Depoimento de Beate Wedekind


''Aconteceu depois do Oscar, se eu bem me lembro, foi em 1984. Como jornalista, eu fui convidada para o jantar do agente Irving Swifty Lazar, em Morton, em um restaurante de moda da elite de Hollywood.

Eu estava cansada, com todas as impressões dos prêmios da Academia, eu havia tido a minha primeira experiência no tapete vermelho e no centro da imprensa de Dorothy Chandler Pavilion. Mas eu não estava somente cansada, a atenção estava centrada em algumas mesas à frente, as quais tinha um alto nível, e não me atrevi a me reunir a eles.

Shirley MacLaine e Jack Nicholson, que havia ganho um Oscar por Laços de Ternura, Barbra Streisand, sentada ao lado de Michel Legrandm, compositor do filme Yentl... Swifty, o anfitrião, um pequeno homem com óculos enormes, que me beijou ao me despedir dele.

Então lá estava eu, de pé em um corredor na parte superior da escada, me perguntando se eu deveria pegar um táxi ou apenas uma das limusines que esperavam na porta.

Diante de mim estava um jovem negro, frágil, com os olhos ocultos por trás de grandes óculos de sol. Ele veio diretamente a mim, e é claro que eu o reconheci imediatamente, era Michael Jackson. Sozinho e sem seguranças ou qualquer outro acompanhante.

Ele parou ao meu lado, e me disse ''me desculpe'', suavemente. Tirou os óculos de sol, mas ainda tinha a luva branca. Ele perguntou com sua voz calma e suave, se acaso eu sabia se Barbra [Streisand] ainda se encontrava lá.

“Sim”, eu respondi, “ela está sentada com Jack Nicholson.'' Então ele me segurou gentilmente pelo braço, tão simples e perguntou: “Por favor, você pode se juntar a mim? Venha comigo, por favor!”

“Claro que sim! Claro que sim!” O que mais poderia responder? Simplesmente um pequeno momento em que eu estava perplexa.

Mas então eu senti a adrenalina de felicidade de repórter tomando posse do meu corpo, meu coração batia forte. Tive que controlar meu sorriso, de modo que não parecesse uma careta de prazer.

Enquanto caminhávamos de braços dados pela sala quase vazia, ele perguntou o meu nome e de onde eu vinha. Chegamos à mesa de Barbra, Jack e Swifty. Shirley MacLaine tinha ido embora, mas seu irmão, Warren Beatty, ainda estava lá. Ele abraçou Michael, que estava rígido - eu notei que ele se sentiu desconfortável.

“Esta é Beate, uma amiga da Alemanha”, Michael me apresentou ao grupo. Eu poderia tê-lo beijado! Uma "amiga" da Alemanha. Era uma mentira, uma desculpa e um elogio para mim, eu me lembro de claramente de eu ter balançado minha cabeça, quando ele disse isso.

Swifty Lazar, o anfitrião, sabia que eu era uma jornalista. Ele me puxou de lado, por um momento, e disse: “Seja bem-vinda, Beate, mas eu conto com a sua discrição.”

Então ele me convidou para sentar-se na cadeira vazia ao lado dele e à frente de Michael Jackson. O Oscar de Jack Nicholson estava bem na minha frente. Nicholson me observou e o colocou na minha mão.

Então, lá estava eu sentada naquela  mesa e não podia acreditar na sorte do momento. O que eu experimentei foi uma das noites mais relaxantes da minha carreira como jornalista, provavelmente, a melhor de todas, apenas  rindo e conversando com essas pessoas que eram meus heróis, e eles o são.

Conversando sobre os vizinhos, pessoas, colegas e crianças, dinheiro, iates, Aston Martins e outras paixões. De tempos em tempos, eu contribuia com a minha parte.

Finalmente, Swifty Lazar me disse: “Eu não sabia que uma jornalista alemã poderia ser tão perspicaz.”

Eu fiquei corada e comecei a suar. Michael Jackson percebeu e me deu um lenço branco como a neve, bordado.

[Não o lavei e o mantive como um tesouro, por muitos anos, até que eu o entreguei para um amigo que estava em estado terminal. Seu único conforto seriam momentos de leveza como aqueles encontrados na música de Michael Jackson.]

A maioria tinha bebido muito champanhe e uísque, somente Michael Jackson se manteve fiel ao suco de laranja e à água tônica.

A timidez de Michael Jackson aparentemente o impediu de atravessar sozinho a sala em Morton. Ele me trouxe uma alegria, naquela noite, e houve o momento em que ele se juntou ao grupo, e ele ria como uma criança. Barbra sussurrou algo em seu ouvido e ele beijou a mão de Streisand, de novo e de novo e estava feliz.

Já passava das quatro horas, todo mundo queria descansar. Michael Jackson, mais uma vez, pegou no meu braço, enquanto descíamos as escadas.

Acho que o Oscar de Jack Nicholson ainda estava na minha mão. Ele se divertia muito. Quando ele finalmente pegou de volta seu troféu, me beijou na testa. Jack Nicholson me deu um beijo na testa. Naquela época, ser jornalista era o trabalho ideal.

Com seu suco de laranja...
Michael Jackson me convidou para sua limusine, era um pequeno da Mercedes, e o motorista era mexicano.

Durante a viagem, Michael Jackson me disse, com uma voz incrível e muito doce, que na verdade, tinha escapado de todas as pessoas que, naquela época, nunca saiam do seu lado.

Ele, o Rei do Pop, tinha secretamente obtido algumas horas de liberdade comigo. Ele me levou para o meu hotel em Beverly Hills, galantemente abriu a porta, fez um gesto com a mão, sorriu e disse "Obrigado”.


Tive vontade de lhe dar um abraço, mas havia essa distância que eu tinha sentido, quando Warren Beatty o abraçou, e aquele óculos que não tirava de seus olhos, as luvas brancas e sua melancolia. Em seguida, entrou em sua limusine novamente. Ele acenou enquanto ele se afastava e eu guardei essa noite em meu coração.

Quando penso sobre esse episódio, sua vida ainda parecia estar equilibrada. Ao menos, ele se atreveu a falar com uma desconhecida, e, em seguida, o isolamento no qual ele passou seus últimos anos, dói. E eu oro por ele.''

Fonte: http://pt.wasalive.com