Michael é capa e matéria na Billboard


Matéria publicada na revista Billboard na edição de Maio de 2014

Por trás das cenas com o time de super-produtores que pesquisou cerca de duas décadas de outtakes de estúdio de Michael Jackson, em uma tentativa de emendar o que eles esperam que seja um disco póstumo de sucesso

Há pouco mais de um ano atrás, Antonio "L.A." Reid encontrou John Branca para jantar no Cecconi's em West Hollywood. Reid era o presidente/CEO da Epic Records ("a casa que Thriller construiu," como Reid relembra) desde julho de 2011, e ele havia herdado um selo frio que, até então, não havia esquentado muito. 

Branca havia retomado seu papel como conselheiro/advogado de Michael Jackson pouco antes da morte de Jackson em 2009, e durante seu tempo como co-executor do Espólio de Jackson, apagou a dívida de U$500 milhões do cantor, graças ao seu filme-concerto This Is It (que arrecadou U$261 milhões no mundo todo) e lucrativas propriedades de apresentações de Jackson com o Cirque du Soleil.

Um dos ítens na mesa naquela noite era a ideia de Reid para um filme-biografia de Jackson cobrindo sua vida entre a idade de 19 anos - quando ele filmou The Wiz, e trabalhou pela primeira vez com Quincy Jones - e 24, quando ele e Jones remodelaram o mundo com Thriller.

Branca teve uma resposta simples para Reid: ''Não.''

"John disse para mim, 'Isto é ótimo. Por quê? Porque nós deveríamos permitir que faça isso?'" 

Reid, 57, relembra hoje. Branca reclamou que durante seu tempo na Epic, Reid não havia feito nada por Jackson. Os dois primeiros anos de Reid no selo coincidiram com sua participação como jurado no The X Factor da Fox (uma decisão que ele agora chama de "horrível") e Branca não perdoou isto, também. 

"Ele disse, 'Você não fala sobre Michael quando está na TV'" conta Reid. "Ele começou a me repreender. E eu caí na armadilha."

Mas Reid viu uma chance para provar a si mesmo, e então pediu para fazer outra coisa, algo maior: entrar nos arquivos e escutar as gravações que Jackson - que era conhecido por trabalhar, às vezes, em até 70 músicas por disco - havia deixado para trás.

"Me deixe escutar tudo," ele disse á Branca. "E então me deixe reunir meu time e fazer um álbum para Michael."

"Eu estava sendo um homem da indústria, com a bunda na cadeira", diz Reid. "Porque eu não tinha ideia do que havia nos arquivos." 

Mas agora ele conta isto com um sorriso e a confiança que vem ao perseguir uma estratégia diferente e criar algo que ninguém acreditava possível - um álbum que mereça ser discutido no contexto da extraordinária música que Jackson criou entre Off The Wall em 1979 a Invincible em 2001.

Xscape, que será lançado no dia 13 de maio, contém oito faixas de vocais de Jackson acompanhadas de nova música criada por Timbaland e J-Roc, Rodney Jerkins, Stargate e John McClain, o ex-executivo da A&M Records, que é co-executor do Espólio de Jackson com Branca. 

Os originais nos quais eles trabalharam foram gravados entre 1983 e 1999, o período logo após Thriller, no período pouco antes de Invincible.

As músicas criadas não são remixes. Reid escolheu um caminho mais arriscado, cobrando de cada um de seus produtores que criassem o que são essencialmente novas canções baseadas apenas nas faixas vocais de Jackson. 

Timbaland - o produtor executivo do projeto, que coordenou cinco faixas com seu colaborador - J-Roc - conta quase como numa história de fantasmas, a voz desencarnada de Jackson insistindo com ele, o dissuadindo de sons que não eram inovadores o suficiente, e dando sua benção quando eram.

Este é o segundo álbum completo em um contrato entre o Espólio de Jackson e a Sony Music para lançarem material inédito, supostamente estimado em U$250 milhões. 

O primeiro, Michael de 2010, enfatizou a produção mais recente de Jackson, gravadas em anos próximos à sua morte. Foi finalizado com meia dúzia de produtores, muitos de suas sessões originais, que tentaram manter as suas intenções da melhor forma que puderam. 

Os resultados estão longe do perfeccionismo de estúdio de Jackson. Branca chama o processo de "um pouco caótico" e nota que faltou uma visão geral que os guiasse.

Quando foi lançado, Michael vendeu 540.000 cópias - nem de perto um número animador. Mesmo assim, Jackson se mantém, cinco anos após sua morte, um grande negócio.

