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26 fevereiro 2011

E a Voz de Michael?


¨ Você sabe o que Michael Jackson, Anita Baker, Natalie Cole, Stevie Wonder e Madonna tem em comum? Resposta: o mentor Seth Riggs.

A técnica de Seth está fundamentada na rotina dos artistas, ou seja, na correria diária em épocas de turnês que deixa pouco tempo para o aquecimento vocal, algo que é essencial quando se tem uma agenda lotada de shows por noite. Um cantor precisa estar sempre na sua melhor forma para poder cantar bem. O estresse corporal afeta diretamente a sua performance.

Riggs, provavelmente a pessoa mais experiente do ramo no show business, foi um personagem muito importante na carreira do Rei do Pop. Foi através da sua assistência que Michael conseguiu resgatar uma extensão vocal (também chamada de tessitura vocal) semelhante à da sua adolescência.

É natural, para um homem, ter a sua voz drasticamente modificada com o tempo devido à atividade hormonal masculina, mas um dos maiores feitos de Seth Riggs como instrutor de voz de Michael Jackson foi a expansão de seus limites vocais, preservando as características únicas da sua voz.

O Rei do Pop desenvolveu um alcance de três oitavas e meia, o que é incrível para um cantor, especialmente na música popular.

O próprio Michael relata: “Uma enorme quantidade de professores de voz, em suas tentativas de ensinar uma técnica vocal funcional, tiram o estilo de um cantor e a individualidade que estabeleceu a sua carreira em primeiro lugar. Um grande instrutor pode dirigir um cantor na direção de um uso mais saudável e extenso da sua voz sem perder aquela qualidade especial que o destaca. Seth Riggs é um professor e tanto. A sua assistência em meus álbuns E.T., Thriller, Bad, Dangerous e HIStory e sua viagem comigo na turnê mundial de 1988 continuam a confirmar a minha confiança neste método.”

Igualmente satisfeito com seu aluno mais famoso, Riggs não esconde sua admiração pela seriedade e visão de Michael Jackson durante as sessões de técnica vocal: “Ele vai de mi menor a sol e de lá a dó maior. Muita gente acha que é um falsete, mas não é. É tudo ligado, o que é extraordinário.

Durante seus exercícios vocais, ele erguia os braços e começava a girar enquanto segurava a nota. Perguntei por que ele estava fazendo aquilo, e ele disse: ‘Posso ter de fazer isso no palco, portanto quero ter certeza de que é possível’. Nunca tinha visto nada assim, antes. Achei que talvez devesse fazê-lo parar para que ele se concentrasse na voz e deixasse para dançar depois. Mas pensei: se ele consegue, deixa ele.”

Há quem não goste do belcanto porque seus compositores dão mais importância à melodia que à harmonia. No caso de Jackson, a melodia muitas vezes fala por si só. Um exemplo é o inesperado início de Speechless, cantado acapella, que praticamente conquista a atenção de qualquer ouvinte de Invincible.

Por outro lado, as noções harmônicas do Rei do Pop não são de se jogar fora. Preste atenção nos coros que se repetem no background de músicas como They Don’t Care About Us e Who Is It, por exemplo, e note o quanto estas bases por si só já criam um suporte rico em harmonia para ambientar as canções.

No período em que tive as minhas aulas de técnica vocal, me foi dito que os barítonos e baixos geralmente representam a voz da sabedoria e da grandeza, enquanto os tenores sempre tiveram papéis cômicos ou mais angelicais em peças eruditas.

Michael Jackson poderia ser apontado como uma antítese desta premissa, afinal, é um tenor cuja voz se destaca de todas as outras e ainda silencia uma platéia atenta e boquiaberta. Seus falsetes suaves traduzem paixão e devoção, seus “stacattos” característicos assumem seu compromisso com o ritmo, sua voz rasgada risca memórias e esfregam a realidade na face dos indiferentes.

Se cantar é transmitir uma mensagem com emoção, o autor de Speechless, Childhood e Little Susie serve de lição para todos aqueles que um dia ainda pensam em exercer esta atividade com um mínimo de bom senso e dedicação.¨

Trecho extraído do texto ¨O Trunfo do Tenor¨  por Mike Beats / MJBeats