Conversas Privadas em Neverland... (03)


''Ao entrar pela porta da frente, a primeira coisa que notei foi um aroma adorável no ar e eu supunha que viesse de uma tigela com potpourri que estava em uma mesa à esquerda de uma porta.

A segunda coisa que notei foi que eu estava cercado por uma tranquila música clássica. O sistema foi cuidadosamente projetado de modo que parecesse que a música estava no ar sem nenhum alto-falante visível em nenhuma parte.

Na porta à esquerda que dava para a sala de jantar havia um manequim em tamanho real vestido como um mordomo inglês com o braço estendido e na palma de sua mão havia uma bandeja de biscoitos frescos e recém-assados.

À minha esquerda, através de um corredor, estava o que soube mais tarde que era o quarto de Michael. À minha direita, um pouco mais adiante havia uma escada com corrimão de carvalho esculpido que levava ao segundo andar.

Na parede oposta â escadaria, estava pendurada uma grande pintura que mostra Michael sentado em um leito de flores. com uma longa fila de crianças a segui-lo e rodeando-o. Havia várias pinturas similares pela casa, todos do mesmo artista, com um estilo inconfundível. Eu me senti como se estivesse passeando por um museu.

Michael, Prince e Paris lideraram o caminho para a sala de jantar, onde Michael sentou-se à cabeceira da mesa. Mason sentou-se à direita de Michael, Prince à esquerda, eu me sentei ao lado de Mason e de frente à Paris, a qual passava pouco tempo em sua cadeira, preferindo sentar-se no colo de Michael. 

Em seguida, uma mulher veio da cozinha com uma bandeja onde havia toalhas de mão perfumadas para nos limparmos antes do jantar. Nos deram um menu para cada um de nós - com silhuetas de crianças saltando na grama - feito especialmente para aquela noite. 

Lembro-me muito daquela noite. Apesar de um novo menu ser impresso diariamente, os pratos não mudaram muito nos jantares seguintes, em relação ao primeiro.

Sempre havia cachorros-quentes, hambúrgueres, palitos de peixe e de frango e chimichangas* [tortilhas mexicanas - nota do blog]. Os pratos vinham guarnecidos com vagens, milho ou cenouras.

Naquela noite, eu escolhi chimichangas e Mason e Prince comeram cachorros-quentes. Eu não me lembro muito de Paris comer qualquer coisa, o tempo todo sentada junto de Michael. Michael pegou palitos de peixe com ervilhas e milho.

Enquanto estávamos jantando, Michael e eu estávamos conversando e Prince, que estava ouvindo a nossa conversa, disse: "Ei, Barney, você sabe que depois do jantar nós estamos indo para a sala de jogos?''

Antes que eu pudesse responder, Michael disse: "Prince, o que foi que você fez?" e Prince, parecendo primeiro confuso, virou-se para Michael e disse com um sorriso: ". Ah, sim, eu me intrometi."

E Michael disse: "Exatamente, e agora o quê?''

Agora, Prínce ainda sorrindo e orgulhoso por ter respondido bem à pergunta, virou-se para mim e disse:

"Desculpe-me, eu me intrometi, Barney.''

Eu lhe disse que o pedido de desculpas foi aceito e que falaria com ele em um minuto. Voltando-se para mim, Michael me disse: "Está animado porque estamos indo para a sala de jogo esta noite."

Depois Michael disse-me que a sala lhes era restrita, exceto para ocasiões especiais e disse: "Se eu não fizer assim, logo se entediam e não a verão como algo especial. Não quero que lhe deem como certa.''

Todos os copos sobre a mesa estavam com o que pareciam ser cubos de gelo, mas eles eram de plástico com luzes vermelhas e azuis em seu interior. Michael estava muito orgulhoso deles e nós fomos os primeiros a usá-los. Qualquer outra bebida que você pudesse querer ou pudesse imaginar, você poderia encontrar na cozinha.

Lembro-me que Michael tomou suco de maçã Martinelli. Como quase sempre, para o jantar. Eu nunca o vi beber chá ou café. Nem tampouco o vi beber cerveja, vinho ou outra bebida alcoólica.

Michael estava vestido com as mesmas roupas que usara para a minha consulta. Para outros jantares no rancho seu traje não diferiu muito daquela noite. A maioria de suas roupas era de sua própria criação, mas qualquer coisa que colocasse lhe cairia bem.

A sala de jogos

Depois do jantar, a sobremesa foi servida na sala de jogos logo atrás da casa. Eu tinha estado naquela construção há muitos anos atrás, logo depois que a casa foi construída por um amigo da família, chamado Bill Bone. Foi construída entre a piscina e o campo de tênis.

Quando eu vi a quadra de tênis, me lembrei de ter jogado lá há alguns anos. Ao entrar na sala, eu vi que havia um segundo andar, o qual eu não me lembrava de ter visto antes. Na verdade, a única coisa que eu reconheci foi a escada que leva para baixo, para o que era então uma adega bem abastecida.

