: Estou compondo muito material agora mesmo. Vou ao estúdio diariamente. Creio que agora é o  momento do rap. Quando saiu a princípio, sempre senti que ele tinha que tomar uma estrutura mais melódica para tornar-se  mais universal, porque nem todo o mundo fala inglês (risos). E você está limitado ao seu país.

Porém quando você tem uma melodia, e todo o mundo pode cantarolá-la, é quando chega à França, ao Oriente Médio, a todas as partes! Agora está em todo o mundo porque há melodia, uma estrutura linear. Você tem de ser capaz de cantarolar, desde um agricultor da Irlanda à senhora que limpa os banheiros no Harlem. Você tem de ser capaz de cantarolá-la.

Ebony: Então, você está quase aos 50 anos. Você crê que estará fazendo isto aos 80?

MJ: A verdade é que, hummm... não. Não da forma que fizeram James Brown e Jackie Wilson. Eles sempre saiam, correndo, matando-se. Em minha opinião, desejaria que ele (Brown) tivesse baixado o ritmo, relaxado e desfrutado de seu árduo trabalho.

Ebony: Você voltará a sair em turnê?

MJ.: Não quero turnês longas. Mas o que eu gosto das turnês é que elas unem a arte à beleza. Isso é o que eu gosto da Broadway, por isso os atores vão a Broadway, para polir suas habilidades. Assim se consegue. Porque leva anos para chegar a ser um grande artista. Anos. Você não pode simplesmente estar na obscuridão e lançar-se aí fora e esperar que esta pessoa venha a competir com outra pessoa. Não funcionará jamais. E o público sabe; podem vê-lo.

A forma como gesticulam suas mãos, o movimento do corpo, a forma como manuseiam o microfone, ou a forma em que se inclinam. Podem vê-lo diretamente. Por exemplo, Stevie Wonder é um profeta da música. É outra das pessoas as quais devo dar crédito. Sempre disse a mim mesmo: 'Tenho que compor mais'. Eu só via o (os produtores) Gamble, Huff, Hal Davis e The Corporation escrevendo todos esses êxitos para os Jackson 5 e realmente eu queria estudar a anatomia.

O que fazíamos era só cantar a canção quando a terminavam. Enfadava-me, pois eu queria vê-los fazerem a canção. Logo me deram ABC, quando estava pronta. Ou I Want You Back ou The Love You Save. Eu queria experimentar de tudo. Então Stevie Wonder me deixava sentar ali, como uma mosca na parede. Vi como compunha Songs In The Key Of Life, um de seus trabalhos dourados.

Sentava-me com Marvin Gaye e... E esse podia ser daqueles que ia a nossa casa jogar uma partida de basquetebol com meus irmãos durante o fim de semana. Sempre tínhamos essas pessoas ao redor. Assim, quando realmente você pode ver a ciência, a anatomia e a estrutura de como funciona tudo, é simplesmente maravilhoso.

Ebony: Então, você toca em um cenário musical. Como você vê a forma do mundo atual?

MJ.: Estou muito preocupado pelo grave impacto do fenômeno do aquecimento global. Eu sabia que chegaria, mas desejava que ele recebesse antes o interesse das pessoas. Mas nunca é tarde. Eu o descrevo como um trem desgovernado; se não o pararmos, ele não voltará atrás. Portanto é necessário pará-lo. Agora. Isso é o que eu tentava fazer com Earth Song, Heal The World, We Are The World, escrevendo essas canções para abrir a consciência das pessoas. Eu gostaria que eles escutassem cada palavra.

Ebony: Qual sua opinião sobre a nova corrida presidencial? Hillary, Barack?

MJ.: Vou dizer a verdade, não acompanho essas coisas. Fomos criados para não buscarmos qual homem ficará com os problemas do mundo, não o fazemos. Eles não podem. É como eu o vejo. Está acima de nós. Veja, não podemos controlar os mares, eles podem converter-se em tsunamis. Não podemos controlar os céus, aí estão os temporais. Estamos nas mãos de Deus. Creio que o homem deveria tomar isto em consideração.Só desejo que possam fazer mais pelos bebês e as crianças, ajudá-las mais. Isso seria genial, não?

Ebony: Falando em bebês, agora como pai, voltando 25 anos. Qual é a diferença entre aquele Michael e o Michael de hoje?

MJ.: Esse Michael é provavelmente o mesmo Michael que viu. Só queria primeiramente conseguir certas coisas. Mas sempre tive esse impulso em minha mente, as coisas que eu queria fazer, criar os meus filhos, ter filhos. Estou desfrutando muito.

Ebony: O que você pensa sobre tudo que dizem por aí sobre sua pessoa?

MJ.: Não presto atenção. Em minha opinião, é ignorância. Normalmente não está baseado em verdades. stá baseado em mitos. O cara que você não pode ver. Cada comunidade tem o tipo que não se pode ver, portanto você cria rumores sobre ele. Você ouve todas essas estórias sobre ele, há um mito sobre isso ou aquilo. As pessoas são doidas... Eu só quero fazer músicas maravilhosas.

Mas, voltando a Motown 25, uma das coisas que mais me comoveram foi depois de terminar a atuação. Estavam Marvin Gaye nas laterais, The Temptations, Smokey Robinson e meus irmãos, me abraçaram, me beijaram e me agarraram. Richard Pryor se aproximou e me disse (com a voz tranqüila): 'esta é a melhor atuação que já vi em minha vida'. Esse foi meu prêmio.

Essas eram as pessoas que eu costumava escutar, quando eu era criança em Indiana. Só escutava a Marvin Gaye, The Temptations, e tê-los me dando esse tipo de elogio, me senti honrado. Logo, no dia seguinte, Fred Astaire me chamou e disse: 'te vi a noite, e eu gravei, e voltarei a vê-lo nesta manhã. Você é um demônio de bailarino. Você atingiu em cheio no seu público ontem à noite!'

Mais tarde, quando vi Fred Astaire, ele me fez com os dedos (Michael imita com dois de seus dedos um moonwalk sobre a palma de sua outra mão). Recordo a atuação claramente, e me lembro que estava muito enfadado comigo mesmo porque não era o que eu queria. Eu queria fazer mais. Havia um garoto nos bastidores, vestido com um pequeno smoking, ele me olhou e me disse (com uma voz de assombro): 'quem te ensinou a mover-se assim?' (risos) E eu lhe disse: 'suponho que Deus... e os ensaios'.

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