O clássico texto de Charles Thomson:
''Um dos episódios mais vergonhosos da história do Jornalismo''
''Um dos episódios mais vergonhosos da história do Jornalismo''
No artigo abaixo - um dos melhores, por sinal, já escritos sobre o vergonhoso papel da jornalismo na vida de Michael Jackson - Charles Thomson simplesmente escancarou a mídia. Foi escrito quando se completou cinco anos do julgamento de Michael.
Nunca é demais ressaltar que enquanto Michael Jackson vivia sob escrutínio da mídia e público, aconteceram a Guerra do Iraque em 2003, o tsunami de dezembro de 2004, a morte do papa João Paulo II , o atentado terrorista em Londres e o furacão Katrina, todos em 2005.
Nenhum desses acontecimentos foi mais importante para as imprensas americana e britânica do que a obsessão em ver um homem inocente atrás das grades.
UM DOS EPISÓDIOS MAIS VERGONHOSOS DA HISTÓRIA DO JORNALISMO
'Hoje faz 5 anos que os 12 componentes do júri unanimamente inocentaram Michael Jackson das várias acusações de abuso sexual, conspiração e de oferecer bebida alcoólica para um menor de idade. É difícil saber como a história irá se lembrar do julgamento de Michael Jackson.
Talvez como o resumo do que é a obsessão ocidental por suas celebridades. Talvez como o linchamento do século 21. Pessoalmente, eu acho que este episódio será lembrado como um dos mais vergonhosos da história do jornalismo.
E é só quando nos encontramos procurando nos arquivos dos jornais e revendo horas de cobertura televisiva, que realmente compreendemos a magnitude das falhas da mídia. E isso aconteceu na indústria toda.
Sem dúvida, alguns repórteres e até algumas publicações e canais de TV favoreceram de forma excessiva a promotoria, mas muitas das deficiências da mídia eram institucionais. Em uma mídia obcecada por frases de impacto, como se pode reduzir 8 horas de testemunho em duas frases e continuar sendo preciso?
Sem dúvida, alguns repórteres e até algumas publicações e canais de TV favoreceram de forma excessiva a promotoria, mas muitas das deficiências da mídia eram institucionais. Em uma mídia obcecada por frases de impacto, como se pode reduzir 8 horas de testemunho em duas frases e continuar sendo preciso?
Em uma era de notícias imediatas e blogs instantâneos, como resistir à tentação de, na primeira oportunidade, sair correndo da sala de tribunal para divulgar as últimas notícias sobre as libertinas alegações, mesmo que isso signifique perder uma parte do testemunho do dia?
Analisando o julgamento de Michael Jackson, eu vejo uma mídia fora de controle. A quantidade de propagandas, vieses, distorções e informações erradas vai além da compreensão. Lendo as transcrições do tribunal e comparando-as com as edições dos jornais, o julgamento que foi retransmitido para nós não parece nem a lembrança do julgamento que realmente aconteceu dentro do tribunal.
As transcrições mostram uma promotoria promovendo um desfile enorme de puídas testemunhas cometendo perjúrios a toda hora e cedendo descaradamente ao interrogatório. Os jornais e a TV noticiam, dia a dia, acusações hediondas e lúgubres insinuações.
Era 18 de novembro de 2003, quando 70 policiais entraram no rancho Neverland, de Michael Jackson. Assim que a notícia da incursão foi divulgada, canais de TV abandonaram suas programações e começaram uma cobertura 24 horas.
Quando a notícia de que Jackson havia sido acusado de abuso sexual pelo jovem sobrevivente de câncer, Gavin Arvizo, o garoto que ficou famoso por segurar a mão do cantor no documentário de Martin Bashir - Living With Michael Jackson - surgiu, a mídia entrou em êxtase.
As emissoras ficaram tão obcecadas pelo "escândalo Jackson", que um ataque terrorista na Turquia quase não foi noticiado, com apenas a CNN se dando ao trabalho de transmitir a conferência de imprensa de George Bush e Tony Blair sobre o desastre.
As três maiores redes de TV dos EUA imediatamente começaram a transmitir especiais de uma hora a respeito do caso Jackson, aparentemente não dissuadidos pelo fato de que ainda não se sabia nada sobre as acusações e de que os promotores não estavam respondendo a perguntas.
A CBS dedicou um episódio de 48 horas sobre a prisão de Jackson, enquanto a NBC e a ABC também exibiam especiais sobre Jackson. Dois dias após a incursão a Neverland, e antes de Jackson ter sido preso, o VH1 anunciava um documentário de meia hora chamado O Escândalo Sexual de Michael Jackson.
O Daily Variety descrevia a história como sendo "uma dádiva para os meios de comunicação, principalmente os canais de TV a cabo e as emissoras locais que queriam ultrapassar a audiência de Nielsen."
O Daily Variety estava certo.
