Esses diálogos entre Michael e o Rabino Shmuley Boteach
foram gravados entre agosto de 2000 e Abril de 2001.
Parte 19 - A entrevista com Katherine
SB: Então, você quer que isso seja mais do que uma conversa. Primeiramente eu quero conhecê-la e lhe dizer que é um grande prazer. Eu sou amigo de Michael. Ele sempre fala da senhora. Na verdade, a senhora é uma das figuras centrais do livro.
Katherine Jackson: Mesmo?
SB: Oh, ele adora a senhora. Fomos à Neverland e vimos o trem Katherine, a montanha Katherine. E quando ele fala da senhora, os olhos dele quase se fecham e ele quase entra em êxtase entusiástico.
KJ: [risos] Ele é um filho e tanto. Ele é um filho muito bom.
SB: Oh, ele te venera. A senhora é uma das maiores matriarcas da América. Quem pode alegar ter uma família que atingiu coisas que a sua atingiu? A senhora deve ter muito orgulho de seus filhos.
KJ: Eu tenho. Eu tenho muito orgulho, mas você sabe, tem que se pagar o preço.
SB: Se a senhora quiser que eu desligue o gravador, tudo bem...
KJ: Quer dizer, quando eu quiser?
SB: Quando quiser que eu desligue, eu desligo.
KJ: Tudo bem. Qualquer coisa que você queira me perguntar, eu estou pronta.
SB: Você quer dizer 'pagar o preço' em termos de fama?
KJ: Sim. Quando se refere à fama, sabe, você paga o preço. Às vezes é bom, às vezes é ruim. As pessoas gostam de ouvir coisas ruins. Pessoas inventam coisas sobre você e isso magoa de certo jeito, pois você percebe um monte de gente... Eles vão à TV e dizem um monte de coisas sobre você, que nem eles mesmos sabem. Você vê que não é verdade, mas está acontecendo. Então você tem que ser forte para passar por isso.
SB: Como você se deu conta do extraordinário talento musical em sua família?
KJ: Bom, eu sempre amei música. Meu marido também. Minha irmã e eu, quando éramos jovens, costumávamos cantar juntas, o tempo todo, e agora o engraçado disso, meu pai, veio de Indiana, Leste de Chicago, foi onde eu cresci. Meu pai costumava ouvir uma estação de rádio - não tínhamos televisão naqueles tempos - e essa estação era chamada Super Time Frolic.
E, toda noite, ela dava sinal para todo noroeste do país. Ele [o pai dela] deu para o meu filho Tito um violão. Depois que eu casei e me mudei para Gary, meu pai trouxe o violão para Tito como um presente. E os garotos - depois que ganhamos uma televisão - costumavam assistir, sempre que os Temptations se apresentavam, isso era nos anos sessenta. Começou mesmo quando eu comecei a cantar com eles.
SB: Não tinha ouvido isso. Você costumava cantar com eles?
KJ: Você não leu sobre isso? Sim. Não, não, não profissionalmente.
SB: Não, eu entendo. Em casa...
KJ: Quando eles eram pequenos, quando eram bem jovens. Eu acho que Michael nem havia nascido ainda, naquele tempo e sempre quando... Tínhamos que pagar para ter TV por um mês. E sabe, quando você compra e vai pagando por mês. E nossa TV quebrou, estava frio, e nevando e nós não tínhamos... As crianças não tinham nada para fazer. Então começamos a cantar canções.
Eram canções como Old Cotton Field Back Home. Eu não sei se você conhece essas canções, canções folclóricas mesmo. E mesmo antes disso, meu marido e eu costumávamos cantar juntos pela casa, enquanto fazíamos nossas tarefas, harmonizando, e sempre amamos música e a família de meu marido era toda música. Ele toca harmônica, ele costumava tocar, e violão também, e seus irmãos tocavam saxofone e trombone e meu pai tocava violão. Então, apenas amávamos música e eu acho que essa foi a haste.
SB: Você não vê como algo genético?
KJ: Bom, poderia ser, porque minha...
SB: Não há uma família de verdade que tenha esse registro de...
