Esses diálogos entre Michael e o Rabino Shmuley Boteach
foram gravados entre agosto de 2000 e Abril de 2001.
Parte 11 - Michael fala sobre Gavin e outras crianças
SB: Eu disse para alguém, hoje, que a atenção que você dá para as crianças com câncer parece bem curativa para elas. Eu tenho visto. Quando você dá esse tipo de atenção à criança, você sabe que a está curando?
MJ: Eu as amo. Eu as amo.
SB: É também pelo fato de você ser muito famoso e, de repente, você canaliza toda aquela energia que você normalmente dá e a direciona para outra pessoa, e é como um facho de luz. Eu não nego que a celebridade possa ter um efeito restaurador, mas frequentemente tem um efeito corrosivo. Você tenta usar a sua celebridade para ajudar essas crianças?
MJ: Eu as amo demais. São todos filhos meus também. Eu me lembro, quando estávamos na Austrália e estávamos numa ala de crianças com câncer e comecei a distribuir brinquedos.
E eu nunca vou me esquecer de um garotinho que tinha uns 11 anos, e quando eu cheguei perto da cama dele ele disse: " É incrível que só em ver você eu me sinta melhor. Me sinto mesmo." Eu disse "Bom, isso é lindo." Foi o que ele disse e eu nunca vou me esquecer. É incrível e é isso o que deveríamos fazer.
SB: Sua devoção à Gavin [que mais tarde acusaria Michael] é impressionante. Eu tenho falado sobre isso em mil fóruns agora. É uma das coisas mais bacanas que eu já vi. Que você tente ajudá-lo e a família dele.
MJ: Ele é especial.
MJ: Eu falei com Gavin noite passada e ele disse: 'Michael, você não sabe como dói. Isso dói.' Ele começou a chorar ao telefone e disse: 'Eu sei que você entende como é. Dói tanto.' Eu disse: 'Bom, quanto mais (sessões) você tem?' Ele disse: 'Talvez quatro. Mas os médicos disseram que teria mais depois disso.' Isso tirou os cílios dele, as sobrancelhas e os cabelos. Temos tanta sorte, não temos?
SB: Você acha que quando fala com pessoas como Gavin, parte da dor cessa neles?
MJ: Absolutamente. Por que toda vez que eu falo com ele, ele está melhor disposto. Quando eu falei com ele noite passada ele me disse "Eu preciso de você. Quando você vem para casa?" Eu disse: "Não sei". Ele disse: "Eu preciso de você, Michael."
Então ele me chamou de pai. Eu disse: "É melhor você perguntar seu pai se está tudo bem me chamar assim." Ele gritou: "Pai, está tudo bem se eu chamar Michael de pai?" e ele respondeu: "Sim, não tem problema, tudo o que você quiser". Crianças sempre fazem isso. Eu fico feliz quando elas se sentem confortáveis assim.
SB: Você se sente como um pai universal para as crianças, que você tem a habilidade de amá-las e apreciá-las de uma forma que outros não fazem?
MJ: Eu sempre sinto isso, eu não quero que os pais sintam ciúmes, po que isso sempre acontece. Não tanto com as mães. Eu sempre digo aos pais "Eu não estou tentando tomar o seu lugar. Eu só estou tentando ajudar e quero ser seu amigo." As crianças acabam se apaixonando pela minha personalidade. Às vezes isso me causa problemas, mas eu só estou lá para ajudar.
SB: Eu te perguntei o que os pais podem aprender com os filhos, e você identifica algumas coisas - amor de diversão, inocência, alegria. Que outras coisas podemos aprender com as crianças? Por exemplo, quando você está perto de Gavin, o que você aprende com ele? Você só está lá para ajudar uma criança que tem câncer? O que você aprende dessa experiência? É apenas uma demonstração de pena, compaixão por uma criança em apuros? Ou você sente que essa é uma razão para você estar vivo?
MJ: Eu sinto que é algo em meu coração que eu realmente, realmente devo fazer, e eu me sinto tão amado por dar o meu amor, e eu sei que é isso o que eles precisam. Eu tenho ouvido médicos, e os médicos dele dizem que é um milagre que ele esteja melhorando e é por isso que eu sei que a magia do amor é tão importante.
Ele perdeu parte da infância e eu acho que posso refletir muito nisso, por causa do meu passado. Quando você tem dez anos, você não pensa no Céu ou em como vai morrer e ele estava pensando em tudo isso.
Eu tive a visita do pequeno Ryan White na minha sala de jantar, falando para a mãe dele à mesa: "Mãe, quando você me enterrar, eu não quero estar de terno e gravata. Não me ponha terno e gravata. Eu quero estar de jeans e camisa."
Eu disse: "Com licença, eu preciso ir ao banheiro." Eu corri para o banheiro e chorei. Imagine um garoto de 12 anos dizendo para a mãe como enterrá-lo. Foi isso que eu o ouvi dizer. Como pode o seu coração não amolecer por uma pessoa assim?
SB: Visto que você foi privado dessa infância e agora você está tentando conferí-la como um presente para essas crianças, você se cura através disso?
MJ: Sim, sim, eu me curo. Por que isso é tudo. Eu preciso disso para continuar vivendo. Você viu o que Gavin escreveu no livro de convidados sobre o chapéu dele? É uma estória linda.
