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04 junho 2011

Quincy Jones e o Rei (03)


O produtor musical Quincy Jones recorda Michael Jackson em sua autobiografia

¨A gravação de Thriller em pouco mais de dois meses, foi como dirigir um foguete. Tudo era em hipervelocidade. Rod Temperton - que co-compôs várias faixas do álbum - e eu, ouvimos cerca de 600 canções antes de escolher 12 que gostávamos. Rod então ia me enviar 33 canções dele mesmo, todas demos completas.

Michael também escrevia música como uma máquina. No tempo que trabalhei com ele, ele compôs 3 faixas de Off the Wall, 4 em Thriller e 6 em Bad. Em Thriller, eu estava implorando a ele para fazer uma versão ao estilo Michael Jackson de My Sharona

Um dia, eu fui pra casa dele e falei "Smelly, desista. O trem está deixando a estação". Ele falou "Quincy, eu tenho isso aqui e quero que você ouça, mas não está pronta. Eu não tenho os vocais.¨

Eu chamava Michael de Smelly porque quando ele gostava de uma música ou de uma certa batida, ao invés dele chamar de funky, ele chamava de smelly jelly. Quando algo era muito bom, ele falava "Isso é smelly jelly".

Eu falei "Smelly, está ficando tarde, vamos fazer isso". Levei-o para o estúdio na casa dele. Ele chamou o engenheiro de som e arrumamos os vocais. Michael cantou com o coração. A canção era Beat It.

Sabíamos que a música era quente. Em Beat It, o negócio era tão quente que, a certo ponto, quando Bruce Swedien nos chamou, o alto-falante direito explodiu em chamas. Nunca tínhamos visto nada como aquilo em 40 anos que eu estava no ramo. Foi nessa época que comecei a ver a loucura que era a vida de Michael, durante as sessões de Thriller.

Uma vez, estávamos gravando no Westlake Studio e uma garota californiana muito saudável passou pela janela do estúdio, que era um espelho de uma face virado pra rua, e puxou o vestido dela até a cabeça. Ele não estava vestindo nada por baixo.

Rod e Bruce e eu ficamos de olhos arregalados. Foi bem naquele período em que estávamos pressionados a entregar o álbum. Viramos e vimos Michael, uma Testemunha de Jeová dedicada, se escondendo atrás do console.

Fizemos a mixagem final até as 9 da manhã do dia em que tínhamos que entregar a cópia de referência. Estávamos gravando em 3 estúdios. Colocamos os toques finais nos vocais de Michael em Billie Jean. Então o Bruce colocou a magia dele, colocando uma versão ao vivo da bateria, substituindo a sintetizada.

Levei o Eddie Van Halen para outro pequeno estúdio com dois grandes alto-falantes Gibson e duas caixas de cerveja para ele fazer o seu clássico solo de guitarra. Bruce foi embora com a fita para o estúdio de Bernie Grundman para masterizar o disco.

No meio tempo, levei Michael para minha casa, fiz com que ele deitasse no sofá, e o cobri com um cobertor para uma soneca de três horas. Ao meio dia, tínhamos que estar de volta para ouvir o disco que seria distribuído ao mundo.

Eu não conseguia dormir, a ansiedade era enorme. Tínhamos trabalhado em demasia. Chegou então o grande momento. Rod, Bruce, Michael, os empresários Freddie DeMann e Ron Weisner, e eu, sentados e ouvindo a prensagem final de um disco de teste que era para ser a seqüência de Off the Wall. Foi um desastre.

Depois de todas as faixas maravilhosas e as ótimas performances e a grande mixagem, chegamos a nada. Havia um grande silêncio no estúdio. Um a um, fomos para o corredor, para ter um pouco de privacidade. O silêncio era ainda maior.

Colocamos muito material no disco. Para ser competitivo no radio, você precisa de umas batidas bem marcantes, para fazer um som marcante. Se você pegar umas batidinhas, você fica com um sonzinho. Tínhamos 28 minutos de som em cada lado, sabíamos que não havia nada a discutir.

Smelly falava "não, essa é a jelly - é isso que me faz dançar", o que acabava com a conversa, toda vez. Com vinil, tínhamos de ser realistas, tinha que ter 19 minutos de música, em cada lado. No CD não importa, porque é tudo digital. Bem lá dentro, sabíamos de tudo enquanto gravávamos, mas escolhemos não lidar com a realidade, devido à nossa fadiga e euforia musical.

Estávamos com um problema, e Michael chorava. Ele falou "o que fazemos agora?"

The Girl Is Mine, o single, já estava no mercado e era número 2 nas paradas, o álbum estava atrasado. A gravadora queria a fita master para aquela tarde. Falamos para Larkin Arnold: "No atual momento, esse disco não pode ser lançado."

Tiramos dois dias de folga e nos próximos oito dias, fomos mixando uma faixa por dia. Rod cortou um verso de The Lady In My Life e Smelly finalmente concordou em desistir da mais que longa introdução de Billie Jean.

Um artista que estava se destacando falou sobre The Girl Is Mine: "Depois de tanto tempo, é isso que eles fizeram?" De jeito nenhum - a canção era só para abrir o disco. Uma seguindo a outra, Billie Jean e Beat It tomaram conta das paradas, indo ambas para o topo.¨

(texto dividido em 04 partes)

Fonte: MJBeats