Depoimento de Jean Grae


''Um ano atrás, eu tentei convencer a uma estranha que sim, a magia realmente existe. Eu não estava falando de David Blaine, Criss Angel ou mágicos de rua. Não. Eu quis falar da magia na criatividade, na manifestação das coisas, na... ahh... eu estava tão frustrada que eu não poderia explicar a ela, mas então eu percebi que ela simplesmente nunca acreditaria, nem sequer tentaria compreender.

Isso deixou-me tão triste por ela, por estar perdendo a beleza do mundo ao seu redor. Digo isso porque, na sequência da passagem de Michael Jackson, eu já vi muitas pessoas comentar sobre a sua indiferença em relação a isso.

Agora, não é a indiferença que incomoda-me. É a incapacidade de compreender a tristeza que os outros estão sentindo em massa, a nível mundial.

"Como você pode perder algo que você nunca teve?" eu li em um comentário no Twitter.

Eu respondi, brincando, para o meu amigo, ''Esqueça, você não vai compreender... porque você está morto por dentro.''

O que poderia haver em um ser humano para não reconhecer, ou poder descartar tão facilmente, a magia encarnada, clara e anunciada?

Mesmo se haja algo em você, em sua alma, em sua fibra, que seja impermeável a ela [magia], como você pode negar a sua existência, se ela afeta o resto do mundo em um nível intensamente profundo?

Sentir algo tão básico como gratidão e compaixão, por receber um toque de magia do Universo, o luto pela perda de seu criador... não compreender as pessoas sentirem-se vazias... eu simplesmente não compreendo.

Eu chorei, cara. Chorei PARA VALER. Eu choro só de lembrar a sensação de ler as primeiras notícias on-line, de acordar o meu namorado para contar-lhe a respeito da notícia. Eu chorei mais duro ainda, porque eu vi suas próprias lágrimas bem acima.

Então eu twittei, retwittei... eu senti a energia e a demonstração de amor de outros. Isso ajudou a tornar-me parte de uma comunidade em tempo real, naquele momento.

Quando sua passagem foi anunciada oficialmente, nós olhamos para a TV em reverência. Cada um de nós levantou-se e caminhou até o quarto para chorar sozinho, então voltou para buscar um ombro.

A minha mãe ligou-me e, no início, eu não conseguia nem falar. Minha mãe tem 72, então não há uma lacuna de geração definida, mas ela expressou o quanto ela tinha crescido COM a gente, cresceu com a gente a amá-lo. Ela parecia inconsolável.

Eu não queria ver o que começou quase imediatamente depois da notícia: a conversa da controvérsia em sua vida, em suas finanças, a respeito de sua propriedade. Claro que não. Era desrespeitoso e indecente.

Desliguei a maldita TV. Tudo o que fazia sentido era evitar de estragar a magia. Ligar a música. Para dançar e celebrar o dom que lhe tinha sido dado. Para sentir cada nota, cada vocal, cada parada na música e crescendo, a cada linha. Para recuperar as memórias que correspondiam a cada momento e... oh... eram tantas!

Fracamente sorrindo e gritando coisas como, "Mas lembra-se quando ele trouxe esse novo passo de dança? Caraaaa...''

Eu fiz uma seleção de músicas, abri as janelas, acendí uma vela e apenas me larguei ali. Eu desejei estar no Apollo e contemplar através de uma festa improvisada. Não. Eu queria apenas dançar. Eu virei como um dervish rodopiante para uma caixa de som explodindo.


Eu perguntava a mim mesma por que eu era a única na Bed-Stuy entoando Mike para fora das janelas.

Eu chorei enquanto eu estava dançando, lembrei-me de todos os momentos que tive com cada canção. Eu amei as sugestões que começaram a surgir. As memórias de caminhar flutuando. Eu poderia dançar no ar, respirá-lo, incapaz de localizar a fisicalidade, mas reconhecendo a sua existência.

Eu acredito na magia, tanto que eu confio nela para viver. Eu sei que eu sou capaz de criá-la, mas eu curvo-me na presença daqueles que são muito mais poderosos do que eu. Sou sortuda e abençoada por ter sido uma dos milhões que receberam a magia de Michael, impressionante e imortal presença / presente.

Eu também acredito na fragilidade da alma humana. Eu acho que há somente tanto espancamento e proteção [o contraste é tão interessante]. Eu acho que há sempre um lugar para onde nós podemos escapar e voar livremente, mesmo se você - você mesmo(a) - esteja impedindo a si mesmo(a) de fazê-lo.

Não vou especular sobre qualquer parte da controvérsia, a escuridão que todos nós temos, todos nós. Eu não posso julgar a ninguém e eu não vou. Só posso dizer que a magia é a mais importante, a mais real, a ferramenta mais unificadora que eu já conheci.


Eu assisti a pessoas de todo mundo reagirem, as vi dançar em celebração, emular no elogio e na memória, esfoçando-se para expressar a sua gratidão e amor pelo... ahh... caramba... tudo o que ele foi para nós: nosso irmão, nosso primeiro namorado, o nosso pequeno príncipe transformado em um rei.

A força imparável e perfeita, com todas as imperfeições. O amado imortal para sempre.

Eu lembro-me de agarrar-me ao álbum Thriller [depois de ouvi-lo, é claro] e sentir conforto, sentir amor, como o perfume que você deseja encontrar em uma camiseta que o seu amor tenha deixado para trás.

Não, eu nunca conheci Michael Jackson. Não, nunca sequer cheguei perto. Mas se ele não era o pedaço mais brilhante da magia viva, eu não sei o que é nem nunca saberei.''

Jean Grae (depoimento de fã)

Fonte: UK Loves MJ