KJ: Meu avô ou meu bisavô, eu diria bisavô, e minha mãe, costumavam me contar histórias sobre como eles mantinham velhas janelas de madeira, onde eles costumavam abrir para cantar e se podia ouvir as vozes deles ecoando pelo campo e não havia mais nada para fazer.
Isso era a coisa mais barata que se podia fazer para entreter você e sua família, pois não havia muito dinheiro para sair na época, então tínhamos que nos entreter com música. Violões e harmônicas.
SB: Então, você acha que essas famílias eram mais felizes do que as famílias de hoje, que têm dinheiro?
KJ: Oh sim, eu acho. Eu realmente acredito nisso. Pois mesmo quando morava em Gary eu era muito mais feliz, de certa forma. Eu sou feliz hoje, mas... As famílias eram mais próximas e eu acho que toda família sente que, quando são pobres, são mais próximas.
SB: Algumas das perguntas que eu tenho... Vamos começar primeiro com Michael. Ele queria que eu a conhecesse, pois a senhora tem muitas estórias para contar que ele possa ter esquecido. Por exemplo, o quê fez ele ser o que ele é? E não estou falando do lado musical. A maioria das estrelas de Hollywood que ganhou muito dinheiro e são mundialmente famosas, são arrogantes e egocêntricos. Não estão interessados nos jovens. Essa é última coisa na qual eles se interessariam.
Primeiramente, Michael vivia em casa até os 27 anos, o que é incrível. Quero dizer, quem ouviu sobre isso... Macaulay Culkin se mudou quando ele tinha uns 11 anos [eu estava exagerando]. Como a senhora lida com essa suavidade e gentileza dele, o amor dele pelos animais e pelas crianças, pela sensibilidade pela vida que ele tem? Ele é como um garoto, coisas o surpreendem e o assombram - como a senhora lida com isso?
KJ: Você sabe que essas perguntas que fez são difíceis de responder, de certa forma. Mas, cada um deles costumava ter um gato e eu disse: " Você podem ter um gato, mas não os tragam para dentro" e as coisas foram assim por anos, antes de virmos para Califórnia.
SB: Então, aqui, ele já estava demonstrando isso, desde a tenra idade.
KJ: O amor por animais, desde cedo e Janet era outra que amava animais desde pequenina. Não temos uma regra, mas os animais ficam lá fora. Animais corriam perdidos, estavam em todo lugar. Depois que viemos para a Califórnia ele puderam ter animais, então eles tinham cobras e uma ovelha.
Aqui em Encino tínhamos um pequeno zoológico. Tínhamos uma girafa. Ele amava essas coisas. Sabe, eu acho que é por isso... Vou te dizer no que eu acredito, É por isso que quando voltamos para Indiana, foi ruim. Gary, Indiana, era lugar ruim. E meu marido, ele não deixaria as crianças saírem e ficar com... com os outros jovens da vizinhança.
SB: Por que nada disso entrou na cabeça de Michael? Por que ele ficava em casa? Ele me disse "Sou da moda antiga. Fico em casa até me casar!" Você o criou com esses valores? Com que fé a senhora o criou? Michael é fundamentalmente uma pessoa suave e sensível. De onde vêm isso?
KJ: Eu odeio dizer isso.
SB: Todos os outros são como ele?
KJ: A maioria deles, sim. Eu diria que - e eu odeio dizer isso. Eu costumava dizer à ele o tempo inteiro que era muito parecido comigo e eu não queria que ele fosse assim.
SB: Foi exatamente o que ele disse.
KJ: [risos] Eu costumava dizer para ele: "Não quero que você seja assim. Você é um homem. Você tem que ser forte.¨ Sabe. Mas ele é gentil. Ele é apenas um homem gentil.
SB: Então, o que a senhora está dizendo é que a brandura dele vem da senhora. Ele era mais apegado à senhora do que ao pai.
KJ: Oh, sim.
SB: Então ele te tomou como exemplo.
KJ: Oh, sim.
SB: E ele, de verdade, acredita em ser gentil do que ficar magoando e infringir dor em alguém.
KJ: Nada mau.
SB: E a senhora é calma assim por causa da sua fé religiosa? Michael fala da sua fé, o tempo todo.
