''Michael Jackson''


Um texto escrito por Adrian Grant

''Não é verdade! Não pode ser!'' Foram essas as palavras que gritei, ao ouvir a notícia de que Michael Jackson havia falecido. Mal podia acreditar. Duas noites se seguiram sem que eu pudesse dormir, e eu ainda não podia acreditar que Michael havia partido para sempre.

E quando, lentamente, isso se tornou claro para mim, eu pensei não somente na dor que Michael teve de suportar, mas na dor que seus filhos e sua mãe têm que suportar, agora.

Senti profunda tristeza pela sua família. A enorme dimensão da tragédia foi refletida nas notícias 24 horas por dia, através das manchetes de jornais e revistas, as notícias em qualquer lugar nas redes sociais e as condolências e homenagens de celebridades.

O único conforto que eu poderia encontrar em toda a tristeza, era que Michael estava agora em paz. Não haveria mais dor física ou mental. Ao morrer aos 50, ele se tornaria uma lenda, um gigante no mundo do entretenimento, e seria lembrado positivamente por sua música e dança - ao invés de ser cegado por escândalos.

Infelizmente, para Michael, era muito fácil que a mídia pintasse um retrato negativo de seu extravagante estilo de vida. Era tão fácil torcer seus motivos e pôr em xeque a sua sinceridade.

Para mim, teria sido fácil abusar da confiança que ele tinha em mim há 21 anos, seria fácil abusar e fazer um documentário ao estilo "Bashir", transformando-o em motivo de piadas, só porque ele parecia ser excêntrico ou diferente da maioria das pessoas.

Mas eu não quero me juntar à legião de ex-amigos de Jackson que se venderam por qualquer dinheiro. Quero me manter íntegro e fazer o que é correto, enquanto eu puder.

Sua aparência. Sim, ele fez cirurgias plásticas, mas não tantas quanto as pessoas imaginam. Ele admitiu, porém, que ele remodelou o seu nariz. Grande coisa! Metade de Hollywood faz isso. E daí?

Em setembro de 1987, durante uma conversa por telefone com Barbara Walters, Michael disse que suas mudanças foram causadas não só por refazer o seu nariz duas vezes e pôr uma covinha no queixo, mas também por causa de uma mudança alimentar ao longo dos últimos anos, ao se tornar vegetariano.

Mas o que as pessoas mais estranharam parece ter sido a cor de sua pele. Era pelo qual eu me sentia mais triste por Michael, porque ele tinha uma doença de pele chamada vitiligo. No entanto, a imprensa ainda ridicularizou a sua palidez e o fato dele se proteger do sol.

Quando vemos alguém com queimaduras, ficamos debochando dele? Michael tinha uma doença de pele incurável. Tudo o que ele podia fazer era encontrar uma forma de tratamento estético com o qual ele se sentisse confortável.

Quando me encontrei com Michael pela primeira vez em 1990, ele estava no primeiro estágio da doença, mas ao longo dos anos, eu pude ver que as manchas apareceram por toda sua pele. Este é um efeito de vitiligo.

Seu lar, o rancho Neverland em Santa Ynez, também foi motivo de piadas, somente porque ele tinha um parque de diversões e um jardim zoológico. Eu o visitei em muitas ocasiões, e os passeios do carrossel eram fantásticos! Quem não gostaria de possuir uma roda gigante e carrinhos de choque? E quem não ama os animais?

Michael tinha espaço suficiente (mais de 3.000 acres) para abrigar dois jardins zoológicos. Havia lhamas, girafas, elefantes, macacos, tigres e muito mais, todos eram bonitos. Michael adorava games, os passeios e os animais, mas eles estavam lá não só para seu próprio prazer. Eles estavam lá, para a alegria dos outros.

Toda semana, ele abria as portas de sua casa para centenas de crianças carentes. Muitas instituições de caridade eram autorizadas a usufruir de seus bens e eram recebidos pelos funcionários de Michael como convidados de honra.

Eu sempre senti que as pessoas seriam mais compreensivas com Michael se o conhecessem como eu o conheci. Se, ao menos, ele tivesse se aberto mais e falado as coisas claramente... Uma vez eu lhe perguntei se ele estava ciente da imprensa negativa da qual ele era vítima, e se ele não poderia fazer nada para mudar isso.

"Eu sei que tudo o que está acontecendo. Não importa o que eu faça, eles sempre escrever algo ruim", Michael desabafou duramente. Infelizmente, para Michael, ele tinha razão.

Eu me lembro de uma viagem a Budapeste em 1994, onde Michael visitou - com Lisa Marie Presley - as crianças nos hospitais, e distribuiu presentes e brinquedos. Eu era o único representante da mídia autorizado a acompanhá-lo, e fiquei muito feliz por poder ajudar a distribuir os presentes a algumas das crianças doentes.

No entanto, a imprensa incrédula, sugeriu que essa viagem (que era parte da campanha Heal the World de Michael) era um golpe publicitário.