Todos os programas dedicados a celebridades se dedicaram apenas a história de Jackson. Os índices de audiência estavam 10% mais altos quando comparados à semana anterior. O Entertainment Tonight e o Extra Booth alcançaram a melhor audiência da temporada e o Celebrity Justice celebrou um aumento de 8%.
Os jornais reagiram de forma tão histérica quanto os canais de TV. A manchete Sicko! (mistura da palavra sick - doente em Inglês - e Jacko) encabeçava a edição do New York Daily News. "Jacko: Agora saia dessa!" exclamava o New York Post.
O The Sun - o maior jornal britânico - escreveu um artigo intitulado He's Bad, He's Dangerous, He's History (Ele é Mau, Ele é Perigoso, e Ele já era - expressão comum em Inglês).
O artigo divulgava Jackson como um "ex-negro" e um "ex-astro", uma "aberração" e um "indivíduo pervertido" e clamava para que seus filhos fossem tirados dele. "Se ele não fosse um pop star milionário" dizia, "ele já teria sido preso há muitos anos".
Encorajados pelos índices de audiência que o escândalo havia gerado, a mídia se dedicou a explorar o caso da forma que pôde.
Tom Sinclair, da Entertainment Weekly escreveu:
"A mídia, desde um repórter brega de tabloide até o âncora de jornal mais respeitado, está em êxtase, brigando para preencher cada pedaço das colunas de jornais e espaço de transmissão com furos e informantes do caso Jackson".
"A pressão sobre os jornalistas é enorme", o advogado Harland Braun disse e Sinclair rebateu:
"Então vocês, advogados, nunca viram o serpentear da televisão falando de casos com os quais não tem conexão alguma?"
E acrescentou:
"E não só os advogados, mas todos, desde médicos, escritores até vendedores de lojas estão fazendo número nas transmissões da TV e na impressão dos jornais."
Enquanto a mídia estava ocupada exibindo uma tropa de charlatões e "amigos distantes", que tinham a sua opinião a respeito do escândalo, o time de promotores por trás das investigações de Jackson estavam apresentando um comportamento bastante questionável - mas a mídia não parecia se importar.
Durante a incursão a Neverland, o advogado do distrito (DA), Tom Sneddon - o promotor que perseguiu Jackson em 1993, sem sucesso - e seus assistentes violaram os termos do seu próprio mandado de busca, entrando no escritório de Jackson e apreendendo uma série de documentos comerciais totalmente irrelevantes.
Eles também entraram ilegalmente no escritório de uma equipe de detetives particulares que estavam trabalhando na defesa de Jackson, e levaram documentos da defesa da casa do assistente pessoal do cantor. Sneddon também pareceu estar adulterando, com elementos fundamentais do seu caso, provas que surgiam para minimizar as alegações da família Arvizo.
Por exemplo, quando o DA descobriu duas fitas com uma entrevista na qual toda a família Arvizo defendia Jackson e negava qualquer abuso, ele apresentou a alegação de conspiração e disse que eles haviam sido forçados a mentir contra suas vontades.
Um outro exemplo: o advogado de Jackson, Mark Geragos apareceu na NBC em janeiro de 2004 e anunciou que o cantor tinha um álibi incontestável para as datas nas folhas de acusação; quando Jackson se apresentou novamente em abril para responder às acusações de conspiração, as datas do suposto “abuso” haviam sido mudadas para quase duas semanas depois.
Sneddon também foi pego tentando implantar impressões digitais contra Jackson, deixando Gavin Arvizo manusear revistas pornográficas durante as audições do grande júri, depois as colocando novamente nos sacos de provas e enviando para análise.
A mídia não só negligenciou esse comportamento questionável e ilegal por parte da promotoria, como pareceu mais do que feliz em perpetuar a propaganda danosa em nome do promotor, apesar da total falta de provas corroborativas.
Por exemplo, Diane Dimond apareceu no Larry King Live dias após a prisão de Jackson e falou repetidamente sobre uma “pilha de cartas de amor” que o astro teria supostamente escrito a Gavin Arvizo.
“E alguém aqui... sabe da existência dessas cartas?”, perguntou King.
“Claro”, disse Dimond, “Eu sei. Tenho pleno conhecimento da existência dessas cartas!”
“Diane, você as leu?”
“Não, eu não as li”.
Dimond admitiu que nunca havia visto as cartas, quanto mais tê-las lido, mas disse que sabia da existência delas através de “testemunhas muito confiáveis”. Mas essas cartas nunca se materializaram. Quando Dimond disse que tinha “pleno conhecimento” da existência das cartas, estava se baseando exclusivamente nas palavras de fontes da polícia.
“E alguém aqui... sabe da existência dessas cartas?”, perguntou King.
“Claro”, disse Dimond, “Eu sei. Tenho pleno conhecimento da existência dessas cartas!”
