Isto aqui não começou com o intuito de defender o ícone pop. Quando a entrevista foi gravada, nem Bob Jones nem eu estávamos cientes das acusações levantadas contra o jovem superstar. Nós conversamos na quarta-feira, 18 de agosto, três dias antes dele acompanhar Jackson na sua turnê mundial.
Na verdade, o objetivo era mostrar como ele é realmente, mas devido aos recentes eventos que circulam pelas cabeças sujas, senti que o público tinha o direito de saber do pressentimento de Jones. Ele era um homem assustado, mas não da maneira que você suspeitaria. Aqui estão as proféticas declarações de Jones. Na minha ingenuidade, achei sua ansiedade sem fundamento, até porque como você poderia deter o fenômeno Michael Jackson? Na sua sensatez, ele sabia do inevitável. Uma maldição veio com a tempestade de Michael. Uma maldição em que ele seria destruído se prosseguisse e condenado se não.
Indiretamente, Jones me levou aos seus primeiros dias de trabalho com Michael. Ele trabalhava como relações públicas para a Motown, mas antes como relações públicas na famosa firma Rogers and Cowan Public Relations. "Fui trabalhar com Michael em dezembro de 1987 e não me arrependi nem um pouco. Eu pensava que por trabalhar com as Supremes, os Temptations, os Commodores, Steve Wonder, Smokey Robinson, Four Tops e todas aquelas pessoas que eram parte da Motown, já tinha visto tudo que a América tinha a oferecer”.
“Repentinamente, fomos ao primeiro trabalho fora do país. Fomos a Roma, onde tocamos três noites no Coliseu para 55.000 pessoas por show. Foi de enlouquecer! Nunca tinha visto algo como aquilo. Não ver nenhum negro lá já era extraordinário, mas ver que aquele cara negro havia feito todas aquelas pessoas irem ao seu show era incrível. Nós não apenas tocamos em Roma, mas em toda a Itália. Fomos a Paris e o público só fazia aumentar. Fomos a Londres e tocamos cinco noites no estádio de Wembley para 72.000 pessoas por show, todas querendo ver aquele homem negro. Vi brancos passando mal e desmaiando, e não pude acreditar. Não acreditava. Aquilo realmente me assustava”.
Sentei perplexa no escritório de Jones por sua insegurança, mas agora enxergo a previsão nas suas palavras. "Porque estou ciente e acredito no sistema... Quando você senta e sabe que não consegue levar 20.000 pessoas para irem ver o presidente, os prefeitos e governadores juntos num estádio, mas vê um negro conseguir, dá medo, porque sei como o sistema funciona”.
"Eles estão assustados. O sistema tem medo de ver um homem negro com esse tipo de poder, especialmente um negro sobre o qual eles não têm controle. Um homem negro que está limpo, do qual eles não podem dizer nada, que não fuma nem bebe.
O sistema não está pronto para concebê-lo. Michael é como o Flautista de Hamelin para a juventude branca. Se ele decidir fazer declarações e tomar partido em certas situações, tenho certeza de que o sistema cai. Michael se torna nocivo ao que o sistema representa na América e no mundo. Ninguém, a não ser o Papa, tem seguidores como ele.”
Vamos a uma nova tangente: transformá-lo num maluco. Eles tentam fazer de tudo. O sistema preferiria louvar Elvis Presley, que nós todos sabemos que era drogado. Eles dão qualquer desculpa no mundo para não dizer que este homem era viciado em drogas. Ora, ele morreu de overdose. Jones sente que Michael fez uma aliança consigo mesmo. "Ele não deteriora seu corpo, sua saúde. Ele é limpo. Mas se pudessem, tenho certeza de que o transformariam num sujo - é só ler o que há na imprensa. Se encontrassem Michael Jackson com um cigarro de maconha, esqueça tudo... eles o destruiriam”.
"Tudo que o sistema não pode controlar, ele não permite existir. Não somos aqueles que ousaram desafiar o sistema. Tenho plena convicção de que vivemos em uma sociedade programada - as pessoas estão caminhando como idiotas, idiotas programados. Aquela caixa idiota diz o que comprar e quando ir - é hora do futebol, então venha assistir ao seu programa de tv - e aí o saco de batatas é aberto. É impressionante como o homem não usa mais sua mente para pensar. E o sistema está ciente disso, ele sabe disso e tira vantagem disso. Na política, em tudo".
