Uma História Oral de Xscape


''Uma História Oral de Xscapeo álbum de Michael Jackson''
Matéria publicada na revista VIBE em 12 de Maio de 2014

"Quando você supera a novidade da coisa toda, uma espécie de êxtase de choque corre sobre você. E então você se dá conta de que Xscape, o último álbum póstumo de Michael Jackson, é definitivamente um bom testamento a um artista que viveu para entreter - até os últimos dias de sua vida, dominado por manchetes.

Há muito crédito a se dar. Vamos começar com John Branca, o co-executor do espólio de Jackson. Foi Branca quem tirou a poeira de uma coleção de faixas que incluíam a jóia surpresa nunca lançada de 1983, Love Never Felt So Good, um estouro bate-pé pós disco-music composto por... Paul Anka?? Sim, o mesmo letrista que compôs o presunçoso hino de Frank Sinatra, My Way.

A tarefa de organizar o projeto caiu aos pés do CEO da Epic, L.A. Reid, que prontamente pegou o telefone para recrutar o visionário de músicas bombásticas, Timbaland, para fazer o trabalho pesado. 

Completam a unidade de produção concentrada: a dupla de produtores noruegueses Stargate (Tor Hermansen e Mikkael Eriksen) e o colaborador de longa data de Jackson, Rodney Jerkins, que no início rejeitou a ideia de colocar o seu nome no que ele considerava, anteriormente, como material inferior de MJ. Mas Reid o convenceu. E de fato, Xscape superou as expectativas.

A VIBE reuniu os principais jogadores por trás deste lançamento de 8 faixas. Esta é a História Oral de Xscape de Michael Jackson. - Keith Murph

VAMOS FAZER UM ÁLBUM DE MICHAEL JACKSON 
(Outono, 2013)

JOHN BRANCA (Co-Executor do Espólio de Michael Jackson): Tudo começou no ano passado, em setembro. Ninguém me pediu para supervisionar o projeto. Foi o contrário. Eu pedi para fazer isso, porque estávamos na Epic Records - é o que chamamos de A Casa que Thriller Construiu

Love Never Felt So Good foi a canção que realmente começou o processo de gravação. Quando eu soube que era apenas Paul Anka tocando o piano e Michael cantando, eu sorri. Era como se o sol tivesse saído. Aquele dia se tornou um dia lindo, porque a música estava vindo através dos altos falantes para a minha alma. De lá, eu disse, "Ok, se o mundo não ouviu isso, então há um álbum a ser feito."

TIMBALAND (Produtor vencedor do Grammy que supervisou a maior parte da produção de Xscape): Eu estava muito apreensivo sobre me envolver neste projeto. Eu fiz este álbum por causa de Michael Jackson. Ele completa o meu legado. Mas o meu problema era que eu não queria trabalhar com alguém que não estava aqui. Michael é alguém que cresci escutando. A coisa toda me levou de volta para Aaliyah e Static [Major]. Então eu realmente tive de lidar com algumas coisas, trabalhando neste projeto do Michael.

L.A. REID: Eu não queria pedir a qualquer outra pessoa que liderasse este projeto... só Timbaland. Timbaland é meu produtor favorito no negócio. Ele é como Muhammad Ali, em termos de produção... ele já foi o campeão pelo menos três vezes. 

Meu filho Aaron marcou uma reunião e eu fui ao estúdio de Timbaland, e ele estava trabalhando em seu próprio álbum. Tinha muita gente no estúdio, então eu pedi a ele que saísse de lá por um segundo e tive uma conversa privada com o homem. 

Eu apenas disse a ele, "Eu quero fazer algo muito, muito especial. Como isto soa? Michael Jackson produzido por Timbaland." Ele disse, "Eu gosto do som disto".

TIMBALAND: [Xscape] trouxe muitas emoções à tona. Levei uma semana para superar. Toda vez que tocava uma canção, dizia "Coloque outra coisa... eu não consigo fazer isso, agora." 

Mas assim que comecei a entrar no clima e ficar à vontade, e a rezar, a música começou a vir para mim. E eu vou ser honesto com você, escutar as faixas inéditas de Michael me fez chorar. Ele não está aqui para ver isto. Então ouví-lo cantar... cara.

Eu sempre digo às pessoas, eu não me importo com quem você seja ou aspire ser. Você nunca será Michael Jackson. Usher é Usher. E Justin [Timberlake] é Justin. Estes dois caras são incríveis. Mas não há comparação com Michael Jackson. Nenhuma.

L.A. REID: Eu fui atrás dos outros, após Timbaland ter feito tudo o que pôde, e estar meio que exausto [ri]. Eu procurei Stargate e Rodney [Jerkins] porque eu os amava, também. Você tem de ir atrás de pessoas nas quais confie, e eu confio em Stargate. E Rodney era o produtor que já havia trabalhado com Michael.