“Diane, você as leu?”
“Não, eu não as li”.
Dimond admitiu que nunca havia visto as cartas, quanto mais tê-las lido, mas disse que sabia da existência delas através de “testemunhas muito confiáveis”. Mas essas cartas nunca se materializaram. Quando Dimond disse que tinha “pleno conhecimento” da existência das cartas, estava se baseando exclusivamente nas palavras de fontes da polícia.
Na melhor das hipóteses, essas fontes estavam repetindo alegações dos Arvizos por boa vontade. Na pior das hipóteses, eles mesmos inventaram a história apenas para sujar o nome de Jackson. De qualquer forma, a história foi espalhada pelo mundo todo sem uma folha de prova que a confirmasse.
Se passou mais de um ano entre a prisão de Jackson e o início do seu julgamento e a mídia foi forçada a enfeitar a história o máximo que pôde durante este intervalo. Sabendo que Jackson estava silenciado por ordem judicial, e não poderia responder, os simpatizantes da promotoria começaram a vazar documentos, como o testemunho de Jordan Chandler, de 1993.
A mídia, com fome de escândalo e sensacionalismo, se banqueteou.
Ao mesmo tempo, alegações vendidas a shows de TV tabloidianos por ex-empregados descontentes, em 1990, foram constantemente confundidas e apresentadas como novas. Pequenos detalhes das alegações da família Arvizo também vazavam periodicamente.
Enquanto a maioria dos meios de comunicação divulgavam histórias como alegações ao invés de fatos, a quantidade e a frequência de histórias relacionando Jackson a abuso sexual, junto com sua incapacidade judicial de refutá-las, tiveram um efeito devastador na sua imagem pública.
O julgamento começou no início de 2005 com a seleção do júri. Quando Dimond foi questionada sobre as táticas de seleção dos jurados por parte da promotoria e da defesa, respondeu que a diferença era que a promotoria estava procurando jurados com um senso de “bem” versus “mal” e de “certo” versus “errado”.
Logo os jurados haviam sido escolhidos, a Newsweek já estava tentando menosprezá-los, alegando que uma classe de jurados de classe média não poderia julgar de forma justa uma família de classe baixa. Em um artigo chamado “Jogando com as Classes”, a revista disse:
“O julgamento de Jackson pode se desdobrar em algo mais além da classe. E nós estamos falando de provas.”
Assim que o julgamento começou, ficou imediatamente claro que o caso estava cheio de furos. As únicas “provas” da promotoria, uma pilha de material pornográfico heterossexual e alguns livros de arte. Thomas Mesereau escreveu:
“O esforço em culpar o Sr. Jackson de ter uma das maiores bibliotecas privadas do mundo é alarmante. Desde 75 anos atrás não se tem testemunhado uma promotoria que alegasse que a posse de livros por artistas conhecidos fosse prova de crimes contra o Estado!”
O irmão de Gavin Arvizo, Star, prestou testemunho no início do julgamento e disse que viu dois atos específicos de abuso, mas seu testemunho foi totalmente inconsistente. Sobre um ato específico, ele disse, no tribunal, que Jackson estava acariciando Gavin, mas em uma descrição anterior do mesmo incidente, ele contou uma história totalmente diferente, alegando que Jackson estava “esfregando o pênis nas nádegas de Gavin”. Ele também contou histórias diferentes sobre o outro referido ato em dois dias consecutivos de julgamento.
Durante o interrogatório, o advogado de Jackson, Thomas Mesereau, mostrou uma cópia da revista pornográfica Barely Legal, e perguntou repetidas vezes se aquela era a revista específica que Jackson havia mostrado a ele e seu irmão.
O menino insistiu que sim, era essa. Mesereau, então, revelou ao júri que a revista havia sido publicada em 2003, ou seja, 5 meses após a família Arvizo haver deixado Neverland.
Mas essa informação quase não foi divulgada, a mídia estava focada nas acusações do garoto ao invés do interrogatório que as desmentia. Alegações criam boas manchetes, interrogatórios complexos, não. Quando Gavin Arviso foi testemunhar, alegou que Jackson havia instigado o primeiro ato de abuso dizendo a ele que meninos tinham que se masturbar ou virariam estupradores.
Mas Mesereau o interrogou e mostrou que o menino havia admitido que quem disse isso foi sua avó e não Jackson, o que significava que toda a história do abuso estava baseada em uma mentira. Sob interrogatório, o garoto menosprezou severamente a teoria de conspiração da promotoria dizendo que nunca sentiu medo em Neverland e que ele não queria ter ido embora. Sua versão do alegado abuso também foi diferente da de seu irmão.
Infelizmente para Jackson, o interrogatório de Gavin Arvizo foi totalmente ignorado enquanto os jornais soltavam risinhos e fofocavam a respeito do que ficou conhecido “o dia do pijama”.