Agora, cada tipo de vídeo game que vocês podem imaginar ocupava cada centímetro de espaço dentro da casa. Havia máquinas de pinball, uma cabine de fotos e até mesmo uma daquelas máquinas para gravar moedas. 

Soava música rock em todas as máquinas e o barulho no local era tal que você tinha que gritar para falar com alguém ao seu lado. Lembro-me de pensar que a conta de energia elétrica devia ser enorme.

Havia um grande jogo de vídeo, no qual de fato subímos, que ocupava o espaço que tinha sido a entrada do campo de tênis. Uma vez dentro do jogo, era como se fosse um piloto de caça em uma cabine da aeronave.

Quando você colocava seu cinto e a porta se fechasse, havia uma tela na minha frente na qual eu poderia visualizar os aviões inimigos em voo.

Se você virasse o volante para a esquerda ou direita, todo o aparelho fazia o mesmo. Se você se jogasse para trás, a máquina inteira girava e te colocava para trás, de modo que um pouco mais e teria dado a volta inteira!

Tão divertido como parecia ser, te deixava tão desorientado que me fez sentir um pouco mal e tive que parar e sair. Eu disse para Mason que o experimentasse, mas eu acho que era um pouco intimidador para ele porque se recusou.

Havia um bar em uma das paredes que servia sorvete de chocolate, baunilha e uma mistura dos dois sabores, se quisesse. Também um refrigerador com portas de vidro para poder se ver no interior. Havia todos os tipos de sorvete, Eskimo Pies, Big Stcks e Haagen Dazs. Perto dele estava um balcão com frente de vidro, atrás do qual estavam todos os tipos de presentes que você pode imaginar.

Fomos todos de um lado para o outro experimentando diferentes jogos.

Lembro-me de ter olhado para Michael em um determinado momento em que a música estava tocando em alto volume e ele estava fazendo o moonwalk e dançando como se fosse a única pessoa na sala. Ele não estava se exibindo, apenas apreciando a música. Seria a única vez que o vi fazer isso.

Em futuras visitas lhe pedi em diferentes ocasiões para me mostrar como ele fazia isso, mas sempre tinha uma desculpa para não fazê-lo [os sapatos não eram adequados, seus pés estavam doendo, o piso era era impróprio, etc]. No final eu me dei conta de que provavelmente lhe haviam pedido para fazer isso demasiadas vezes.

Uma vez eu lhe perguntei o que aconteceria se fizesse o contrário e ele me perguntou: ''O que você quer dizer?"

Eu disse: "Bem, quando você faz o moonwalk parece que você está tentando andar para trás em uma esteira rolante do aeroporto, indo no sentido oposto. E se você tentar fazer o contrário... o que pareceria se você tentasse andar ao contrário? Pareceria que você está andando para trás em uma esteira indo para a frente.''

Michael pensou por um minuto e disse:"Eu não sei. Vou ter que pensar sobre isso."

Eu nunca perguntei a ele se o havia tentado alguma vez.

Acho que a única razão pela qual eu pedi para ele me ensinar o moonwalk tantas vezes foi porque Michael era famoso por este movimento. Apesar de nunca ter concordado em fazê-lo, tenho algo a acrescentar à história.

Em uma de nossas conversas o tema ressurgiu e lhe perguntei:

''Como é que surgiu o moonwalk para você? Você estava trabalhando em movimentos de dança e teve alguma faísca que fez você pensar sobre isso?''

Ele sorriu e me olhou de frente, dizendo: "Você realmente acha que eu o criei?"

Eu sorri de volta e disse: "Claro, eu sempre imaginei, porque eu nunca vi ninguém fazer isso."

Michael disse: "Bem, eu nunca o fiz até que um dia na cidade de New York. Eu estava sentado na parte de trás de uma limusine, olhando pela janela. Nós estávamos em uma rua quando vimos alguns caras dançando e girando e foi aí que eu vi. Um deles estava fazendo o moonwalk. Eu tive que sair e vê-lo de perto, então eu disse ao motorista para parar e recuar. Eu saí e atravessei a rua até a esquina e pedi-lhe para mostrar-me como ele fazia isso e ele o fez. Eu não posso me dar o crédito por isso. Foi este grupo de crianças que me ensinou. Depois eu tentei no palco e a multidão foi à loucura, e assim eu continuei a fazê-lo como parte do show."

Quando eu lembro-me da história que Michael contou-me, eu não posso deixar de sorrir enquanto eu penso naqueles meninos; no que deve ter sido para aqueles meninos quando Michael Jackson se aproximou deles na rua, dessa maneira. Provavelmente eles ainda contam essa história.''

William B. Van Valin 
*Médico e amigo de Michael Jackson, em seu livro Conversas Privadas em Neverland com Michael Jackson.

Fonte: Fórum MJHideout