KJ: Não, eu sou assim o tempo todo. Eu nem sempre fui uma Testemunha de Jeová.
SB: A senhora era Testemunha de Jeová quando era jovem?
KJ: Não era. Eu era Batista. Minha mãe nos criou assim, nos levando para a escola na igreja, todo sábado e para ser parte do coral Júnior.
SB: Então a senhora foi criada como Batista?
KJ: Sim.
SB: E a senhora ia à igreja? A senhora era uma Batista religiosa?
KJ: Sim, eu ia à igreja, mas eu não gostava do que eu via na Igreja Batista. Depois que eu fui julgada pelo jeito que as pessoas agem e o que fazem, é que eu saí.
SB: E onde foi isso?
KJ: No leste de Chicago, Indiana.
SB: Pois você viu coisas que te desanimaram e a senhora decidiu procurar uma religião melhor na idade de... Doze? Treze?
KJ: Sim, Doze, treze. Minha irmã e eu estudávamos para sermos Testemunhas de Jeová... Bem, estávamos estudando com os vizinhos que eram Testemunhas. Pois as Testemunhas de Jeová vêm e ensinam a Bíblia para as pessoas. Minha mãe descobriu e ficou brava conosco e nos fez parar. Então, depois que eu cresci, me casei e me mudei, eu me lembro disso. Foi aí que eu comecei a estudar.
SB: A senhora era casada?
KJ: Sim, eu já era casada.
SB: Então a senhora foi exposta às Testemunhas de Jeová quando era adolescente.
KJ: Sim.
SB: Mas seus pais sentiram que era algo que eles não queriam.
KJ: Certo.
SB: Então eles dissuadiram você. Mas a senhora ficou com isso, internamente. Então, quando a senhora teve mais independência e liberdade, você casou jovem?
KJ: Aos 19 anos.
SB: 19? Minha esposa casou aos 19. É como um número na família.
KJ: Mmmmm.
SB: Então a senhora se casou aos19 e se mudou com seu marido direto para Indiana?
KJ: Para Gary, Indiana? Não, quando nos casamos ficamos e meses depois nos mudamos para Gary, Indiana.
SB: Então foi nessa época que a senhora se reencontrou com as Testemunhas de Jeová?
KJ: Sim, mas foi eu acho dez ou doze anos depois.
SB: Mas o que a fez estudar com elas? Eu sei um pouco sobre isso, pois eu li. A senhora sentiu que havia encontrado uma sinceridade maior?
KJ: Bom, é isso a religião das Testemunhas de Jeová, estritamente ditada pela Bíblia e acreditam em estar fazendo o certo. Assim, se você comete adultério ou algo do tipo, você é desassociado. Se você é casado e comete adultério, o que é errado, então você é desassociado da religião. Muitas coisas me fizeram acreditar nela. E eu acredito. Há um Criador que se importa com você e então temos que examinar as Escrituras diariamente.
SB: Todos os dias vocês tem alguma coisa para ler?
KJ: Aha.
SB: O Novo e o Velho Testamento?
KJ: Aha.
SB: E a senhora leva esses livros para onde quer que vá?
KJ: Bom, não aquele [ela aponta para um livro]. Mas esses são apenas testemunhos de pessoas sobre o que passaram.
SB: Você sente que é baseada na Bíblia então é muito autêntica. Ademais, é uma religião verdadeira, então realmente tocou você. E então, você se converteu formalmente?
KJ: Não, eu estudei. Você tem que estudar a Bíblia.
SB: Seu marido seguiu o mesmo caminho que a senhora?
KJ: Ele estudou também, mas não se tornou uma. Ele pensou que era muito severa para ele. Minha filha mais velha (Rebbie) foi batizada. Michael foi também uma vez.
SB: Mas nenhum filho?
KJ: Não. Mais nenhum.
SB: E por que foi assim? Por que uns e outros não?
KJ: Eu acho que não quiseram, eu não forcei nada. Deixei para o livre-arbítrio deles se quisessem ser.
SB: Então, numa certa idade, você falou para Michael sobre religião e ele aceitou?
KJ: Não, mas eu acho que ele queria e foi comigo para o Salão do Reino.