No primeiro dia do interrogatório do garoto, Jackson escorregou no chuveiro, machucou um pulmão e foi levado às pressas ao hospital. Quando o Juiz Rodney Melville ameaçou emitir um mandado de prisão para Jackson se ele não aparecesse em uma hora, o cantor correu para o tribunal vestindo as calças do pijama que estava usando quando foi levado ao hospital.
As fotos de Jackson vestindo pijamas percorreram o mundo, na maioria sem menção ao machucado de Jackson ou à razão de ele os estar usando. Muitos jornalistas acusaram Jackson de fingir tudo apenas para ganhar simpatia, embora a reação da mídia tenha sido tudo menos simpática.
O incidente não impediu que a mídia distribuísse as alegações de Gavin pelo mundo no dia seguinte. Alguns meios de comunicação expuseram o testemunho do garoto como fato e não conjectura.
“Ele disse que se garotos não fazem aquilo se transformam em estupradores – O Garoto do Câncer Gavin Conta no Tribunal como foi o Sexo com Jack” escreveu o The Mirror.
Mas o interrogatório do garoto era outra história. Quase não foi divulgado. Ao invés de histórias a respeito das mentiras de Gavin Arvizo e das alegações contraditórias dos dois irmãos, as páginas dos jornais estavam recheadas de reportagens a respeito dos pijamas de Jackson, apesar de o “dia do pijama” ter acontecido dias antes.
Milhares de palavras foram escritas questionando se Jackson estava ou não usando peruca. O The Sun escreveu um artigo atacando Jackson por causa dos acessórios que ele colocava nos ternos que usava a cada dia. Parecia que a imprensa queria escrever qualquer coisa para evitar ter que discutir o interrogatório do garoto, que menosprezou severamente o caso da promotoria.
Este hábito de relatar alegações lúgubres, mas ignorar os interrogatórios que as desacreditavam, se tornou uma constante durante o julgamento de Jackson. Em abril de 2005, em entrevista a Matt Drudge, o colunista Roger Freidman explicou:
“O que não foi divulgado é que o interrogatório destas testemunhas está sendo fatal para eles.”
Ele acrescentou que quando alguém dizia algo devasso ou dramático sobre Jackson, a mídia “saía correndo para fora do tribunal para divulgar” e acabava perdendo o interrogatório subsequente.
Drudge concordou e acrescentou:
“Você não ouvia como cada testemunha estava sendo massacrada no interrogatório. Não existe, até hoje, uma testemunha que não tenha admitido ter cometido perjúrio neste ou em qualquer outro caso.”
Este alarmante hábito da mídia de ignorar os interrogatórios ficou talvez mais aparente durante o testemunho de Kiki Fournier. Fournier, uma empregada de Neverland, testemunhou que, em Neverland, as crianças ficavam rebeldes e disse que havia visto crianças tão hiperativas que poderiam, facilmente, ter sido intoxicadas. A mídia correu para noticiar essa “bomba” e perdeu um dos pontos mais importantes de todo o julgamento.
Quando interrogada por Thomas Mesereau, Fournier disse que, durante as últimas semanas da estada da família Arvizo em Neverland – o período durante o qual o suposto abuso ocorreu – o quarto de hóspedes, aonde estavam os dois garotos, estava constantemente bagunçado, a levando a acreditar que eles estavam dormindo neste quarto o tempo inteiro – e não no quarto de Michael Jackson.
Ela também testemunhou que Star Arvizo, uma vez, apontou uma faca para ela na cozinha, explicando que ela sabia que não foi intencional, que achou que era uma brincadeira e que achava que ele estava “tentando estabelecer algum tipo de autoridade”.
O golpe fatal veio quando Fournier foi interrogada sobre a hilária teoria da conspiração da promotoria. Ela riu e disse que ninguém poderia ter sido mantido um prisioneiro em Neverland, dizendo ao júri que não existem cercas altas ao redor da propriedade e que a família poderia facilmente ter saído caminhando de lá a qualquer momento.
Quando Janet Arvizo, mãe de Gavin e Star, foi testemunhar, Tom Sneddon foi visto com a cabeça entre as mãos em sinal de desespero. Ela alegou que a fita de vídeo com ela e as crianças louvando Jackson havia sido ensaiada palavra por palavra por um alemão que mal falava Inglês.
Na fita ela aparece falando bem de Jackson e depois parece ficar com vergonha e pergunta se estava sendo filmada. Ela disse que isso também foi ensaiado. Ela disse que ficou refém em Neverland apesar de o registro de visitantes e recibos comprovarem que ela deixou o rancho e retornou em três ocasiões diferentes enquanto se encontrava em “cativeiro”.
Ficou aparente que ela estava sob investigação por fraude e que também estava falsamente recebendo dinheiro às custas da doença do filho, recebendo benefícios para pagar pelo seu tratamento do câncer mesmo tendo seguro.
