The King of Style: Dressing Michael Jackson (30)


Seu pior crítico

''De volta ao hotel eu o ajudava a tirar as roupas molhadas e via o seu processo de relaxamento, o qual sempre incluía um banho.

Enquanto isso, eu cuidadosamente revisava a enorme quantidade de presentes que ele recebia dos fãs e empresários. Ursinhos, caixas de champanhe, muitos quadro de pintura a óleo e estátuas. Ele até recebeu um traje de toureiro na Espanha.

Se ele estava de bom humor, até mesmo conversava um pouco comigo através da porta: "Bush, você já viu alguns museus? Você pôde ver seus amigos?" Sempre queria ter a certeza de que eu estava bem.

Após o banho, colocava seus pijamas de algodão, comprados em lojas ou feita por mim e por Dennis, e o chef trazia a comida, a qual ali permanecia porque ele era o pior comedor da Terra. A adrenalina o deixava louco e por isso, não teria apetite.

Colocávamos a gravação do concerto que tinha acabado de terminar e Michael começava a rever, notando quase imediatamente o mais ínfimo pormenor da imperfeição.

"O que aconteceu? As luzes não estão totalmente corretas. O que aconteceu lá? O que eu fiz de errado? Por que a roupa faz isso?''

Em um de seu primeiro concerto em Tóquio, durante a Bad Tour, Michael ouviu um som rasgado em Billie Jean.

''Escuta esse som...'', ele disse, pressionando o botão de retrocesso. "De onde vem?''

E eu também escutei. Arranhando. Ele usava a luva na mesma mão que segurava o microfone, de modo que devia ser a luva de lantejoulas perto do microfone. Decidi remover as lantejoulas da palma da mão, então. Michael sempre quis o melhor, mas para o concerto acabar perfeito, poderia ser sacrificado.

Desde então, havia duas luvas de Billie Jean: um para as performances com lantejoulas de um lado, e outra completa para as sessões de fotografias.

"Você tem que corrigir isso, ou isso ou aquilo..." e Michael soava como um disco quebrado, depois de assistir a gravação de cada concerto, pensativo e ao comando, com seu habitual tom de voz calmo.

E eu não era o único envolvido: "O guitarrista deve estar a dois passos atrás de mim."

"Olha, eu tenho o pescoço da guitarra por trás da minha cabeça. Tem que se afastar. Esse é o meu foco."

Assim de visual era Michael. Tudo tinha que ser perfeito. Esse era um dos seus maiores demônios.

As lantejoulas devem ser distribuídas uniformemente em ambos os lados da peça da roupa de Michael. Quando girava, o fazia tão forte que se uma manga fosse mais pesada do que o outra, poderia causar desequilíbrio, resultando em um giro imperfeito. E a imperfeição não era aceitável para Michael. Além disso, teria que aprender a vesti-lo no escuro.

Antes da Dangerous Tour, terminava sua canção durante os aplausos e trocava de roupa nos bastidores. Ao contrário de outros artistas, não queria música no intervalo. Apenas deixava que os aplausos continuassem até que ele terminasse de se trocar. Se o ritmo o levava para o centro do palco e teria que correr para se trocar, perdíamos valiosos segundos, os quais pareciam minutos e horas.

Mas, durante a Dangerous Tour, ele pensou e disse, ''Espere um momento, quando eu estou trocando as minhas roupas eu perco o que está acontecendo lá fora, com o público. Bush, você tem que sair e me ajudar a trocar a roupa lá fora.''

"Michael, eu tenho uma boa cara para o rádio, mas eu não sou uma pessoa do palco'', eu protestei.

Ele não riu.

"Bush, se eu levo você para fora e eu estou sob os focos e você no escuro, não será visto. Depois você sai correndo. Pof! Eu me troquei e é mágica.''

Então, na próxima ocasião eu estava no perímetro do foco, trocando a jaqueta de Michael durante o Medley da Motown. Enquanto eu estava no escuro, eu pensei que tudo ficaria bem. Eu tenho medo do palco desde que me lembro e falar em público não é o meu forte, mas não havia tempo para pensar nisso.

Eu tinha a próxima jaqueta em minha mão, na minha boca estava a toalha para que secasse o suor e um kit de costura no bolso de trás. Em seguida, Michael saiu do foco e disse: "Senhoras e senhores, Michael Bush!" E quase caiu ao chão de tanto rir.

Eu não estava feliz depois do show e quanto mais eu evitava a sua conversa, mais ele se divertia, até que se tornou algo mais do que uma brincadeira e decidiu: "Agora você faz parte do meu show, Bush!"

Porque para Michael, trocar de roupa poderia ser um show. Ela tinha a sua maneira de colocar uma jaqueta. Esticava os braços tensos ao chão e ligeiramente atrás dele, com as costas arqueadas e queixo para cima. Ele tinha aquela magia de atuar somente para você, mesmo enquanto ele trocava de jaqueta.


Mas mesmo com as luzes, eu ficava de fora delas, então eu tinha que lidar com as roupas e de forma a vê-las no escuro. A melhor maneira de fazer isso era costurar o interior com linha branca, de modo que tudo o que Michael tinha a fazer era colocar os braços para trás e toda a jaqueta brilhava.

Em seguida, houve a questão dos zíperes no escuro. Adicionamos uma lingueta de pele em cada zíper. Michael gostava deles porque eles se moviam enquanto ele caminhava. Nos pediu também para colocar em suas roupas do dia a dia.

Michael tinha que trocar uma vez de calças durante seus shows. Começava com os elásticos negros, mas precisava ficar solto para Billie Jean e suas meias de lantejoulas.


Às vezes, nós colocávamos um velcro dourado ou branca nas laterais das calças Billie Jean, o qual poderia ser retirado, fazendo parecer como se houvesse um terceiro par de calças, ao invés de dois, durante o show.''

Por Michael Bush
*Estilista de Michael Jackson, em seu livro The King of Style: Dressing Michael Jackson

Fonte: MJHideout