Sua íntima aliança com o brilhante superstar segue por 30 anos. Começou quando ele representava James Brown, no auge de James Brown, quando ele havia lançado discos comoSay It Loud, I'm Black and I'm Proude era o negro número um na América. Os Jackson Five estreariam em Los Angeles. Ele trabalhava para a Rogers and Cowan Public Relations quando ela estava manejando todas as apresentações da Motown.
"Trabalhei na Rogers and Cowan e aprendi de alguns dos melhores. Certa noite, tínhamos uma festa para James no Playboy Club quando ele ficava no Sunset Boulevard. Era para um artista chamado Randy Crowford e um grupo chamado De Felise Trio (desculpa a pronúncia), que estavam gravando pelo selo de James. Tínhamos uma grande festa no Playboy Club das 6 às 9 horas da noite. Às nove também haveria uma festa no Daisy Club para apresentar um novo grupo chamado Jackson Five. Então as pessoas foram à festa que fiz para James, mas às 8h30-8h45 nós encerramos e todos correram para o Daisy ver a estréia daquele jovem grupo que a Motown estava apresentando. Aquela foi a primeira noite em que conheci os Jacksons e a primeira noite em que os vi se apresentar”.
"Eu ainda estava na Rogers and Cowan na época, mas também estava trabalhando com os Jackson Five. Eu estava cobrindo todas as entrevistas, etc. Foi o começo da minha associação com os Jacksons. E mesmo ainda trabalhando na Rogers and Cowan, eu os acompanhei quando eles fizeram sua primeira turnê”.
Aquele foi o início do cultivo de uma longa amizade entre Jones e Michael. Sobre o Michael juvenil, Jones afirma: "Michael sempre foi uma criança traquina. Ele adorava brincar e correr para dentro da sala para ver se encontrava alguma cerveja e ir contar para toda a equipe. Adorava guerra de travesseiro. Sempre amou animais, roedores, coisas do tipo. Na verdade, eu nunca gostei de ratos nem de cobras, e ele tinha esses bichos. Então, ele sempre dava um jeito de me fazer correr. Cobras e ratos eram o bastante para me fazer sair correndo da sala para o mais longe possível”.
Você pode escolher um lado se quiser. Todo mundo tem sua opinião. Conheci Michael e escolhi acreditar no melhor dele. Eu vi sua compaixão, amor e gentileza pelas crianças. Porém, embora eu tenha escolhido acreditar em todas essas coisas, sei que nenhuma delas é conveniente para mim. Mas Jones viveu com Jackson por 30 anos. Se Michael tinha intenção de mascarar seu caráter, ele teria descoberto aos poucos, ou então Michael é um exímio ator.
Para finalizar a primeira de duas partes de uma história sobre a longa sociedade de Jones e Michael, e o que acontece quando supermentes convergem, deixe-me contar com as palavras de Jones e de Jesus, não com as dos maledicentes de Michael, pois todos temos que esperar pelo veredicto final. Saberemos de toda a verdade? As declarações de Jones deixam abundantemente claro. Poderemos ter realmente certeza? Jones me disse: "Deus deu a Michael um tipo de dom, e ele quer compartilhá-lo. Ele percebe que há algo que Deus lhe deu que é especial, e é essa a razão pela qual ele compartilha com as crianças e jovens da maneira que compartilha". Verdade. Deus sabe. Michael sempre deixou sua missão ser conhecida de todos os homens.
Alguém pode dizer que assumir a criação de um legado para o eminente Michael Jackson é uma tarefa fácil. É só sentar e deixar Michael ir em frente. Não é bem assim, diz Bob Jones, vice-presidente e relações públicas da MJJ Productions, cujo trabalho é nunca deixar o nome do superstar morrer nas cinzas do esquecimento, como foi o destino de muitos antes dele.
Bob Jones está firme lutando por esta causa, tão dinâmico quanto Michael é potente em suas performances e canções. Como um dínamo, Jones ajuda Michael, o diplomata, a lidar com os rigores da vida de um superstar, enquanto mantém seu nome vivo por muito tempo após seus altos e baixos. É Michael quem é as manchetes, mas é Bob Jones quem as fabrica.