Até os mais fervorosos simpatizantes da promotoria tiveram que admitir que Janet Arvizo foi uma testemunha desastrosa para o Estado. Exceto Diane Dimond que, em março de 2005, pareceu usar a fraude de Janet Arvizo (que foi condenada durante o julgamento de Jackson) como prova da culpa de Jackson, assinando um artigo do New York Post com o título “Pedófilos não Desejam os Filhos de Ozzie ou Harriet”.
Ao ver o caso desmoronar perante seus olhos, a promotoria pediu permissão ao juiz para inserir provas de “atos de má-fé prévios”. A permissão foi concedida. A promotoria disse ao júri que eles iam ouvir testemunhos de outras 5 vítimas antigas. Mas estes outros casos acabaram se tornando ainda mais risíveis do que as alegações dos Arvizo.
Começou um novo desfile de seguranças desgostosos e empregadas domésticas no banco de testemunhas alegando que haviam visto abuso de outros 3 garotos: Wade Robson, Brett Barnes e Macauley Culkin. Mas estes 3 garotos foram as 3 primeiras testemunhas da defesa, cada um testemunhando que Jackson nunca havia os tocado e dizendo que estavam ressentidos com a insinuação.
Além disso, foi revelado que cada um dos empregados foram despedidos por Jackson, por roubo na sua propriedade ou haviam perdido algum processo trabalhista e estavam devendo a Jackson grandes quantias em dinheiro.
Eles também se negaram a dizer à polícia quando que haviam supostamente testemunhado os abusos, mesmo quando questionados a respeito das acusações de Jordan Chandler de 1993, mas que subsequentemente haviam tentado vender as histórias à imprensa – algumas vezes, com sucesso. Quanto mais dinheiro estava em jogo, mais libertinas eram as acusações.
Roger Friedman reclamou em uma entrevista a Matt Drudge, dizendo que a mídia estava ignorando os interrogatórios das testemunhas dos casos anteriores, resultando em relatórios distorcidos. Ele disse:
“No início da quinta-feira, a primeira hora foi com esse cara, Ralph Chacon, que trabalhou no rancho como segurança. Ele contou as histórias mais absurdas. Era tudo tão explícito. E, é claro, todos correram para fora para noticiar. Mas 10 minutos antes do intervalo, quando Mesereau o interrogou, ele acabou com o cara.”
A quarta “vítima”, Jason Francia, testemunhou e disse que, quando era criança, Jackson o molestou em 3 ocasiões diferentes. Quando pressionado a respeito de detalhes a respeito do “abuso”, ele disse que Jackson fez cócegas nele, por fora das roupas, três vezes e que ele precisou de anos de terapia para se recuperar.
O júri revirou os olhos, mas repórteres, incluindo Dan Abrams, alardearam ele como convincente e previram que seria esta a testemunha que colocaria Jackson na cadeia. A mídia declarou repetidamente que as alegações de Francia foram feitas em 1990, fazendo com que o público acreditasse que as alegações de Jordan Chandler haviam ocorrido nessa época.
Na atualidade, Jason Francia disse que o abuso ocorreu em 1990, mas que ele não disse nada até a mídia divulgar as acusações de Chandler. Nesse momento, sua mãe, empregada de Neverland, Blanca Francia, conseguiu 200 mil dólares do programa Hard Copy por uma entrevista a Diane Dimond e mais 2,4 milhões de dólares por um acordo com Jackson.
Transcrições da polícia mostraram que Francia mudou repetidamente sua história e que originalmente havia insistido que nunca havia sido molestado. Transcrições também mostraram que ele só havia dito que foi molestado após a polícia insistentemente perguntar durante interrogatórios. Policiais frequentemente se referiram a Jackson como “molestador”.
Em uma ocasião, eles disseram ao garoto que Jackson estava molestando Macauley Culkin naquele momento, dizendo que a única forma que eles tinham de resgatar Culkin era se Francia dissesse que havia sido molestado pelo astro. As transcrições também mostraram que Francia havia previamente dito para a polícia:
“Eles me fizeram inventar um monte de coisa. Eles ficavam insistindo. Eu queria dar um tapa na cabeça deles.”
A quinta “vítima” era Jordan Chandler, que fugiu do país para não testemunhar contra seu antigo amigo. Thomas Mesereau disse, em um discurso em Harvard ano passado:
“A promotoria tentou fazer com que ele aparecesse, mas ele não o fez. Se ele tivesse aparecido, eu tinha testemunhas que afirmavam que ele havia lhes dito que nada havia acontecido e que ele nunca mais falou com os pais de novo pelo que eles o forçaram a dizer. Ele chegou a ir a um tribunal e conseguiu emancipação legal dos pais.”
