Esses diálogos entre Michael e o Rabino Shmuley Boteach
foram gravados entre agosto de 2000 e Abril de 2001.
Parte 39 - Sobre sua relação com Janet Jackson
SB: Deixe eu dividir um pensamento. Você disse que seu pai te humilharia num show e te faria chorar e te empurraria do palco diante de todas as garotas que te amavam... para quê? Para mostrar o poder dele sobre você?
MJ: Bom, huuum... não. Ele não faria isso no palco. Assim, depois do show havia um lugar cheio de garotas. Ele adorava trazer garotas para a sala, meu pai. E depois do show tínhamos que comer alguma coisa, ou que fosse, e na sala havia uma fila de garotas cheias de gracinhas, nos adorando, tipo: " Oh meu Deus!" e tremendo.
E se eu estivesse conversando e algo acontecesse que ele não gostasse, ele faria um olhar assim... Ele faria esse olhar só para assustar. Uma vez ele me deu um tapa tão forte no rosto, o mais forte que pode, e então me empurrou para outra sala grande, onde elas estavam. Lágrimas rolavam no meu rosto, e o quê se poderia fazer?
SB: E quantos anos vocês tinham? [Prince lá atrás "Temos três anos!"... rindo]
MJ: Não mais do que 12... 11, por aí.
SB: Então esse foi o primeiro momento em que você sentiu vergonha em sua vida: Humilhado mesmo?
MJ: Não, teve outros momentos. Ele fez algumas coisas duras, cruéis... Cruéis... Eu não sei o porquê. Ele era durão. O jeito que ele batia forte, sabe? Ele nos fazia tirar a roupa primeiro. Ele passava óleo. Era como todo um ritual. E assim quando a ponta do fio de ferro acertava [Michael faz o barulho dos açoites] sabe... era como morrer e ficava as marcas dos açoites no rosto, nas costas, em todo lugar. Eu sempre ouvia minha mãe dizer: "Não, Joe! Você vai matá-los, você vai matá-los, não!"
E eu apenas desistia, como se não houvesse nada que eu pudesse fazer. E eu o odiava por isso, odiava. Todos nós odiávamos. Costumávamos dizer para nossa mãe e para nós mesmos, e eu nunca vou esquecer-me disso. Janet e eu costumávamos dizer... Eu costumava dizer: "Janet feche os olhos." Ela respondia: " Ok, estão fechados." E eu dizia: "Imagine Joseph num caixão. Morto. Você fica triste?" Ela respondia; "Não!" Apenas assim. Era isso que costumávamos fazer, quando crianças. Brincávamos assim. Era o ódio que sentíamos. Eu dizia: " Ele está no caixão, está morto. Você ficaria triste?" E ela respondia: " Não!" Assim, simplesmente. Era o quão bravos ficávamos com ele. E eu o amo hoje, mas ele é difícil, Shmuley. Ele era durão.
SB: Mas você sabia que isso era parte de ser corrompido enquanto criança, quando começava se sentir assim - odiando? Você sabia... "Eu tenho que me livrar disso de algum jeito. Tenho que fazer algo com relação á isso"?
MJ: Sim, eu queria me tornar um artista incrível, que seria amado em retorno.
SB: Então você poderia mudá-lo, você pensava. Se você... Então você pensava que se se tornasse uma grande estrela, de muito sucesso, e amado pelo mundo, com muito sucesso, seu pai te amaria também?
MJ: Aha.
SB: Então você poderia mudá-lo assim.
MJ: Aha. Eu esperava que pudesse, eu esperava que pudesse ter o amor de outras pessoas, pois eu precisava muito, sabe? Precisa-se de amor. Precisa-se de amor. Essa é a coisa mais importante. É por isso que me sinto tão mal por aquelas crianças nos orfanatos e hospitais, e ali, sozinhas, presas nas camas - eles as prendem por não terem funcionários o suficiente.
Eu digo “Estão loucos?" Eu vou em cada cama libertando-os, liberando-os. Eu digo: “Não é assim que trata crianças. Não se amarra crianças!" Ou então eles as acorrentam nas paredes em alguns lugares, como na Romênia. E elas têm que dormir perto das próprias fezes.
SB: Você se identifica mais com pessoas assim por que você é também tão sensível quanto?
MJ: Sim, eu sempre abraço mais Mushki [a filha mais velha do rabino na época com 12 anos] porque eu sinto a dor dela. Ela sente tanta dor. Quando Janet engordou muito ela chorava muito, minha irmã Janet. Ela decidiu perder aquele peso todo... "Eu vou perder isso tudo!" e perdeu. Ela costumava ser muito infeliz.
SB: Você se sente protetor dela como sendo sua irmãzinha?
MJ: Sim, eu estava determinado a fazê-la perder peso. Eu fui mau. Eu a provocava para fazê-la perder peso. Eu não gostava disso nela. Eu não gostava porque eu sabia que era uma época ruim para ela.
SB: Como você conseguiu que ela fizesse algo a respeito disso?
MJ: Eu disse que ela precisava perder peso porque parecia uma vaca gorda. Eu disse isso para ela e foi muito mau de minha parte dizer isso. Ela me mandava calar a boca e eu a mandava calar a boca. Mas eu estava determinado a fazê-la parecer melhor, pois no fundo do meu coração eu a amava e queria fazê-la brilhar, e quando ela se tornou uma estrela, sabe... álbuns... eu fiquei tão feliz e orgulhoso porque, sabe, ela havia conseguido.
SB: Você ainda se sente protetor em relação à sua irmã mais nova?
MJ: Sim, sim... Eu só quero que fiquemos mais próximos. Somos próximos em espírito, mas não como família. Por que não celebramos, não temos motivo para estarmos juntos agora. Eu gostaria que isso fosse semeado em nós. Eu adoro ver o que vocês fazem aquela coisa de abençoar que toca tanto o meu coração. Eu vejo por que vocês são tão próximos, isso é doce.
(Nas noites de sexta-feira, quando vêm o Sabbath Judeu, minha esposa e eu abençoamos nossos filhos, um por um, para que cresçam como as grandes figuras da Bíblia, os patriarcas e matriarcas do povo judeu. Michael testemunhou isso várias vezes, como convidado nosso na mesa do Sabbath, em nossa casa. Ele sempre observava atento enquanto abençoávamos nossos filhos.)