No ano passado, Michael Jackson: The Immortal World Tour, uma parceria entre o Espólio de Jackson e o Cirque du Soleil, se tornou a nona turnê mais rentável de todos os tempos, superando a Voodoo Lounge (1994-1995) dos Rolling Stones, com arrecadação de U$325.1 milhões em 407 shows que atraíram quase 3 milhões de espectadores. 

Immortal está de volta em turnê na América do Norte e um segundo show fixo do Cirque du Soleil, One, começou a ser apresentado no Mandalay Bay em Las Vegas em maio de 2013.

Os álbuns de Jackson venderam 12.8 milhões de cópias nos Estados Unidos desde sua morte, de acordo com o Nielsen SoundScan - 8 milhões deles nos meses seguidos imediatamente de sua morte, em 25 de junho de 2009, fazendo dele o artista que mais vendeu naquele ano. 

Desde então, as vendas de Jackson diminuíram. No ano passado, seus álbuns moveram 584.000 cópias, menos que Elvis Presley (1.1 milhão) e Johnny Cash (969.000), mas mais que Whitney Houston (310.000) e Jimi Hendrix (539.000). 

Xscape proporcionará um aumento nas vendas, embora o quanto irão aumentar, ainda será uma surpresa.

Por mais que um álbum de sucesso seja bem-vindo, Reid e todos os envolvidos também vêem um propósito maior: reanimar a presença de Jackson no universo pop atual. Não há dúvidas de que sua influência vive. 

Escute as músicas no Hot 100 da Billboard e você escutará faixas de discípulos de Jackson - no momento é Pharrell Williams, que por muito tempo buscou o som que ele chama de "gaguejo pop" de Jackson, no Número 1 com Happy e Justin Timberlake no Número 9 com Not a Bad Thing, co-produzido por membros da equipe de Xscape, Timbaland e J-Roc. 

Sobre trabalhar no álbum, Timbaland conta que perguntou a si mesmo, "Como eu escutaria isto no rádio em comparação a Katy Perry? Soaria velho ou soaria novo? [Eu] tive de me certificar que as músicas podiam competir com tudo o que está acontecendo hoje no mundo pop.

Em abril, Reid se reuniu com os produtores que trabalharam em Xscape, com a exceção de McClain, para conversar com a Billboard sobre a criação do álbum, e filmar um documentário. 

Eles se encontraram nos Henson Studios em Hollywood, o antigo Complexo A&M em La Brea, construído em 1966, no local do estúdio de Charlie Chaplin. 

Jones e Jackson gravaram We Are The World aqui, no estúdio A, e Jackson - que assistia obsessivamente à filmagens de Chaplin, como forma de estudo - costumava ensaiar nos estúdios de dança.

Alguns destes homens haviam conhecido e trabalhado com Jackson. Jerkins, 36, criador de hits da Brandy e das Destiny's Child, conheceu Jackson aos 16 anos, e começou a trabalhar com ele aos 19. 

"Ele me pediu um ano", conta Jerkins sobre Jackson. Acabaram sendo três anos, de 1999 a 2001. O próprio Reid produziu uma das faixas-fonte de Xscape, Slave to the Rhythm, com seu parceiro Kenneth "Babyface" Edmonds em 1989 (e quase contratou Jackson quando ele era presidente/CEO da Island Def Jam). 

Ela foi repaginada para Xscape por Timbaland. "Ele pediu [a Rodney] que trabalhasse com ele por um ano," brinca Reid. "Isso mostra para você onde eu estou como produtor - ele me pediu por duas semanas."

Jackson queria trabalhar com a dupla de produtores noruegueses Stargate - Mikkel Eriksen e Tor Hermansen, ambos com 41 anos - conhecidos por seus sucessos com Rihanna e Perry. 

O cantor era um grande fã de suas canções com Ne-Yo, e ele os conheceu no restaurante de comida chinesa, Midtown Manhattan, para discutir projetos futuros. 

"Só nós dois, e empresários, e Blanket estava lá também," conta Eriksen. "Todos no porão."

"Ele comeu?" perguntou Reid.

"Ele comeu - ele trouxe seus próprios pauzinhos para comer", contou Hermansen.

Quanto a Timbaland, 42, Reid sentiu que sua consistente inovação estava em sintonia com o desejo de Jackson de sempre esculpir um som único. Como Jackson, Timbaland libera sons de sua cabeça em beatboxes e vocalizando em estúdio. E como Jackson, ele é implacável em sua busca por novas abordagens.