June Chandler, mãe de Jordan, testemunhou que não falava com o filho há 11 anos. Quando questionada sobre as acusações de 1993, ela pareceu sofrer de uma severa perda de memória seletiva. Em um momento ela disse que não se lembrava de ter sido processada por Michael Jackson e em outro momento, disse que não soube mais nada do seu advogado. Ela também disse que não testemunhou nenhum abuso.
“Eles me fizeram inventar um monte de coisa. Eles ficavam insistindo. Eu queria dar um tapa na cabeça deles.”
A quinta “vítima” era Jordan Chandler, que fugiu do país para não testemunhar contra seu antigo amigo. Thomas Mesereau disse, em um discurso em Harvard ano passado:
“A promotoria tentou fazer com que ele aparecesse, mas ele não o fez. Se ele tivesse aparecido, eu tinha testemunhas que afirmavam que ele havia lhes dito que nada havia acontecido e que ele nunca mais falou com os pais de novo pelo que eles o forçaram a dizer. Ele chegou a ir a um tribunal e conseguiu emancipação legal dos pais.”
June Chandler, mãe de Jordan, testemunhou que não falava com o filho há 11 anos. Quando questionada sobre as acusações de 1993, ela pareceu sofrer de uma severa perda de memória seletiva. Em um momento ela disse que não se lembrava de ter sido processada por Michael Jackson e em outro momento, disse que não soube mais nada do seu advogado. Ela também disse que não testemunhou nenhum abuso.
Quando a promotoria encerrou, a mídia perdeu o interesse no julgamento. A defesa recebeu comparativamente menos espaço nos jornais e nas transmissões. O Hollywood Reporter, que estava reportando todo o julgamento, perdeu duas semanas inteiras do caso da defesa. A atitude parecia ser que, se o testemunho não contivesse relatos pesados e devassos – ou seja, se não gerasse uma boa manchete – não valia a pena noticiar.
A defesa chamou inúmeras testemunhas fantásticas:
- garotos e garotas que haviam ficado com Jackson algum tempo e que também não haviam testemunhado nenhum comportamento inapropriado;
- empregados que haviam testemunhado os irmãos Arvizo se servindo de bebidas alcoólicas quando Jackson estava ausente e celebridades que também foram alvo de tentativa de extorsão pelo acusador.
Mas poucos destes testemunhos foram repassados ao público. Quando o DA Tom Sneddon chamou o ator cômico e negro, Chris Tucker, de “menino” durante seu interrogatório, a mídia não deu um pio.
Quando ambos os lados haviam encerrado, foi dito ao júri que se estivessem com qualquer dúvida razoável, eles teriam que absolver. Qualquer um que estivesse prestando atenção aos procedimentos poderia ver que as dúvidas já estavam muito além do razoável!
Quase toda testemunha da promotoria havia ou cometido perjúrio ou ajudado a defesa. Não havia uma partícula de prova que ligasse Jackson a qualquer um dos crimes e também não havia nenhuma testemunha confiável que o ligasse aos crimes.
Mas isso não impediu os jornalistas e especialistas, liderados por Nancy Grace, da CNN, de preverem vereditos de culpado. O advogado de defesa, Robert Shapiro, que havia representado a família Chandler, afirmou com certeza a CNN:
“Ele vai ser condenado.”
Wendy Murphy, ex-promotor, disse à Fox News:
“Não há dúvida de que veremos uma condenação hoje.”
A histeria dos fãs fora do tribunal podia ser comparada a dos repórteres que estavam dentro do tribunal, que estavam tão excitados que o Juiz Rodney Melville teve que mandá-lo se conter. Thomas Mesereau comentou depois que a imprensa estava “quase salivando diante da possibilidade de ver (Jackson) sendo levado para a cadeia”.
"Quando o júri entregou 12 vereditos de 'inocente', a mídia foi 'humilhada', disse Mesereau em uma entrevista subsequente.
O analista de mídia Tim Rutten comentou:
“Então, o que aconteceu quando Jackson foi inocentado que todas as acusações? Rostos vermelhos? Dúvidas? Um pouco de auto-análise, talvez? Talvez alguma expressão de arrependimento pelo julgamento prematuro?
Nãããããããooooo.
A reação foi raiva misturada com desprezo e uma expressão de confusão. O alvo agora eram os jurados. O inferno não conhece a fúria de um âncora de TV a cabo desprezado.
Em uma conferência pós-veredito, Sneddon continuou a se referir a Gavin Arvizo como “vítima” e disse suspeitar que o “fator celebridade” havia nublado o julgamento dos jurados – uma frase que muitos especialistas da mídia acharam apropriada quando sentaram para menosprezar os jurados e seus vereditos.
Em uma conferência pós-veredito, Sneddon continuou a se referir a Gavin Arvizo como “vítima” e disse suspeitar que o “fator celebridade” havia nublado o julgamento dos jurados – uma frase que muitos especialistas da mídia acharam apropriada quando sentaram para menosprezar os jurados e seus vereditos.