Jones diz: "Há um fator importante que Michael sente. Ele tem estudado e lido sobre todos os artistas lendários. Ele estudou seus erros, e ele sabe que se não criarmos um legado, nunca haverá um para nós. Porque até Natalie cantar Unforgettable, Nat Cole estava esquecido. Sammy Davis -- só se passaram quatro anos e você não ouve mais falar nada dele. Sammy era o maior, e ele fez de tudo para tentar fazer você gostar dele, e mesmo assim, quando ele estava morrendo de câncer, teve que sair, trabalhar pelo mundo afora".
"Quando um deles (brancos) está em queda, dão um programa ou algo do tipo, assim eles não têm que passar por esses esforços. Isso não acontece conosco. Quando aqueles jogadores de futebol abandonam a chuteira, eles vão para uma companhia de cigarros, de cerveja ou de whisky. É assim, ou então tudo acaba. Os garotos brancos conseguem comerciais na televisão, e então uma nova carreira começa para eles. Não é assim conosco, então minha missão é criar um legado para Michael."
Até agora Jones tem tido êxito com a construção do legado de Michael, mas apesar da fama de Jackson, Jones encontrou pedras no caminho para imortalizá-lo. Ele foi capaz de conseguir re-nomear o auditório da escola que Michael freqüentou para Auditório Michael Jackson. Criou prêmios tais como o The Boy Scouts, que está saindo com um Prêmio Michael Jackson, a BMI tem um Prêmio Michael Jackson, assim como o Jack the Rapper. "Para manter o nome dele vivo”, diz Jones. "Você não imagina quantos grandes negros se foram. Você não ouve mais nada sobre essas pessoas. Está acabado para nós uma vez que paramos. E se você não colocar seu nome num prédio ou algum lugar..."
Não é tarefa fácil. "Não é automático", ele me explica. "Neste momento, estou trabalhando para conseguir que re-nomeiem a escola onde Michael estudou para Escola Michael Jackson. Primeiro eles disseram que ele teria que estar morto. Por que você tem que estar morto? Suas contribuições são feitas enquanto você está vivo". Jones também suporta o peso do problema com o mural em Hollywood, que tem durado há mais de três anos. "Começamos há três anos com o Conselho de Artes de Hollywood. Eles me falaram sobre fazer um mural para Michael. Mas então alguns idiotas disseram: ‘Não, queremos Orson Wells. Qualquer coisa menos um negro lá naquela parede’. É desse tipo de coisa que falo. O racismo está vivo, bem e firme aqui em Los Angeles. Não se engane."
Jones herdou seu emprego através de um longo e árduo caminho. Ele entrou no jornalismo enquanto freqüentava a USC. Lá ele era um grande fã dos falecidos Walter Winchell e Louella Parsons. E então viu todas as festas de Hollywood acontecerem e quis freqüentá-las. Começou escrevendo uma coluna sobre crianças no ginásio para o California Eagle, o que não durou muito. Acabou indo para o Herald Dispatch, onde foi escritor e editor de entretenimento à altura daquela publicação. Após sindicar sua coluna de Hollywood para mais de 80 jornais negros, conheceu Bobby Darin, que era um entertainer naquela época, ele diz.
Eles se tornaram melhores amigos, e esta associação o levou ao seu próximo emprego, como relações publicas na Rogers and Cowan Public Relashions. Jones havia tentado assegurar um emprego na Motown primeiro, mas ele conta: "Eu tinha pedido um emprego na Motown antes de ir para a Rogers and Cowan. E como é típico em certas ocasiões, acho que eu não estava qualificado até ser aceito pela Rogers and Cowan."
Da Rogers and Cowan, Jones foi para a Motown e pensou que morreria lá. Mas como que escrito pelo destino, Michael Jackson lhe telefonou um dia após o lançamento de Bad. Jones não esperava, mas eles se encontraram e Michael lhe perguntou o que era necessário para trazer-lhe para seu lado, Jones disse-lhe. Já Michael tinha apenas uma condição. “Ele disse: 'Você tem o emprego, contanto que converse com Berry Gordy e não me faça ter problemas com ele, porque temos uma boa relação.' Eu disse: 'OK'", e Jones agiu para fazer a transição da Motown para a equipe de Michael.