SB: A senhora ficou orgulhosa pelo fato dele se tornar uma Testemunha de Jeová?
KJ: Fiquei muito orgulhosa.
SB: E nessa época ele já era famoso? Ou era só um garoto?
KJ: Ele já era famoso, em um certo ponto. Sim, ele era famoso por que os Jackson 5 ficaram muito famosos de primeira.
SB: Certo, então foi na idade em que ele já estava nos Jackson 5.
KJ: Certo. Certo.
SB: Mas ele foi o único dos Jackson (dos meninos) que foi batizado?
KJ: Ele foi o único.
SB: E ele costumava ir com a senhora, aos domingos, à igreja?
KJ: Oh, sim, aha. E costumava ir por conta própria.
SB: Eu perguntei à Frank, esse belo artigo sobre Michael e eu escrevi sobre pioneirismo e Sabbath. Um belo artigo.
KJ: É mesmo?
SB: Oh, e teve cobertura em todos os lugares.
KJ: Mesmo?
SB: Oh, e foi enorme. É uma pena que ele não tenha te mostrado isso, pois é um belo artigo.
KJ: Oh, por que ele não me mostrou?
SB: É belo artigo sobre como ele adorou o Sabbath.
KJ: Mhmmm.
SB: Ele disse que iria com a senhora. E me disse que o que havia gostado era que nunca o haviam tratado diferente, que embora ele fosse agora uma estrela, eles o chamariam de Irmão Jackson.
KJ: Aha.
SB: Eles iriam continuar em não tratá-lo diferente, não menos, não mais do que outro.
KJ: Sim.
SB: A senhora percebeu isso também? [falando das Testemunhas]
KJ: Sim, eu percebi. É assim que eles pensam. Há muitos artistas que são Testemunhas de Jeová. Não consigo lembrar do nome de um grupo, sabe, Benson, Ronie Loss. Eu posso nomear um monte de artistas que são Testemunhas de Jeová. E eles os tratam do mesmo jeito. Não os tratam diferente. Os trata como que se fossem um deles.
SB: O Michael gostava disso? Que ele poderia finalmente ser ele mesmo?
KJ: Sim, eu acho que sim.
SB: Ele também me disse que eles eram muito bons. Que se os repórteres o seguissem até a igreja eles não davam muita importância a isso. [rindo]. No artigo escrevemos de forma brincalhona “até os repórteres eram filhos de Deus”.
KJ: [rindo] Isso é verdade.
SB: Ok, então a senhora tem todos esses filhos, alguns deles abraçaram a religião e Michael foi um deles, embora ele fosse uma grande estrela. Sempre pareceu, para mim, em nossas conversas, que Michael tem uma espiritualidade natural, que ele é naturalmente próximo à Deus.
KJ: Sim. Aha.
SB: A senhora poderia comentar isso? A senhora percebeu isso nele logo cedo?
KJ: Aha.
SB: Ele rezava antes de ir dormir à noite?
KJ: Sim, eu acredito que ele rezava. Como eu tenho alguns filhos... Eu não sei ao menos se eles, eu não sei, eu não posso dizer por que...
SB: A senhora fica desconfortável em falar sobre isso?
KJ: Estou bem. Mas eu sei que Michael é espiritual. Ele sempre foi uma criança quieta e espiritual. E ele apenas ama pessoas, ama as crianças. E nós nos sentávamos e apenas chorávamos quando víamos... pois é muito triste e eu sabia então, sabe... e ele costumava me dizer: "Eu não sei como curar o mundo todo, mãe... mas eu posso pelo menos... Começar alguma coisa."
SB: Eu estava conversando sobre isso com Michael, ontem. As Testemunhas de Jeová não celebram aniversários.
KJ: Não.
SB: E há um motivo para isso?
KJ: Sim... A morte de Jesus é... o único feriado que...
SB: Ok, há a Páscoa. Vocês chamam de Páscoa ou de outra coisa?
KJ: Uh, nós não chamamos... Não celebramos a Páscoa.
SB: Há a ressurreição. Vocês celebram no mesmo dia em que ele [Jesus] morreu.
KJ: Sim.
SB: Certo, ok. Boa sexta-feira.