Minutos após o veredito ser anunciado, Nancy Grace apareceu na TV para articular que os jurados haviam sido seduzidos pela fama de Jackson e afirmou, bizarramente, que o único elo fraco da promotoria havia sido Janet Arvizo.
“Eu vou comer um sanduíche de corvo agora”, ela disse.
“Não tem um gosto muito bom. Mas quer saber? Também não estou surpresa. Eu achava que a celebridade era um grande fator. Quando você acha que conhece alguém, quando você assistiu aos seus shows, ouviu seus discos, ouviu as letras, achando que elas estavam vindo do coração de alguém... Jackson é muito carismático, apesar de não ter testemunhado. Isso afeta o júri.”
“Eu não vou atirar pedras na mãe (Janet Arvizo), apesar de achar que ela foi o elo fraco no caso do Estado, mas a realidade é que não estou surpresa. Eu achei que o júri votaria a favor e testemunhas similares. Aparentemente a defesa os confundiu com o interrogatório da mãe. Acho que no fundo foi isso, claro e simples.”
Grace falou mais tarde que Jackson “não era culpado devido ao fator celebridade” e foi vista tentando fazer com que o presidente dos jurados Paul Rodriguez dissesse que acreditava que Jackson fosse culpado. Um dos convidados de Grace, a psicanalista Bethany Marshall, nivelou os ataques a uma jurada dizendo “Essa mulher não tem vida”.
Na Fox News, Wendy Murphy apelidou Jackson de abusador Teflon e disse que os jurados precisavam de testes de QI. Depois comentou:
“Eu realmente acho que foi o fator celebridade, não as provas. Acho que nem os jurados entendem o quanto foram influenciados por quem Michael Jackson é... Eles basicamente colocaram alvos nas costas de todas, especialmente as mais vulneráveis, crianças que ainda irão entrar na vida de Michael Jackson.”
O analista legal Jeffrey Tobbin disse a CNN que achou que os testemunhos das vítimas dos “crimes anteriores” eram “provas conclusivas”, apesar de vários dos garotos haverem testemunhado em defesa e negaram terem sido molestados.
Ele também disse que a defesa ganhou porque eles “conseguiram contar uma história, e nós sabemos que o júri entende uma história melhor do que fatos individuais.”
Apenas Robert Shapiro teve a dignidade de encarar o veredito, dizendo ao público que eles deveriam aceitar a decisão do júri porque estes eram de uma “parte muito conservadora da Califórnia e se eles não tinham dúvidas, então nós também não deveríamos ter”.
No dia seguinte, no Good Morning America, Diane Sawyer manteve a ideia de que o veredito havia sido influenciado pelo status de celebridade de Jackson.
“Vocês têm certeza?” ela invocou.
“Vocês têm certeza de que este homem mundialmente famoso entrando na sala não influenciou em nada?”
The Washington Post comentou:
“Um veredito de inocente não limpa o nome dele, só suja a água.”
Ambos, New York Post e New York Daily News copiaram suas manchetes:
Boy, Oh Boy!
Em seu último artigo sobre o julgamento, no New York Post, Diane Dimond lamentou o veredito de inocente dizendo que isso deixou Michael Jackson intocável. Ela escreveu:
“Ele saiu do tribunal como um homem livre, inocente de todas as alegações. Mas Michael Jackson é muito mais do que um homem livre. Ele tem agora carta branca para viver sua vida da forma como quiser, com quem ele quiser, porque... quem tentaria processar Michael Jackson agora?”
No jornal Britain's Sun, a fofoqueira das celebridades Jane Moore escreveu um artigo com o título:
“Se o júri concordou que Janet Arvizo é uma péssima mãe (e ela É)... Como podem ter deixado Jackson livre?”
Começou assim:
“Michael Jackson é inocente. A justiça foi feita. Ou isso é o que os lunáticos que se juntaram do lado de fora do tribunal querem que acreditemos.”
Ela seguiu questionando a capacidade mental dos jurados e repudiou o sistema judicial americano como imaturo:
“Nada nem ninguém realmente sai vencedor em uma bagunça dessas”, e terminou “muito menos o que eles, risivelmente, chamam de justiça americana”.
Ally Ross, do The Sun, desrespeitou os fãs de Jackson os pintando como “palhaços tristes e solitários”. Outro artigo do Sun, escrito pela apresentadora de TV Lorraine Kelly, intitulado “Não Esqueçam que as Crianças ainda Correm Risco... Jacko está Solto”, rotulou Jackson como um homem culpado.
