O Artista Visionário


¨Na escola de Michael Jackson figuram algumas das maiores estrelas da música dos últimos tempos. Sua influência está na dança, no ritmo, na linguagem corporal como um todo, na perfeita junção de elementos inusitados em cada música, na agressividade das suas batidas e na versatilidade do seu canto. Como ele, novos talentos desabrocham e oportunistas se esbaldam. O estrelato é uma constatação de longo prazo.

Se Mozart teve Haendel, Michael teve James Brown e Fred Astaire. Influências perceptíveis, porém habilmente evoluídas em formatos atualizados. Ambos foram rebeldes e doces quase como uma troca de máscaras em um baile medieval. As máscaras são escapismos inteligentes para um artista. Permitem mutação e mistério. Jackson que o diga. Na busca do perfeccionismo, Michael Jackson estudou seus ídolos, compensou a sua infância perdida e recriou-se até fisicamente, por vontade própria e, também, por pura necessidade casual.

Quem pensa que cirurgia plástica é coisa nova está muito enganado. Descrições a respeito dela já aparecem em pergaminhos egípcios de 5 mil anos atrás. Mais ou menos na mesma época, cirurgiões da Índia antiga empenhavam-se em reconstruir partes da face. Procedimento freqüentemente necessário, já que mutilar a face do inimigo era muito comum em guerras.

A guerra de Michael sempre foi com os intrusos de sua vida. E isso inclui os paparazzi e o próprio Joe Jackson em suas respectivas irresponsabilidades relacionais. Talvez por causa deste último que Michael resolvera unir a vaidade à sua necessidade pessoal de se ver livre dos traços de alguém que lhe causou tanto sofrimento. E embora alguns cirurgiões possam aparecer a cada escândalo para vender histórias a respeito dos procedimentos do Rei do Pop, eles mesmos acabam contradizendo os princípios da sua própria profissão.

Ivo Pitanguy já dizia: "o cirurgião plástico é um psicólogo com um bisturi na mão". Michael Jackson pode ser muito sedutor, especialmente por sua tendência — pelo menos, no passado — a pagar bem pelo que quer. No entanto, apesar de tudo, a responsabilidade sobre sua aparência continua sendo dele mesmo. De certa forma, podemos dizer que suas feições afinadas ajudaram a canalizar a sua “intocabilidade”, um neologismo bem-vindo para descrever mitos.

Na concepção de Michael Jackson, o artista, todos os elementos citados foram importantes. Como um visionário e sonhador lúcido, Michael sempre soube como se destacar. Seja na música, seja na sua própria condição de lenda viva. Apesar de muitos tentarem descrevê-lo como um Fausto, seu destino só pertence a si mesmo e sua história é mais do que suficiente para traçar um rumo ainda desconhecido.

Talvez o gênio seja reconhecido algum dia. Pena que este dia tenha tudo para ser embalado por sons de sinos e um réquiem personalizado que imortalizará para sempre a obra de um menino-prodígio, de um mutante apaixonado, de uma lenda então irrevogavelmente óbvia. Uma voz continuará ecoando num sopro sem fim, num choro contido e num sorriso maroto nos corações daqueles que hoje não percebem. Nietzsche já dizia: “Deveríamos considerar perdido cada dia em que não tenhamos dançado pelo menos uma vez.” Mas, ainda, o mundo adora sepultar heróis.¨

Trecho extraído do texto ¨Uma Obra Inacabada¨ por Mike Beats 

Fonte: MJBeats