KJ: E esse foi o único dia que ele disse para manter [a morte de Jesus]. Não a ressurreição.
SB: A senhora lê a Bíblia todos os dias?
KJ: Sim.
SB: Então isso é... isso é a sua vida, sua religião. É o centro absoluto de quem você é.
KJ: Bom, sim, em todo o Salão do Reino [eu vou a cinco reuniões em uma semana].
SB: Cinco reuniões em uma semana?
KJ: Mas não é uma 'reunião'. Temos uma grande reunião aos domingos à noite, que é quando vamos para ensinar e aprender, coisas assim. Nunca se para de estudar a Bíblia.
SB: Certo.
KJ: Os Judeus também a lêem o tempo todo?
SB: Absolutamente. Oh absolutamente, nós lemos...
KJ: Depois de lerem dia e noite. Eu sei que vocês sabem tudo sobre isso.
SB: Nós lemos a Bíblia todo santo dia.
KJ: Aha.
SB: Quero dizer, já nessa idade, eu tenho 34 anos, eu estudei a vida toda. Eu sei, quero dizer, eu não estou tentando me gabar, mas apenas por lê-la, eu sei muito pelo coração, agora.
KJ: Oh.
SB: Pelo menos os cinco livros de Moisés [o Pentateuco], é isso.
KJ: Aha.
SB: Que é no que focamos mais do que qualquer outra coisa. Mais do que os Salmos ou os Profetas.
KJ: Certo.
SB: Como a senhora se sentiu quando Michael começou a se distanciar das Testemunhas de Jeová?
KJ: Eu me senti muito mal. Me senti mal mesmo, porque me incomodou bastante. Eu chorei, eu rezei. Me senti mesmo, muito mal com isso. Ele se desassociou da religião. Eles não desassociaram. E ele pensou que assim seria melhor, pois ele pensou que estava fazendo coisas e...
SB: Mas qual era a objeção exata deles? Que ele era um pop star e não servia mais na religião?
KJ: Ele serviria. Mas eu acho, eu realmente não sei por que ele decidiu se desassociar.
SB: Ele se desassociou.
KJ: Certo.
SB: Mas até essa época ele estava indo à igreja aos domingos?
KJ: Sim.
SB: Então ele se desassociou e não discutiu isso com a senhora antes de fazer isso?
KJ: Não. Eu soube depois. Não, foi isso o que machucou mais. Não que ele fosse... Eu só não queria que ele se desassociasse da religião.
SB: Ele sentiu que seria um artista maior, teria mais liberdade, provavelmente.
KJ: Sim, provavelmente.
SB: Assim como com Thriller ele teve que colocar aquela mensagem no início.
KJ: Aha.
SB: A senhora o chamou para conversar, sabe, dizer: "Você devia pensar nisso?"
KJ: Não. Não, eu não fiz isso porque ele se desassociou antes de eu saber e já era tarde demais.
SB: Mas a senhora ainda sente que... Parece, para mim, que ele ainda tem um âmago muito espiritual, quero dizer, assim ele fala sobre Deus comigo, o tempo todo.
KJ: Sim, sim. Ele fala mesmo. E eu gostaria que ele voltasse.
SB: A senhora pensa em criar Prince e Paris com alguma tradição espiritual?
KJ: Bom, eu levo a literatura para Grace.
SB: Certo.
KJ: E eu trago um livrinho... Nós temos um livro de histórias bíblicas para crianças e dei um para cada um deles e ela [Grace] lê para eles. Eu não acho que ele tenha algo contra o fato dela ler ou ensinar à eles.
SB: Certo. Enquanto Michael ficava mais famoso, a senhora viu algumas mudanças, mudanças longe da...
KJ: Da religião?
SB: Sim.
KJ: Não, eu não vi nada contra... Não, eu não vi. A única coisa diferente, foi a forma que ele passou a dançar na época quando ele lançou Billie Jean. Eles [as Testemunhas] disseram sobre o jeito que ele... Que ele segurava a virilha, e coisas assim.
SB: Certo, bom, ele sempre me faz piadas sobre isso, Ele ri disso.
KJ: Eu sei [rindo].