"Eu sempre senti que estava à frente do tempo e ninguém entendia meu método de música. Eu sinto que tudo ao nosso redor é música. É por isso que uso grilos e pássaros e colheres e maçanetas de porta ou motores de carros, e eu transformo isso em ritmo."

Timbaland foi o primeiro a ser chamado por Reid. "Eu disse, 'Eu quero entrar no estúdio. Eu não quero conversar por telefone,'" relembra Reid. 

Os dois se encontraram no Jungle Studios na rua West 27th em Manhattan.

"Como sempre, a sala de controle do estúdio estava cheia de gente - músicos, engenheiros de som, assistentes, amigos, compositores - muita gente na sala", conta Reid. "Eu não queria conversar sobre isto em grupo. Então eu disse, 'Tim, podemos conversar?' Nós saímos e eu sussurrei em seu ouvido, dizendo que era um projeto grande e especial. Eu disse, 'Escute isso: Michael Jackson produzido por Timbaland'."

"Eu senti como se ele estivesse me dando uma tarefa", conta Timbaland. "Tipo, 'Vamos ver o quão bom você realmente é. Que tal Michael Jackson?'"

Para Reid, o projeto também é uma chance de mostrar o quão bom ele também realmente é. 

"Quando eu vim para a Epic Records, eu não sabia exatamente o porquê", ele conta. Desde que ele fundou a LaFace Records com Edmonds, há 25 anos atrás, Reid ascendeu para o topo tanto da Arista como da Island Def Jam, supervisionando lançamentos esmagadores de TLC, Usher, Outkast, Pink, Avril Lavigne e Rihanna. 

"Eu realmente precisava de outro emprego em outra gravadora?", ele se perguntou. E embora a Epic esteja subindo, graças aos sucessos recentes de Future, Sara Bareilles, Kongos e A Great Big World, os seus primeiros 18 meses lá foram difíceis. "Até começarmos a trabalhar no projeto de Michael Jackson... eu não entendi, sabe?" ele conta. "Eu precisava mergulhar em algo que tivesse o potencial para ser grande."

O processo começou com o Espólio de Jackson procurando entre os arquivos guardados em múltiplos armazéns de pertences de Jackson - tudo, desde peças de seu guarda-roupa, jóias e carros, à notas e escritos pessoais - no sul da Califórnia.

"Nós digitalizamos boa parte delas", conta Branca sobre as gravações. "Nós indexamos e as logamos para termos acesso direto aos materiais."

Não há escassez de material. Em seu auge, Jackson trabalhava rigidamente. Ele usava inúmeros estúdios, para que pudesse mover de canção para canção, algumas vezes de 16 a 18 horas seguidas. Ele cantava ao invés de tocar, mas conseguia cantar arranjos para o seu time, e trazia a eles demos de orquestrações feitas com sua voz (em ritmo de beatbox) gravadas em seu estúdio caseiro. 

"Ele tem uma música finalizada em sua cabeça e tenta fazer as pessoas a libertarem para ele", o compositor-produtor e engenheiro de som Bill Bottrell contou a Joseph Vogel, autor de Man in the Music (e do encarte de Xscape). "O seu trabalho é extrair de músicos e produtores e engenheiros de som o que ele escuta quando ele se levanta de manhã."

Jackson gravou ao excesso para cada projeto, trabalhando em músicas por anos, e às vezes, retornando a elas em álbuns seguintes - Wanna Be Startin' Somethin' começou a ser gravada durante as sessões de Off The Wall, mas acabou só saindo em Thriller

Ele cobrava mais de si mesmo e daqueles ao seu redor. Quando ele colaborou com Jerkins em Xscape, que foi gravada entre 1999 e 2001, ele mandou o produtor a ferros-velhos com um gravador de fitas DAT para encontrar novos sons de percussão. 

"Eu acabava encontrando algum som e pensava, 'Uau, isso pode caber em uma música.'

Depois de um tempo, os sons começaram a tomar vida, e foi fruto de todos os momentos em que ele constantemente me desafiava com uma nova coisa. Ele se interessava muito em tentar entender como se criava sons.

" 'Onde está o som que vai fazer você querer ouvir de novo e de novo?' " ele perguntava a Jerkins. " 'Nós temos de ser pioneiros e criarmos o próximo som.' 

Com todo este material, Reid e o homem A&M de longa data da Sony, John Doelp, tinham um alvo claro. Eles queriam encontrar canções, conta Reid, em que "Michael canta do começo ao fim, múltiplas vezes, em múltiplas faixas, porque esta era a única indicação que eu poderia encontrar de que Michael amava as músicas." 