Jones me contou que Michael era sempre uma mente muito, muito questionadora, sempre querendo saber o que estava acontecendo e se aprofundar na maneira como as coisas funcionavam. "Talvez", ele diz, "grande parte de seu sucesso hoje é baseado no fato dele ter tido uma mente sempre questionadora, querendo saber, explorar e descobrir o que estava acontecendo acima e além dos seus irmãos".
A mania e mística Michael Jackson, para Jones, é um alimento para o ego de Michael. "É tranqüilizante saber que Deus lhe deu esse tipo de força, da qual ele não abusa nem usa de maneira errada”. Jones me falou de demissões quando pessoas da equipe de Michael tentaram tirar vantagens dos fãs. Jackson não tolera isto.
Jones credita à mãe de Michael muito do talento que ele absorveu. "Eles não dão à sua mãe crédito o bastante. Eles não tinham uma televisão durante aqueles anos em Indiana, e viviam como amontoados numa caixa. Eles se juntavam e cantavam, porque era o único jeito deles se entreterem. Foi o que os fez evoluir e desenvolver seu grande talento. A mãe deles gostava de country. Pelo menos havia união. Todos participavam. Acho que foi o início do fim daquela união dentro da família."
Jones diz que Michael é muito próximo de sua mãe e tenta ser próximo de todos da família, mas se torna difícil. "Acaba sendo muito difícil", Jones enfatiza.
Perguntei a Jones como era Michael, o homem de negócios. "Ele tem um coração de criança, mas sabe o que quer. Tenho sorte dele me conhecer há tantos anos. Não tenho que ser um puxa-saco."
Ele continua contando que Michael não gosta de entourages. Ele é muito reservado. Jackson gosta de se virar sozinho, e Jones é como o touro lutador na arena de Michael. Ele lutou para ter a entrevista de Oprah Winfrey divulgada na Ebony, Jet e BET [nota da EDCYHIS: órgãos de mídia devotados ao público negro]. Durante os acordos, Jones se pegou dizendo a si mesmo: "Espere aí. Oprah pode não se importar, mas essa é a razão pela qual estou aqui. Eu me importo. É o mais importante. Michael Jackson é negro, antes de tudo".
Além de adquirir certos pertences para a coleção particular de Michael e manejar todas as facetas dos shows de prêmios, é Jones quem vai às lojas de livros de negros e compra centenas deles de uma só vez para que Michael possa conhecer quem são os inventores negros, saber quem são os compositores negros.
"Ele tem sido educado sobre sua gente", Jones diz, "Essas coisas são importantes, porque se você não sabe quem é e de onde vem, você não sabe o que está fazendo. E ele sabe, e me diz o tempo inteiro: 'Bob, não desista. Nunca desista, nunca diga que não é possível. É isso que o sistema quer... que você diga que não dá e desista. Eu nunca desisto. Nunca duvido que possa acontecer.'" Jones diz que está na indústria do entretenimento há 40 anos, mas Jackson lhe ensinou coisas "que me fazem continuar a amadurecer".
Sobre as atividades de interesse de Michael e Jones, Jones diz: "Ele é gentil... um dos caras mais legais - ele nem fala palavrão. Como sei que vivemos nesse mundo de cães e gatos, agradeço a Deus por ele ter a mim e a alguns outros como eu para espantar essa gente, porque sou capaz de virar um alter-ego e mandá-los ir pro inferno. Você não acreditaria nas propostas que chegam aqui..."
"Ele é realmente o cara mais legal. Ele não fuma, não bebe e não acredita em pensamentos ruins. É por isso que suspeito da maioria daqueles que chegam aqui, porque todos têm um plano, onde é tudo ou nada. A sociedade em que vivemos é assim, impiedosa. Tudo o que vale é dinheiro e nada mais. Foi nisto que a América se transformou. Quando olho para ele (Michael), digo: 'Que bom que Deus te escolheu.'
Bob Jones (vice-presidente da MJJ)
Por Carolyn Bingham, traduzido por Daniele Soares
Fonte: The Los Angeles Sentinel\titulo original 'A Força Oculta por trás do homem em evidência'
Site MJ Beats