SB: Há muitas estórias que ele conta sobre quando era criança, sobre a senhora. Assim , por exemplo, ele disse que sempre costumava dançar...
KJ: Aha.
SB: E costumava deixar marcas.
KJ: Mhmmm [rindo].
SB: E todos diziam: " Michael pare de dançar." Ou: "Você está fazendo muito barulho." E você costumava dizer: "Não, deixe ele dançar!"
KJ: Sim.
SB: Ele te dá certos créditos à senhora por lhe trazer o talento musical dele mais do que qualquer outro, pois você...
KJ: É mesmo?
SB: Sim, ele sempre me diz. Uma das estórias que temos no livro é que ele sempre costumava dançar e deixar marcas, fazer barulhos, e a senhora sempre dizia: " Não, deixe Michael dançar. Deixe sempre ele dançar."
KJ: Sim.
SB: A senhora se lembra disso?
KJ: Sim, sim. Eu acho que Michael nasceu com isso porque mesmo quando ele era pequenininho, uns três anos, e as crianças costumavam cantar e ele cantava também... Foi isso o que me fez notar que ele era um cantor. Ele estava num canto, e todos estavam cantando e uma perfeita harmonia veio dele e eu pensei: "Meu Deus, de onde ele puxou isso?" E então, quando ele tinha uns 5 anos, imaginávamos: "Agora ...qual movimento podemos colocar nessa canção?" Sabe, eles faziam coreografias; E ele fazia uma coisa, e os outros diziam: "Não, vamos fazer assim e assim."
SB: Quase como se ele já tivesse isso dentro dele?
KJ: Ele tinha. Ele tinha isso dentro dele. Eu não sei de onde veio e isso me assustou. Assim como você vê algumas coisas em Prince agora e não acredita. E foi com ele [Michael] também.
SB: Houve uma coisa na semana passada que dizia que o queixo de Michael foi cirurgicamente implantado, e quão ridículo ficou. A senhora, como mãe, como se sente sobre isso?
KJ: Pessoas dizem coisas sobre ele?
SB:Quando a senhora lê esse tipo de coisa... qualquer coisa...
KJ: Oh, isso me chateia. Me deixa zangada.
SB: Mas na hora a senhora se diz: "Eu acredito em Deus que tudo isso acontece por um motivo..."? A senhora encontra forças na sua fé espiritual, de que no final nada disso irá importar, que a vontade de Deus será feita?
KJ: Eu sinto assim. Se não fosse por minha fé, meu espírito e minha crença em Deus, eu não acho que eu teria conseguido, com todas essas coisas que acontece com minha família e com Michael. Machuca mesmo. Mas você tem que rezar. É só assim que você consegue...
SB: Então, é por isso o que a senhora tem que passar?
KJ: Sim.
SB: E a senhora disse para Michael, em 1993 ou qualquer outra época: "Você deve se aproximar de Deus. Você precisa dessa fé. Isso é que vai ajudá-lo a superar isso"? Isso não é o dinheiro, o sucesso ou os fãs. Isso é uma relação forte com Deus?
KJ: Certo, certo.E eu sinto isso e aquilo. Uh [suspiro], bom, eu não consigo dizer.
SB: Bom, a maioria das pessoas, quando vai ficando mais famosa, fica menos religiosa. É uma marca. Com a senhora, parece que quanto mais famosa sua família ficava, mais religiosa a senhora ficava. A senhora segurou firme.
KJ: Aha. Sim. Não há nada mais para mim lá fora. Tenho orgulho dos meus filhos, do que eles fazem, e eles têm talento para isso. Mas, mais do que isso lá fora no mundo, não há nada. Por que satã é... e você pode acreditar ou não em mim...
SB: Oh, fale, fale abertamente...
KJ: Mhmmmm.
SB: Há coisas na minha fé que a senhora não concordaria. [ambos riem] Mas ambos somos pessoas de fé.
KJ: Bom, eu acredito que Satã é o deus do sistema*. A razão para eu dizer isso é porque... Todas as notícias que você ouve, notícias ruins... Todo mundo fazendo loucuras. E a Bíblia fala das crianças, nesses últimos dias, em como elas faltariam com respeito, amantes do dinheiro mais do que amantes de Deus e, como as crianças desrespeitam seus pais e os pais, seus filhos. E é isso o que está acontecendo. Não acha?