SB: Eu contei essa estória para o mundo todo.
MJ: Eu gosto de dar à eles esse amor e esse orgulho para sentir que eles pertencem e que são especiais. Ele estava se escondendo e estava envergonhado por estar careca e ele tinha câncer. Todos fizeram ele se sentir excluído e foi assim que ele chegou aqui e eu queria que ele se livrasse disso. Ele é uma criança linda, ele não precisa daquele chapéu. Eu disse para ele "Você parece um anjo. Sua voz parece com a de um anjo. Até onde eu sei, você é um anjo. Do que você tem vergonha?"
MJ: Você acha que as crianças apreciam mais você do que os adultos?
MJ: Oh sim, claro. Adultos me apreciam artisticamente como um cantor e compositor, como dançarino e artista. Como ele é? Quem é ele? 'Ele é esquisito e dorme numa câmara hiperbárica' e todas aquelas estórias loucas e horríveis que as pessoas inventam que não tem nada a ver comigo.
SB: As crianças veem através disso e retribuem seu amor. Eu vi isso com Gavin.
MJ: Elas só querem se divertir, dar e receber amor, elas só querem ser amadas e receber ajuda.
SB: Você luta contra esse senso de cuidado? Houve um tempo em que você disse a si mesmo: "Eu não me importo com ninguém. Eu vou me entregar a uma massagem agora e relaxar numa Jacuzzi. Acabou o concerto e só vou pensar em mim" ou mesmo assim, você continua pensando no que poderia fazer pelas crianças?
MJ: De verdade no meu coração, eu as amo e eu me importo mais do que tudo. Eu ainda estou cuidando de Gavin. Ele teve quimioterapia ontem, está fraco e não está se sentindo bem e isso toca o meu coração. Meu coração sai para o mundo. Eu acho que sou como a minha mãe. Eu não sei é genético ou do ambiente.
Eu me lembro de quando éramos pequenos, ela assistia os noticiários e até hoje ela tem que assistí-los com lenços. Eu sou igual, eu começo a chorar quando assisto notícias sobre a mulher que jogou os filhos no lago, um se afogou e o outro sobreviveu. Eu convidei as crianças para virem aqui e eu fui ao funeral, paguei pelo funeral e eu nem conhecia essas pessoas, mas você ouve essas coisas. É como se perguntar 'por que não há mais pessoas como Madre Teresa? Por que não há mais pessoas como Lady Diana?'
SB: Elas são famosas por serem boas, mas você é famoso e é bom, há uma diferença muito grande. Mesmo Diana, Diana era uma boa mulher. Eu não a conheci. Você a conheceu. Ela tinha muitas qualidades santas e fez muita bondade. Ainda assim, ela gostava da vida de brilho falso. Mas você ama crianças. Por quê?
MJ: Eu não estou tentando ser filosófico, mas eu realmente penso que é meu trabalho ajudá-las. Eu acho que é minha vocação. Eu não me importo quando as pessoas riem ou com o que dizem. Crianças não tem voz na sociedade e eu sei que é a hora delas agora.
De agora em diante, é a vez delas. Elas precisam da consciência mundial e de assuntos para lidar, e isso é para elas. E se eu puder ser essa luz, esse pedestal apenas para brilhar alguma luz sobre quem elas são, é isso o que eu quero fazer. Eu não sei como Deus escolhe as pessoas, ou se joga xadrez com as pessoas, e coloca você em uma posição e te ajusta ali.
Às vezes eu me sinto assim, como se esse fosse o meu lugar. Eu penso desde Gandhi à Martin Luther King, a Kennedy, a mim mesmo, a você. Você acha que esses homens se fizeram, de nascimento, você pensa que Deus disse "Aha!" com um sorriso... Você acha que isso apenas acontece através dos pais, ou eles deveriam fazer isso? Eu estou te fazendo uma pergunta.
SB: Eu acho que é a confluência de ambas as coisas. Grandes homens e mulheres nascem com o potencial para a grandeza. Mas isso normalmente tem que ser espremido para fora deles através de um evento externo. Há grandeza nas pessoas, mas eventos externos as ajudam a desenvolvê-los.
A grandeza é a sintese do potencial inato do homem ou da mulher, combinado com a habilidade deles de se levantar para o grande desafio. E quando você não tem uma resposta para a questão do porquê Deus te deu um sucesso fenomenal, você começa a murchar debaixo do fardo da fama. Você precisa ter algo como que um espelho que desvie toda essa atenção, toda essa luz que está brilhando sobre você para uma causa maior ou você será chamuscado pela intensidade dela.
Uma garotinha que eu conheci ontem à noite, tem 14 anos e é órfã. A mãe dela morreu quando ela tinha sete anos e ela nunca conheceu o pai. Ela veio ontem assistir o Rei Leão por que ela é amiga de [ nome mantido em sigilo] e o grande desejo dela era conhecer você. Então eu disse à ela que a traria por alguns minutos essa semana para ela te conhecer.
MJ: Oh, quem está tomando conta dela?
SB: Ela mora com a avó e ela tem um padrinho que a trouxe ontem à noite. O padrinho dela tenta levá-la para sair e ela brinca ocasionalmente.
MJ: As crianças se divertiram durante o show?
Fonte: The Michael Jackson Tapes by Rabbi S. Boteach