''[...] Parece que a vida de Michael Jackson sempre foi confusa, porque ele sempre desafiou o modo de pensar americano tradicional e, mais genericamente, a ideia de como as pessoas deveriam se comportar nos diferentes estágios de suas vidas. Quando ele era criança, as pessoas o consideravam um adulto, um cantor anão que fingia ser uma criança. Quando um adulto, as pessoas o viam como uma criança que nunca cresceu.
Entre essas duas concepções e muito além delas, Michael Jackson não se encaixava em nenhuma dessas categorias. Não correspondia a nenhum paradigma dado pela sociedade. Nem cronológico nem linear, a vida de Michael Jackson nunca foi uma simples justaposição de experiências que normalmente permitem que as pessoas construam sua própria identidade.
O conceito simples de identidade estava fora de sua vida pessoal porque ele tentou superar qualquer tipo de dualismo em relação à raça, gênero e música. Nem velho nem jovem, nem homem nem mulher, nem negro nem branco, seu modo de vida era uma transgressão em si, uma transgressão do que é comumente admitido, uma transgressão que supera todo tipo de preconceito. Ele era ao mesmo tempo o olho que vê e a música, o homem que vai além do espelho. Único e universal ao mesmo tempo, incorporou uma transcendência do conceito de identidade. Mas era uma maneira perigosa de explorar as fronteiras da vida negando qualquer tipo de "pertencimento''.
O mundo de Michael Jackson é um mundo de fantasia no qual a identidade se torna sem sentido, na qual a relação entre realidade e irrealidade é irrelevante. Na verdade, seu rancho Neverland explorou o imaginário, o desejo de algo que é impossível. Ao mesmo tempo, suas múltiplas transformações físicas traduzem esse ideal de indiferenciação, de ser si mesmo e do outro, buscando a unificação com o outro. Suas relações com as mulheres estavam no mesmo nível, uma intrincada mistura de fantasia e desejo, o que levou a incompreensões e condenações públicas.
Além dessas considerações de heterossexualidade ou homossexualidade, Michael Jackson transcendeu essas representações de gênero dicotômicas e superou o simples fato de ser homem ou mulher. Suas transformações físicas ao longo dos anos confirmam seu desejo de representar um personagem andrógino que empresta as características do homem e da mulher. No entanto, essa abordagem transcendental do 'eu' foi profundamente mal compreendida, especialmente pelos ocidentais, que confundiram o caminho de Jackson com a homossexualidade.
No entanto, transcendendo o simples dualismo da identidade masculina e feminina, ele foi capaz de combinar dois aspectos de uma única realidade, cada um contendo o outro. Superando o papel tradicional de gênero, Michael Jackson trouxe a universalidade em sua arte...''
*Trecho extraído do livro Michael Jackson and Women, uma obra da escritora estadunidense June Forester.
Fonte: Michael Jackson FanSquare • Italia