Entrevista com Lisa Robinson (10)


Los Angeles, 15 de fevereiro de 1985: A Victory Tour dos Jacksons

''Michael viajou separado de seus irmãos na turnê. Ele teria enviado a Don King uma carta declarando que King não poderia se comunicar com qualquer pessoa em nome de Jackson sem autorização prévia, que os representantes pessoais de Michael iriam para recolher todo o dinheiro pago a ele por sua participação na turnê e, basicamente, que King não poderia contratar ninguém para trabalhar na turnê sem a aprovação de Michael.

Michael se referiu à Victory Tour como “A última hora” e “A cortina final”, significado para o grupo familiar. Em 04 de agosto de 1984, eu peguei o cantor do Van Halen - David Lee Roth - para assistir o show no Madison Square Garden e ele conheceu Michael em uma área privativa do Madison

Eu fiquei surpresa com a forma como Michael parecia diferente da última vez que eu o vi, o quanto ele estava usando maquiagem [que saiu na minha roupa quando nos abraçamos na saudação inicial] mas principalmente fiquei surpresa com a sua plena consciência de quem exatamente era David Lee Roth, provavelmente por causa do número de discos que o Van Halen tinha vendido e das suas posições nas paradas musicais.

Mais tarde, em entrevista por telefone de Los Angeles em 15 de fevereiro de 1985, Michael me confessou seus problemas com a turnê e as pressões de trabalhar com sua família, especialmente depois de ter feito tão grande sucesso solo.

Lisa Robinson: Eu não te vejo desde o Madison.

Michael Jackson: Eu sei. O que você anda fazendo? Você ainda ama New York?

LR: Claro.

MJ: Melhor do que Los Angeles?

LR: Você sabe, eu não vou para Los Angeles há tanto tempo...

MJ: Você não gosta daqui?

LR: Eu acho que é... brilho demais. Enfim, você estava feliz com a turnê?

MJ: Bem... humm... depende. Eu nunca quis me cercar de tantas pessoas como o fizemos, mas isso foi decidido no voto. Era injusto para mim, sabe? Eu estava em minoria um monte de vezes. Eu nunca gostei de fazer as coisas dessa maneira. Eu sempre gostei de chamar as pessoas que são consideradas excelentes em seu campo. Eu sempre tentei fazer tudo de primeira classe. Trabalhar com as pessoas que são as melhores.

Mas era uma história diferente com a família. E o fato de que foi a maior turnê que já aconteceu, e meu sucesso tem sido tão avassalador, é como se eles estivessem esperando para lançar dardos em você. [Bárbara] Streisand disse uma vez... ela disse que, pela primeira vez, você é novo e fresco, todas as pessoas a amavam e elas a construíram e então... Quem a derrubou? E senti, você sabe, 'Oh, é isso?' Você sabe, ela é humana, não podem tomá-la, ela não pode simplesmente esquecer isso.

LR: Bem, quando você chega a ser tão grande, não existe essa folga... as pessoas ficam com ciúmes.

MJ: Eu sei. Steven Spielberg está passando por isso... Mas eu sou uma pessoa forte. Eu não deixo nada disso me incomodar. Eu adoro fazer o que eu faço e vou continuar a mover montanhas e fazer coisas maiores e melhores, porque faz as pessoas felizes.

LR: Ouvi que alguns fãs ficaram chateados porque os preços dos bilhetes estavam elevados.

MJ: Você sabe que não foi ideia minha. Nada disso foi ideia minha. Eu estava em minoria. Eu estou me referindo sobre a Ordem dos Correios. Eu não queria que o preço do bilhete fosse do jeito que era... A nossa produção era tão grande que teria que se pagar a si mesma, mas ainda assim, eu não queria que o preço do bilhete fosse tão alto. Mas eu estava em minoria... havia Don King... com tudo isso, eu estava em minoria. 

E é difícil, especialmente quando é a sua família. Como Lionel Richie disse com os Commodores, ele fazia a mesma coisa, e ele dizia: “Podemos conversar sobre isso?” Mas eles não são irmãos... É difícil de ver seu irmão que está chateado com algo e você pode olhar em seus olhos e vê-lo, ou eles não vão falar com você. 

Mas eu vou fazer coisas maiores e melhores no futuro. Eu sou obrigado a fazer o que estou fazendo e eu não posso ajudar [aos meus irmãos novamente] e eu adoro me apresentar. Adoro criar e esbarrar em coisas novas. Para ser um espécie de pioneiro. Você sabe, inovador. Eu adoro isso. Eu fico animado sobre ideias, não sobre o dinheiro, as ideias são o que me excitam.

LR: A concepção que você tem sobre você estar totalmente isolado, trancado, não poder ir a qualquer lugar...

MJ: Bem, muito disso é verdade, mas eu tenho uma chance de me divertir. Eu assisto filmes e eu jogo com amigos, às vezes, e eu adoro crianças e coisas assim. Eu cheguei a jogar com eles, essa é uma das minhas coisas favoritas a fazer. Performar é divertido. Eu sinto falta disso, mas eu tenho escrito um monte de coisas boas ultimamente e eu estou realmente animado com as músicas que estão chegando.

LR: Onde quer que eu vá no mundo, eu ouço suas músicas.

MJ: Bem, isso só prova que o que você coloca em algo, tem que retornar. E eu coloquei a minha alma, meu sangue, suor e lágrimas em Thriller. Eu realmente fiz isso. E não era só Thriller, mas eu estava fazendo [a trilha sonora do álbum] E.T. ao mesmo tempo. E isso era um monte de estresse. Mas quando nós mixamos o álbum Thriller, soou ruim...

LR: O quê?

MJ: Ah, foi terrível. E eu chorei ao ouvir. Eu disse: “Me desculpem, não podemos divulgar isso.” Eu convoquei uma reunião com Quincy e todos na empresa [Epic Record] estavam gritando que tinham que liberar e havia um prazo, e eu disse: “Me desculpem, eu não vou liberar.'' Eu disse, “Está terrível.'' Então, nós refizemos uma mixagem por dia. E nós descansamos dois dias depois da mixagem. Ficamos sobrecarregados, mas tudo saiu bem.''

Notas do blog

*A história sobre a polêmica dos preços dos bilhetes está publicada aqui e é oportuno lembrar que 100% da renda que coube a Michael Jackson na Victory Tour foi revertida à Caridade.

**Referente à citação ''os representantes pessoais de Michael iriam para recolher todo o dinheiro pago a ele por sua participação na turnê''  Jermaine Jackson esclarece no seu livro You Are Not Alone que a família Jackson aceitou pagar um determinado [e alto!} montante como indenização ao promotor Don King pela quebra de contrato.


Fonte: http://www.vanityfair.com
Tradução: O livro ''As várias faces de Michael Jackson'' de Marcílio Costa da Silva