"Cante para mim a sua melodia favorita, David", Michael Jackson disse para mim. Eu estava sentado sozinho com Michael em uma das muitas salas de estar em seu rancho Neverland, no verão de 2000, nós estávamos falando sobre melodias.
Eu tinha vindo para vê-lo porque estávamos planejando a ideia dele escrever um artigo para a coluna Pais da nossa revista OLAM. (nota do blog: uma revista judaica) Então, (eu e o rabino Shmuley) fomos para Neverland com minhas duas filhas, Tova e Shanni.
No caminho, eu passei alguns vídeos antigos de Michael, para dar às minhas filhas um pouco de noção sobre alguém que, na década anterior, havia sido a pessoa mais famosa do planeta. Quando chegamos ao rancho, tivemos que assinar alguns termos no portão principal, concordando em não tirar fotos.
A primeira pergunta de Shanni para ele, antes mesmo de cumprimentá-lo, foi: "É verdade que você tem montanhas-russa?"
Um dos funcionários de Michael levou as minhas filhas para ver os passeios e os elefantes, enquanto os adultos sentaram-se para conversar. A questão para mim era que Michael escrevesse um artigo sobre a sua infância.
Ele citou a falta de amor que ele sentiu ao crescer, especialmente sendo conduzido pelo seu pai. Mas naquele tom doce e encantador pelo qual ele é conhecido, ele também escreveu carinhosamente sobre os pequenos momentos, sobre seu pai colocá-lo sobre um pequeno pônei ou lhe dar vidros com seus biscoitos favoritos - o que marcava a sua lembrança.
O dia em que o encontro vazou, nós começamos a receber telefonemas de revista People e noticiários de TV mostravam sobre a façanha de chegarmos até Michael para escrever para a OLAM. Tivemos nossos quinze minutos de fama, mas nós não divulgamos nada que não estivesse na revista. Esse era o nosso acordo com Michael.
Além do artigo que ele escreveu, o que eu mais vou lembrar é o momento em que ficamos sozinhos na sua sala de estar. Até então, Shmuley tinha ido para outra parte da casa para uma reunião com o empresário de Michael, e lá estava eu, completamente sozinho com o Rei do Pop.
Eu decidi que eu não iria perder esse momento com conversas sem sentido. Então pensei em algo em que ele pudesse estar interessado e que eu também gostasse.
"Eu sempre fui loucamente apaixonado por melodias", eu disse a ele. "A ideia de uma bela melodia me deixa louco. Como pode um determinado arranjo de notas tem tanto poder sobre mim? Há certas melodias que eu não posso imaginar viver sem... elas são como uma parte de mim. Eu me rendo a elas.''
Naquele momento, Michael, com aquela voz doce, olhou para mim e disse: "Cante para mim a sua melodia favorita, David."
E eu o fiz. Era uma antiga melodia que os judeus sefarditas de Marrocos cantavam somente no Yom Kippur (uma das datas religiosas mais importantes para os judeus).
É a minha melodia favorita de todos os tempos. Crescendo, eu costumava chorar sempre que a ouvia. É a melodia que fez o máximo para manter a minha conexão emocional com a minha fé e meu povo. Hoje, eu a cantei antes de fazer o Hamotzeh no Shabat.
Ele me pegou desprevenido. Era a única coisa que eu poderia cantar. Na música, as letras descrevem o aparente sacrifício de Isaac, filho de Abraão. Em determinado momento, o filho pergunta inocentemente para onde seu pai o leva, alheio ao drama bíblico que está prestes a acontecer.
Eu cantei para ele não mais do que um minuto. Eu não me lembro o que Michael disse depois que eu terminei. Tudo que eu lembro é que, enquanto eu estava cantando, seus olhos estavam fechados e ele estava sorrindo.''
David Suissa (editor da OLAM Magazine)
*O artigo publicado na revista e escrito por Michael foi um extrato do seu discurso de Oxford
Fonte: http://www.jewishjournal.com