RODNEY JERKINS (Produtor vencedor do Grammy que trabalhou na maior parte do último álbum de estúdio de Michael, Invincible de 2001): Eu e Michael trabalhamos em Xscape pela primeira vez em 1999. L.A. vai te contar que fui um idiota por todo o processo [ri]. Eu me importo. 

Michael era um cara que era meu amigo. Eu tinha um bom relacionamento com ele. Ele conhecia a minha família e eu conhecia a família dele. Então eu disse ao L.A., "Eu não vou fazer uma música até escutar o restante do álbum." 

Mesmo quando ele disse, "Bem, vamos ter de fazê-lo primeiro," eu disse, "Eu não me importo. Eu tenho de escutar o álbum inteiro antes de terminar uma canção." Eu queria me certificar de que tudo estava à altura do que Michael teria querido. Isto era importante para mim.

TIMBALAND: L.A. e eu envolvemos Stargate porque sempre gostamos da produção deles. E por eles virem de outro país, Michael sempre ficou na Europa. Para mim, os Stargate são os produtores mais quentes do outro lado do oceano. Havia uma música que eu senti que precisava do toque deles. Eles fizeram um grande trabalho e acertaram em cheio.

TOR ERIK (Metade da dupla criadora de hits, Stargate, que já produziu uma série de sucessos para nomes pesados como Ne-Yo, Rihanna, Beyonce e Katy Perry): L.A. veio ao estúdio e disse "Eu quero falar com você sobre Michael".

Para ser sincero contigo, meu primeiro pensamento foi, "Oh não, não outro álbum [póstumo]." 

Às vezes, o material não é forte o suficiente e esta foi uma das minhas preocupações iniciais. Nós conhecemos Michael e queríamos trabalhar com Michael, e somos grandes fãs dele. Mas nós não queríamos fazer algo que manchasse o seu legado musical, pegando músicas que eram apenas sobras. 

Então o L.A. disse, "Okay, eu entendo vocês. Deixe-me tocar algumas músicas para vocês." Ele tocou umas duas, mas a canção que realmente nos impressionou foi Blue Gangster. Era uma faixa de seis minutos e Michael cantava com todo o seu coração e a produção era realmente bonita e atualizada. 

A música me fez ver que realmente poderia ser possível. Mas algumas canções já estavam sendo trabalhadas, então perguntamos a L.A., "O que você tem para nós?"

L.A. REID: Eu tive tantos hits do Stargate, de Rihanna a Jennifer Lopez. Eles são os tipos de cara a quem você procura quando é muito específico sobre o que realmente quer. Eu os chamo de rebatedores Stargate. Você os procura quando quer que o jogo esquente. Você chama o Stargate e fica pronto para obter um sucesso

TOR ERIK: Nós basicamente recusamos a proposta de L.A. após o encontro, porque não achamos interessantes algumas das faixas antigas as quais eles queriam que trabalhássemos. Então, L.A. nos ligou uns dois dias depois e disse, "Uou, uou, uou... eu tenho mais uma."

Ele nos mandou e tudo o que escutamos foi a versão a capella. E era simplesmente incrível. Um incrível momento de vocais de Michael Jackson. Do começo ao fim, harmonias fantásticas. Esta foi a canção que nos trouxe a bordo... A Place With No Name.

L.A. REID: A Place With No Name foi originalmente intitulada A Horse With No Name, que é uma canção gravada por uma banda chamada America. E então Michael reescreveu a letra e a música com a permissão do America e a intitulou A Place With No Name

Quando eu levei ao Stargate, o modo como eles a abordaram foi muito criativo. Eles ouviram o compasso da música, cuja fórmula era 6/8. Então os caras do Stargate perguntaram, "Que outras canções têm compasso 6/8?". 

Algumas canções como Higher Ground de Stevie Wonder, que foi uma influência. E Higher Love de Steve Winwood também foi uma influência. É uma música realmente especial.

TOR ERIK: A fórmula do compasso surgiu por conta dos vocais de Michael. Eu nem quis escutar a demo original. Tudo o que queria escutar eram os vocais de Michael. E foi quando eu escutei Michael na cabine de gravação, estalando os dedos, batendo as mãos e os pés. Ele estava se energizando e nos deu o clima para onde a faixa deveria ir. 

Foi então que começamos a experimentar com o baixo. Nós nem tínhamos colocado a bateria ainda, só o baixo e a progressão de acordes, que realmente funcionaram para algo mais dançante. Então começamos a trabalhar na bateria. Mas todas essas coisas vieram realmente de Michael Jackson.

Tradução Bruno Pórpora