O que ninguém publicou foi sobre o momento em que Michael colocou um sorriso no rosto de uma menina que estava morrendo, cujo rosto tinha permanecido impassível e silencioso durante semanas. Sua mãe, que constantemente a cuidava, caiu em lágrimas quando a menina tentou agarrar a mão de Michael. Parece um milagre, mas eu vi com meus próprios olhos.

Por qual motivo então, as pessoas constantemente ridicularizavam alguém que realmente se preocupava com os outros e foi um dos maiores artistas que o mundo já viu?

Acho que o motivo foi a falta de compreensão. Para as pessoas, era difícil se relacionar com Michael da mesma forma como se relacionavam com outras celebridades, especialmente em tempos de invasão de privacidade.

Michael estava (e sempre estará) em um pedestal mais alto, o que o tornava único, e houve muitos invejosos ou que se intimidavam com ele e, portanto, quiseram tirá-lo de seu posto.

Ele foi acusado de todas as coisas possíveis, mas Michael disse: Não julgue uma pessoa, até que você tenha caminhado duas luas em seus mocassins.

É muito triste para mim que, somente agora depois de sua morte, Michael receba algum amor e respeito que eram devidos a ele em vida.

Em seu Memorial em 07 de Julho de 2009, Rev. Al Sharpton fez um discurso empolgante. Suas palavras foram ouvidas, não somente pelas 18.0000 pessoas presentes no Staples Center, Los Angeles, mas também por milhões de pessoas lá fora, no mundo.

E as palavras mais pungente foram: ''Quero que seus filhos saibam que não há nada de estranho em seu pai. Estranhas foram as coisas com as quais seu pai teve que lidar.''

Certa vez, perguntei a Michael qual ele achava que fosse a sua maior conquista. Durante sua viagem a Budapeste, 1994, Michael se comprometeu a ajudar o menino Bella de 8 anos, que estava desenganado. Sua vida foi salva por uma operação que foi paga pela Fundação Heal The World de Michael. Leia mais aqui

''Salvar a vida de Bella foi, sem dúvida, um dos momentos mais importantes da minha vida", disse Michael, sinceramente, ressaltando a pessoa dedicada e humanitária que ele era.

Eu sempre senti que Michael foi subestimado como artista. Havia muito mais para o seu gênio do que os álbuns recordistas como Thriller, Bad, Dangerous e HIStory. Olhe para a qualidade do seu trabalho, os vídeos e performances ao vivo.

Eu tive a sorte de assistir a Michael durante a gravação no estúdio. Ali estava um homem que tinha aprendido sua arte desde a idade de cinco anos, e isso ficava evidente ao ouvi-lo e vê-lo. Ele conhecia os meandros de seu trabalho de cor e salteado, para ele era como uma segunda natureza.

Isto lhe permitiu se doar de corpo e alma às suas criações, e colocá-las em um patamar mais elevado que a maioria dos outros artistas. Ouça Wanna Be Startin' Something', Billie Jean, Earth Song, Black or White e Whatever Happens - pura genialidade pop, cuja mensagem transcende gerações.

Um dia após o Memorial no Staples Center, visitei sua família em Havenhurst. Quando cheguei, a filha de Michael estava brincando lá fora. Fui até ela e disse que eu tinha conhecido seu pai e que ele era um grande e amoroso homem.

Ela disse "obrigada" e eu lhe dei um dos meus livros, Making History. A alegria em seu rosto - quando ela olhou com admiração para a foto da capa  - foi linda. Ela estava tão feliz e me deu o maior abraço que já tinha recebido. Eles escaparam com o livro na mão, para mostrar para a sua avó.

Mais tarde, naquela noite, um ex-funcionário de Michael disse para Katherine Jackson que eu havia escrito apenas coisas positivas sobre Michael, e Katherine respondeu: "Sim, não havia nada de ruim para falar dele.'' Significa muito para mim ter a oportunidade de documentar a história de um dos maiores artistas.

Um dos momentos de maior orgulho que eu tive foi em uma das vezes no rancho Neverland. Descobri que Michael tinha a árvore genealógica do meu livro The Visual Documentary e a tinha pendurado ao lado de seu piano. Ele também me disse o quanto agradecido ele estava pelo meu trabalho, e reconheceu The Visual Documentary nos agradecimentos do seu álbum HIStory.

Michael, eu sinto muito e eu estou tão triste que você tenha partido. Você é o maior artista que o mundo já viu, mas além disso, você é a pessoa mais amável e amorosa que eu já conheci.

Obrigado, obrigado, obrigado por sua inspiração e por todas as oportunidades que você me deu. Seu espírito viverá para sempre, e eu vou espalhar a verdade e o seu legado, sempre que puder.''

Adrian Grant
*Escritor e produtor musical em seu livro Michael Jackson: The Visual Documentary.



Fonte: http://www.mjackson.net