Kelly – que nunca foi ao julgamento de Jackson – lamentou o fato de Jackson “ter se safado”, reclamando que “ao invés de apodrecer na cadeia, Jackson agora está de novo em Neverland”. “Jackson”, ela concluiu, “é um perdedor doente e triste que usa sua fama e dinheiro para deslumbrar os pais das crianças que ele quer.”
Depois do ataque inicial, a história de Michael Jackson saiu das manchetes. Houve pouca análise dos vereditos de inocente e como eles haviam sido decididos. Uma absolvição foi considerada menos lucrativa do que uma condenação.
Realmente, Mesereau disse nos últimos anos que, se Jackson tivesse sido condenado, isso teria gerado uma fábrica de histórias para a mídia durante anos:
- Verdadeiras sagas seriam criadas em torno da custódia das crianças;
- controle sobre o seu império;
- outras “vítimas” iriam prestar queixas e uma longa estrada de processos e apelações geraria milhares de histórias durante meses, anos, talvez décadas.
- a prisão de Jackson geraria um suprimento inesgotável de manchetes:
“Quem o está visitando?
"Quem não está?"
"Ele está na solitária?"
"Se não está, quem são seus companheiros de cela?"
"Será que ele tem uma namorada por correspondência? "
"Podemos voar com um helicóptero sobre a prisão e filmá-lo se exercitando?”
As possibilidades eram infinitas. Uma verdadeira guerra sobre quem conseguiria as primeiras imagens de Jackson na sua cela havia começado muito antes de o júri se preparar a deliberar.
Uma absolvição não era tão lucrativa. Em uma entrevista a Newsweek, o chefe da CNN Jonathan Klein disse que enquanto assistia aos vereditos de inocente, falou aos seus assistentes:
“A história agora não é mais tão interessante”.
A história havia acabado.
Não se desculparam, nem se retrataram.
Ninguém foi responsabilizado pelo que foi feito a Michael Jackson. A mídia estava contente em deixar as pessoas continuarem acreditando na sua distorcida e fictícia versão do julgamento. E era isso!
Quando Michael Jackson morreu a mídia entrou em êxtase novamente:
"Que drogas o mataram?"
"Há quanto tempo ele as estava tomando?"
"Quem as prescreveu?"
"O que mais havia no seu organismo?"
"Quanto ele estava pesando?"
Mas uma pergunta ninguém fez:
"Por quê?"
"Porque Michael Jackson estava tão estressado que não conseguia nem ter uma noite de sono decente a menos que alguém injetasse um anestésico no seu braço?"
Eu acho que a resposta está nas diversas pesquisas feitas durante o julgamento de Jackson.
Uma pesquisa da Gallup realizada horas após o veredito mostrou que:
- 54% dos americanos brancos e 48% da população em geral discordava da absolvição do júri;
- 62% das pessoas achavam que o “fator celebridade” havia influenciado nos vereditos;
- 34% disse que estava “triste” com o veredito e 24% disse que se sentia ultrajado.
A pesquisa da Fox News revelou que:
- 37% dos votantes dizendo que o veredito estava errado;
- mais 25% dizia que “a celebridade compra a justiça”.
Uma pesquisa da People Weekly revelou que:
- 88% (!!!!) dos leitores discordava da decisão do júri.
Após lutar em um terrível e exaustivo julgamento, crivado de acusações inescrupulosas e com o caráter questionado, Michael Jackson deveria ter se sentido vingado quando o júri despejou 14 unânimes vereditos de “inocente”.
Mas a cobertura irresponsável da mídia tornou impossível para Jackson se sentir realmente vingado. O sistema judicial o declarou inocente, mas o público, como um todo, ainda pensava o contrário. Alegações que foram desmentidas no tribunal, permaneceram inquestionáveis na imprensa. Testemunhos duvidosos foram apresentados com fatos. O caso da defesa foi simplesmente ignorado.
Quando questionado sobre aqueles que duvidavam, o júri respondeu:
“Eles não viram o que nós vimos.”
Eles estão certos. Nós não vimos. Mas nós deveríamos ter visto. E aqueles que se recusaram a nos dizer continuam com seus empregos sem punição e livres para fazer exatamente a mesma coisa com qualquer outra pessoa. Isso é o que eu chamo de injustiça!'
COMENTÁRIO
Esse texto, que pode ser considerado como PERFEITO, trouxe um esboço do que aconteceu com Michael Jackson porque o que fizeram a ele foi muito além do que está relatado aí em cima.
CONSPIRAÇÃO
LINCHAMENTO
HUMILHAÇÃO
CRUELDADE
MONSTRUOSIDADE
Chamar Michael de ex-negro não foi o ápice do desrespeito.
O ABUSO MIDIÁTICO, onde TUDO é permitido quando o nome é Michael Jackson continuou a todo vapor.
Créditos: A tradução do texto e os comentários que o completam são de autoria da Wendy, do blog Michael Jackson é Inocente
Fonte: http://www.huffingtonpost.com