Reid sabia bem disso - quando ele e Edmonds gravaram a Slave to the Rhythm original com Jackson em Los Angeles em 1989, durante as sessões de Dangerous, Jackson gravou o vocal 24 vezes.

"E não era no sentido de mais-uma-vez-e-vamos-arrumar-a-nota-ruim", conta Reid. "Não, ele cantava a música do começo ao fim 24 vezes sem intervalo para banheiro, água, sem um 'me dê um momento'.

Ele cantava a música e dizia 'OK, me dê mais uma faixa, eu posso fazer melhor,' e então cantava mais uma vez. 'Eu posso pegar esta. Me dê mais uma faixa,' e então ele gravava mais um vez. A cada vez ele melhorava e melhorava, mas à medida que chegamos na faixa 13, 14, nós nos perdíamos, porque elas começaram a soar iguais. Naquele momento, ele já havia a aperfeiçoado, mas nós continuamos gravando."

Entrando nos arquivos, Branca e Karen Langford - que trabalha com Branca desde 1981 e é quem sabe o que está nos arquivado nos armazéns mais do que ninguém - selecionou 24 possibilidades que iam de encontro às especificações de Reid e Doelp. 

Eles, por sua vez, diminuíram para 20, que foram editadas para cerca de 14. Oito delas estarão em Xscape, embora muitas outras tenham sido preparadas (uma versão de luxo também apresentará as faixas originais). 

As escolhas não são exatamente surpresas, mas as omissões, sim. As faixas que Jackson gravou com Freddie Mercury do Queen em 1983 não estão em Xscape, embora tanto Brian May como Roger Taylor do Queen tenham falado sobre estarem trabalhando nelas, no ano passado.

E embora uma versão de Slave to the Rhythm com a participação de Justin Bieber tenha vazado em agosto passado (apoiada por uma série de tweets de Bieber), você não a escutará em Xscape.

Fanáticos por Jackson irão provavelmente reconhecer todas as faixas. A maioria delas estava em algum estado próximo de finalizado, e vazaram ao longo dos anos, parcialmente ou em sua versão completa. Algumas delas ainda podem ser escutadas online. 

Isto não significa, no entanto, que os produtores de Xscape as haviam escutado. Tanto Timbaland como Eriksen do Stargate começaram escutando o material fonte que Reid apresentou e rapidamente decidiram a esquecer o instrumental das faixas e a trabalhar somente com os vocais e alguns barulhos captados pelo microfone.

"Você consegue ouvir o pé dele na cabine enquanto ele canta, e seus estalos de dedos," conta Jerkins. "Era tudo muito cru, muito real. Não era tipo, 'Tire os estalos, tire as batidas'. Não - é real. É ele na cabine, e ele está sentindo o que está fazendo."

"Como produtor, ele torna nosso trabalho fácil", diz Hermansen. "Tudo o que encontra nas faixas do vocais faz você querer levantar e dançar."

Para Eriksen e Hermansen, o projeto os trouxe de volta aos seus velhos tempos, remixando hits R&B americanos no final dos anos 90 - Mary J. Blige, Mariah Carey, Brandy - para o mercado europeu, criando uma camada nova de instrumentos por trás dos vocais a capella. Mas o que era prazer para eles foi mais complicado para Timbaland.

"Houve alguns momentos em que surtei," ele conta. "Era muito difícil fazer. Eu pensava, 'Eu estou fazendo Michael Jackson, mas não posso falar com ele. Então como eu o canalizo?'" Quando ele e J-Roe estavam em estúdio retrabalhando Loving You - uma canção composta e produzida por Jackson em seu estúdio caseiro em Encino, Califórnia, casa onde ele morou antes de Neverland - a primeira versão que criaram era horrível. "Eu disse, 'Eu não acho que Mike gostaria disso. Nós temos de voltar. Temos de simplificar' ", ele conta. E então eles o fizeram - optando por um som rico que ele diz que sente ser algo como Boys II Men na atualidade" - ele escutou a voz de Jackson dizendo, "É isso, Tim".

"Eu olhava ao redor, e ninguém no estúdio," ele conta. "Eu nunca dividi esta história, nem com meu co-produtor, Jerome. Ele perguntou, 'Você está bem?' E eu, tipo, 'Nah, estou bem, cara. Estou apenas...' E eu estava sentado e pensando 'Yo, eu acabei de escutar uma coisa. Eu sei que não estou louco. Eu sei o que escutei.' Então é como se seu espírito ressoasse através de mim para me dar o OK."

