Depoimento de Pharrell Williams (01)


“A coisa mais importante que tenho a dizer sobre Michael Jackson é que ele era incrivelmente culto. Um cara super inteligente que mudou os padrões do entretenimento. Minha primeira memória dele é de eu estar em frente da TV, quando criança vendo ele performar. Eu ficava o mais próximo que podia da tela, totalmente hipnotizado.

Era a música Let’s Dance Let’s Shout e lá estava eu, grudado na televisão. Era uma experiencia fenomenal só vê-lo se apresentar. De lá em diante, ele reinventou o padrão do que é ser um artista. Não consigo pensar em nada que tivesse visto antes daquilo, ou depois, que pelo menos, chegue perto do que ele fazia, musicalmente e visualmente.

Dito isso, àquela idade, nunca tinha pensado em fazer música, inspirado em Michael. Eu nem pensava em fazer música. Nem era uma opção pensar nisso. Eu morava nos subúrbios de Virginia – não era um costume pensar em algo do tipo. 

Lá você pensava que música era mágica, arte era mágica e filmes eram mágicos, mas não tinha nada ali que cultivava essa mágica, para mostrar que aquilo era possível em sua vida. Havia isto no Michael e era maravilhoso. O que ele fazia, parecia uma mágica impossível. Ele era sempre algo totalmente especial.

É claro que, naquele época, eu não pensava em música como objetivo de vida. Era o que era. Não passava pela minha cabeça pensar em MJ e compará-lo com outro artista daquele tempo; era apenas uma coisa tácita, indiscutível que ele é inerentemente diferente, e algo que você não poderia perder. 

Ele era o único artista que me chamava atenção na época em que Thriller foi lançado, em 1982, quando eu tinha nove anos. Naquela época não havia dúvidas: você queria parecer com ele, se vestir como ele, e ter a habilidade de dançar que nem ele. 

Não que ele já não tivesse impressionado antes. Para mim, o look de Off The Wall era sensacional também: o terno, a gravata borboleta e o afro. Aquilo que era estilo. Ele sempre teve um ótimo senso fashion.

Assim que ele deixou o Jackson Five, ele realmente começou a se expressar; indo a lugares como Studio 54, conhecendo gente, trabalhando para afiar os detalhes que aperfeiçoaram seu talento. Michael estava estudando Walt Disney, desenvolvendo seu amor por animação, filmes antigos e livros interessantes, o que evoluiu tremendamente seu estilo, com o passar do tempo.

MJ definitivamente criou sua própria linguagem na moda. Ele nunca usava nada errado e literalmente declarava algo, toda vez que se vestia. Eu poderia decodificar ou decifrar? Não. O que estou tentando dizer é, ele não fazia as coisas do nada. 

Tudo que ele usava e fazia, era calculado. Sabia a reação que conseguiria e estava fazendo declarações intrigantes com tudo isso. Eu não consigo dizer o que ele estava pensando. 

Não posso dizer que alguma vez me esforcei em seguir o estilo de Michael. Eu usei Ray-Ban Wayfarers também, por exemplo, mas apenas por causa da sua forma icônica. Eles eram legais. Eles são o que os franceses chamariam de baba-cool, um termo fashion usado nos anos 60 que se considera ser a tradução de boemia. 

Mas isso é o que significa para mim e não para MJ. Ele era um cara especial. Éramos camaradas. Tivemos algumas conversas, uma quando o visitei em sua casa e outra quando ele me entrevistou anos atrás para uma matéria de uma revista. 

Ele era o mais talentoso, interessante, perturbado e iluminado ser humano que eu já topei e, de fato, tive a sorte de encontrar, em primeira mão. Mas ele era tão enigmático. Não poderia te dizer o que os óculos simbolizavam para Michael, porque ele construiu barreiras incríveis, parâmetros impenetráveis que preveniam uma compreensão mais profunda.

O que posso dizer sobre o estilo do Michael é que não é nada literal, mas era apenas a atitude dele. Eu vejo o senso de liberdade fashion que ele tinha. Ele era um homem que se sentia à vontade em ser ele mesmo e se expressar. Esse é um valor que me inspiro e atribuo isso a ele. Em termos de seu estilo pessoal, ele definitivamente fez sua assinatura.

Você tem que saber o que está fazendo quando está falando de Michael Jackson e seu gosto pela moda. Não sei se correspondi bem. Mas, no entanto, eu diria que eu arranquei uma página do livro dele, quando se trata de “marchar conforme a batida da sua própria percussão”. 

É fácil se sentir ímpar quando folheamos uma revista qualquer, vemos que todo mundo realmente se veste como todo mundo. A atitude de definir você mesmo desse jeito é raro: recusando-se a ceder aos que criticam e obstinadamente fazer seu próprio negócio, não se importando com o que dizem. Era isso que Michael era, e que seu estilo era. É algo que eu realmente respeito.”

Pharrell Williams (Produtor musical, cantor, compositor e estilista estadunidense)

Fonte: http://pharrellwilliams.wordpress.com