Depoimento de Marcos Cabotá (02)


''Não queremos provas, está em um documentário, não pode ser mentira. 
Vamos acender as tochas! Vamos queimar coisas!''

''Diante da matilha descontrolada que inunda as redes sociais de insultos, e que a imprensa provoca uma tempestade de cópia e cola-tudo mergulhada em uma falsa indignação, que tem mais de sensacionalismo do que outra coisa-seria contraproducente, o que entender da trama ao completo para poder criar sua própria opinião... Sim, a tua própria opinião, e cuidado, que pode ser diferente da dos outros. Você está avisado.

Em um tempo onde as pessoas colocam o seu parecer aos fatos, é muito difícil que uma lenda seja analisada com rigor. Muitos não estão interessados em conhecer todas as informações, se esta contradiz o seu relato preconcebido. [...]

Todo este barulho vem de um documentário, e nós adoramos. Que paradoxo! Como indivíduos exigimos evidências de tudo, mas como sociedade somos um rebanho se movendo ao compasso do primeiro rumor escabroso que sai para a rua. Não queremos provas, está em um documentário, não pode ser mentira. Vamos acender as tochas! Vamos queimar coisas!

Falta o benefício da dúvida - isso que tanto exigimos em outras ocasiões - consumimos da teta das grandes corporações mediáticas sem que nos caia uma única gota. Que o documentário contradiga a resolução de um julgamento e uma pesquisa de dez anos do FBI, dá no mesmo. Que não nos incomodem com essas instituições! 'Queremos queimar essa mulher; eles disseram que ela é uma bruxa.'

Ataquemos aquele que já não se pode defender. Vamos para a caça ao fácil. O excêntrico que vivia isolado e tinha um parque de atrações em sua casa. Vamos nos juntar ao linchamento do diferente.

Mas veja, somos muito contra o bullying, fica claro? Hein?

Como é que vamos duvidar de dois adultos que dizem ser vítimas de atos tão horrendos? Se eles estão dizendo para a câmera! O resto, o que não te conta o documentário, nos dá o mesmo. Não existe.

O que os protagonistas desta história pediram aos advogados de Michael Jackson mal faz dois anos e estes se negaram? 
Não estou interessado.
 O que as vítimas tentaram denunciar os herdeiros por quantidades astronômicas? 
Não estou interessado. 
A respeito do juiz que negou essa denúncia? 
Não estou interessado. 
O que os protagonistas se contradizem publicamente? 
Não me interessa.
A respeito dos protagonistas terem aberto uma conta corrente em um paraíso fiscal? 
Não estou interessado. 
A respeito do 'documentário' ter sido desmontado em questão dias e expostas as suas contradições? 
Não estou interessado. 
Eu vim para queimar a bruxa.

É curioso que todas as pessoas que viveram no mesmo círculo que o acusado e os acusadores, não tenham dúvida alguma de quem mentem nesta fábula, e que você, dedo acusador, que você não conhece nenhum dos envolvidos, você acha possuir a verdade absoluta. É legal.

Faça a si mesmo apenas uma pergunta, quem ganha alguma coisa com isso? Me deixe explicar como funciona este negócio. Talvez você esteja interessado.

Dois adultos, coincidindo com o décimo aniversário da morte de Michael Jackson, de repente, 'se lembram'' que de crianças foram abusadas por ele. Vendem a sua história a uma produtora que lhes paga por contar e lhes dá uma porcentagem de benefícios sobre ela. 

A produtora vende o documentário para uma distribuidora, onde já obtém um lucro e se guarda uma porcentagem das vendas. A distribuidora vende o documentário para as televisões de todo o mundo, onde obtém um lucro e se guarda outra porcentagem das vendas. 

As televisões compram o produto por 5, ou até mesmo 10 vezes o seu valor original, mas eles recuperam o investimento vendendo espaços publicitários. E sim, eles também obtêm um lucro. E dizem que não é por dinheiro. Observe a ironia.

Um negócio redondo para todos. Menos para você, que comeu tudo com batatas. Mas nada acontece, nós gostamos que eles nos mintam.

Qualquer uma das pessoas que temos fotos com Michael Jackson e notas escritas pelo seu punho e letra com um "I love you" [únicas provas fornecidas no documentário] temos um cheque em branco para quando as coisas não nos vão bem e possamos criar uma denúncia, onde as nossas palavras se transformam em notas. As mentes sempre podem ser muito criativas e as dos consumidores muito receptivas.

Não peço isenções gratuitas. Só peço que antes de se juntar à massa enfurecida, faça o exercício de pesquisar minimamente sobre este documentário e seus protagonistas. O Tuiteiro @Santikapowski [entre outros] está coletando muitos dados interessantes sobre este caso. Se a tua zona de conforto é a submissão à mídia, não leia meu texto, talvez te abra os olhos e derreta a tua própria opinião diferente da dos outros. E isso nunca é bom.

Em todo o caso, continuemos com a lapidação, conforme te diz um 'documentário'.

Marcos Cabotá Samper
(cineasta espanhol) em sua rede social

*Mais fotos de Marcos Cabotá com Michael Jackson podem ser vistas clicando aqui
E um depoimento em vídeo (em espanhol) pode ser acompanhado aqui