SB: Absolutamente; Bom, é por isso que a senhora deveria vir amanhã à noite para se juntar a conferência de Michael [no Carnegie Hall}. Será uma grande revelação contra o lado de Satã. A senhora deveria mesmo vir. O que me levou à Michael, e a senhora deveria ir ver o discurso dele amanhã, é a forma comovente que ele fala sobre como ninguém mais se senta para jantar com os filhos e que ninguém mais lê estórias para eles na hora de dormir.
E sempre havia tiroteio nas escolas, ele me telefonou quando ele estava na Califórnia e eu em Nova Jersey. E ele disse: "Você ouviu? Outro garoto foi baleado!" e eu tentei mudar de assunto, mas Michael chorou.
KJ: Mhmm, mhmmm. Esse é o Michael.
SB: No meu aniversário, trouxemos a criança de um poster sobre uma campanha contra Leucemia. Michael veio ao meu aniversário e ela se sentou perto dele, essa garotinha de sete anos. E quando a mãe dela contou a estória da menina para ele, Michael chorou como um bebê. Foi inacreditável. A senhora é assim também?
KJ: Sim, eu sou.
SB: Então, ele mesmo muito parecido com a senhora. Quero dizer, se eu quiser entendê-lo, eu tenho que entender a senhora.
KJ: Aha, mhmmm. E eu odeio isso em mim e Janet odeia também. [risos]
SB: Michael me falou sobre a senhora - que não consegue dizer não para ninguém. Pessoas te pedem as coisas e a senhora não consegue dizer não [risos]
KJ: Mhmmm, é difícil. E ele faz a mesma coisa. Eu disse para ele que tinha que aprender a dizer não.
SB: Isso vem dos seus pais? Eles eram gentis?
KJ: Mhmm, sim. Especialmente minha mãe. Meu pai era também.
SB: Então a senhora transmitiu essa tradição de gentileza para os seus filhos. Gentileza e a coisa mais importante.
KJ: Eu sinto assim. Às vezes, quando se é pobre e não tem nada para dar, você dá amor, você se dá. E qualquer coisa que você tenha, como os pobres sempre fazem. Na minha juventude, meus pais sempre convidavam pessoas para comer, era tudo o que eles tinham, sabe.
SB: A senhora foi tratada de forma diferente na igreja por ser mãe dos Jacksons?
KJ: Oh, não, não, não, não, não.
SB: E a senhora gosta do fato de poder ser você mesma lá?
KJ: Sim. Eu gosto disso. Eu posso ser eu mesma. E havia uma moça na nossa congregação, que sempre se sentava perto de mim, era minha amiga e sempre estava em turnê com Diana Ross. E ela... [pausa na fita] O nome dela era Linda Lawrence e, sabe, eles tinham que desistir da turnê, mas ela foi à turnê com Diana, pegou o lugar de Mary. E ela passou a viajar como uma Supreme. Sabe, elas tinham muito antes de Diana e foi tratada do mesmo jeito. E na congregação da minha filha, ela foi tratada do mesmo jeito.
SB: Qual? Rebbie?
KJ: Rebbie.
SB: Ela também mora... Ela mora perto da senhora?
KJ: Ela morava. Ela mora em Las Vegas.
SB: Eu também queria fazer uma pergunta... Eu posso desligar isso, ou não. Mas Michael foi torturado, ele teve uma relação torturada com o pai. Não estou dizendo nada novo. Quero dizer, isso apareceu, como a senhora sabe, nas entrevistas e coisas assim.
KJ: Aha.
SB: A senhora provavelmente sabe que há, uh... Eu não sei o quanto ele falou do pai em público, mas uma das coisas mais famosas que ele já disse em público foi que certa vez o pai dele entrou na sala, e ele ficou com ânsias de vômito, por que ele tinha muito medo dele. A senhora se lembra disso?
KJ: Eu sei! Sim, eu me lembro dele, dizendo isso. Ele costumava me contar e quando eu viajava com eles e ele sempre dizia: "Não traga Joseph." Eu perguntava: "Porquê?" e ele dizia: " Eu literalmente..."