O foco nos vocais a capella de Jackson se tornaram um princípio orientador de Xscape. As novas versões o colocam de frente ("ele canta mais alto," conta Reid). "Nós, na verdade, chegamos a tirar algumas coisas apenas para deixar Michael respirar", conta Hermansen. "Michael está cantando e soa ótimo - então o deixe respirar e fazer o seu trabalho."

Para Reid, este projeto é pessoal em muitos níveis. Nascido em 1956, dois anos antes de Jackson, ele cresceu com a música do Jackson, vendo o Jackson 5 pela primeira vez na Ohio State Fair

"Eu era uma criança, e Michael era uma criança, e eu fiquei simplesmente fascinado com ele", ele conta. "Quando o pequeno Michael Jackson abria a boca, sua voz atravessava o chão dos estádios."

Reid relembra seu primeiro encontro com Jackson, em um evento da BMI em Los Angeles.

"Eu tirei uma foto com ele", ele conta. "Eu tinha uma cabeça cheia de cabelos e cachos bem molhados que chegavam até o pescoço." Não muito tempo depois, Jackson convidou Reid e Edmonds a Neverland para conversar sobre trabalharem juntos. Eles chegaram de helicóptero, assinaram um termo de sigilo ("porque era assim quando se visitava o Michael") e esperaram na biblioteca por Jackson.

"Estávamos lá por cerca de cinco minutos que pareciam mais como 20 - ansiedade, nervosismo, mantendo meu olho na porta, esperando Michael entrar, Michael está chegando. Ele nunca vem daquela porta. Ele vem de uma porta secreta - os livros se movem e então entra Michael." 

Os três começaram a falar sobre música, sobre o que eles amavam naquele momento. Jackson mencionou The Knowledge, uma música lançada no álbum de sua irmã Janet, Rhythm Nation 1814, produzida por Jimmy Jam e Terry Lewis. 

Reid começou a se preocupar. "Toda canção que ele mencionava havia sido composta e produzida por Jimmy Jam e Terry Lewis. Então, eu comecei a olhar para Kenny, tipo, 'Eu acho que Michael tem os caras errados. Eu acho que ele queria Jimmy Jam e Terry.'"

Mas logo, Jackson já começou a mencionar canções de Tender Love de Edmonds, então dominando as paradas de R&B e pop.

O dia terminou com uma exibição no cinema de Jackson ("havia uma atendente lá de uniforme completo, com um pequeno boné, como se estivéssemos nos anos 40") onde eles assistiram a um vídeo de 1983 de Jackson e Prince no palco com James Brown, seguido pela exibição do filme de Prince lançado em 1986, Sob o Luar da Primavera.

Quando eles começaram a trabalhar juntos, Jackson escolheu uma demo, com apenas a bateria e o baixo e disse, "Esta é que quero. Terminem." Mas a faixa, Slave to the Rhythm, não foi realmente terminada até Xscape.

Enquanto ele continuava presidindo selos, Reid manteve contato com Jackson, e conversou sobre contratá-lo para a Island Def Jam.

"Ele me chamou de Sr. Presidente," conta Reid. "Foi a coisa mais doce do mundo." Os dois se encontraram no Hotel Dorchester em Londres. 

"Ele disse, 'Eu não quero outro hit, eu não quero fazer apenas outro disco. Eu quero fazer algo grande. Se não puder ser grande, se não puder ser inovador, se não puder ser massivo, se você não estiver tão comprometido quanto eu estou, então não devemos fazê-lo. Mas se você se comprometer comigo, eu me comprometerei com você."

Não aconteceu. Jackson assinou um contrato que pouco tempo durou com o sheik Abdullah bin Hamada Al Khalifa, o príncipe do Bahrein.

"Michael e eu seguimos nossos caminhos sabendo que queríamos trabalhar juntos", conta Reid. 

Xscape cumpre esta intenção. É tão focado e coerente como um álbum póstumo poderia ser, expressando as liberdades criativas que Jackson buscava em sua música.

Construído do chão em torno da voz e legado de Jackson, ele sucede simplesmente por soar como música feita por Michael Jackson, cheia de alegria e desespero, muitas vezes sem distinção entre os dois.

E ele transporta o espírito do falecido gênio do pop do passado para o futuro, o lugar onde Jackson sempre quis que sua música vivesse.

Tradução: Bruno Pórpora

Fonte: http://arquivo-mj.blogspot.com.br