SB: Eu posso desligar isso se a senhora quiser.
KJ: Sim. Poderia, por favor?
SB: Claro.
PAUSA
SB: Ok. A senhora era mais protetora em relação ao Michael porque ele era muito calmo? A senhora sentiu a necessidade de cuidar mais dele?
KJ: Sim. Ele era bastante forte em tomar conta dele mesmo em muitas situações, mas eu acho que o que me fez ficar próxima dele foi o fato dele ser mais 'frágil'. Assim, quando estavam falando dele sobre o abuso de crianças e todos me diziam: "Não diga nada, ou fará ficar pior!". E do escritório de Michael vinha a mensagem "Não diga nada, ou fará ficar pior!" E eu respondia: " Não pode ficar pior do que já está. Não me interessa o que disserem, eu vou à TV!". E eu fui para protegê-lo dessas coisas.
Não que eu pudesse protegê-lo, mas pelo menos eu poderia manter as coisas direitas. Embora não tivessem acreditado em mim, eu falei. Mas eles todos vieram por dinheiro. Sabiam que estavam mentindo e foram à TV de novo e eu disse: " Essas pessoas trabalham para mim, não para Michael." As pessoas tentam ganhar dinheiro por fora.
SB: E quando ele era mais jovem, a senhora sentiu necessidade de protegê-lo? A senhora percebeu imediatamente que dentre todos os seus nove filhos, ele era mais brando do que os outros, que ele era mais sensível e amável do que os outros?
KJ: Sabe, eu o vejo mais sensível que os outros, mas... Eu acho que ele é meio que forte quando tem que ser. Você não vê isso? Ou vê?
SB: Oh, absolutamente, eu vi ontem. Eu te disse. Michael e Frank tinham essa divergência sobre como ele deveria ir ao Carnegie Hall. Absolutamente, sim, ele é muito forte quando tem que ser.
KJ: Aha, é assim que ele é.
SB: Então, você também vê isso. Você vê que ele tem essa brandura, mas uma força interior.
KJ: Uma brandura, mas muito forte de um jeito. E ele fica magoado à toa, sabe, porque as pessoas pensam certas coisas sobre ele. Mas ele está meio que 'duro' agora, pois ele teve tantas coisas jogadas sobre ele.
SB: Absolutamente.
KJ: Ele tem pele grossa.
SB: Ele teve que agüentar e superar muita coisa. Absolutamente. Quando ele escolheu ficar em casa... Ele já era grande, mesmo depois de Thriller, ele era agora a maior estrela do mundo.
KJ: Aha.
SB: A senhora pode falar sobre isso? Sobre tudo isso? A senhora... Quero dizer, eu acho muito tocante aquela época e idade quando as pessoas vão para a escola, quando têm uns 17 e não estão mais próximos aos pais... E aqui temos esse cara que poderia obviamente pagar para morar onde quisesse. Mas ele queria ficar na casa dos pais. Umm, então estamos falando sobre Michael ter escolhido ficar em casa. Como seus filhos... Seus filhos se casaram cedo, a maioria deles, quero dizer, os outros rapazes.
KJ: Sim, eles casaram.
SB: E Michael, não.
KJ: Não.
SB: E a senhora ficava feliz de tê-lo em casa?
KJ: Sim. Na verdade, eu não queria que nenhum dos meus filhos fosse embora, mas as mães são assim.
SB: Certo.
KJ: Sabe, mas eles têm que ir.
SB: Bom, a senhora disse: "É bom que você fique em casa. Você está certo, essa é a decisão correta. Fique até que se case"?
KJ: Não.
SB: Ou a senhora disse à ele: "Você é uma super-estrela, você deveria mesmo..."
KJ: Não. Não. Eu nunca quis empurrar meus filhos para saírem de casa ou sabe, como as mamães pássaros... Sabe, empurrá-los e dizer...voe? Mas eu queria que eles fossem fortes e capazes de ir, mas quando estivessem prontos... 24, 25 anos.
KJ: Ele dizia: "Eu vou comprar uma casa para a senhora."
Fonte: The Michael Jackson Tapes by Rabbi S. Boteach