O paraíso fica no rancho Neverland


¨Neverland é um paraíso mágico onde Michael parece viver todos os sonhos da infância que lhe fora roubada pela fama precoce. Ele construiu um mundo de magia, uma mistura de Disneylândia e luxuosos castelos europeus.

Um mundo perdido brotado no meio dos morros de carvalho que cercam o lugar. Longe dos ambientes de negócios, dos empresários, das multidões... Em Neverland, Michael não tem que crescer, ninguém tem. Quando os enormes portões de ferro da propriedade se abrem, o encanto segue junto.

Logo após a passagem pela guarita, já é possível prever o espírito do lugar pelo letreiro que avisa na crista de um morro: CRIANÇAS BRINCANDO. Em Neverland, todos os caminhos levam à infância...

Um trem vermelho a vapor, estilo século XIX, instalado na propriedade, pode conduzir dezenas de passageiros e levá-los da casa principal, passando pela vila indígena (com réplicas em tamanho natural de nativos, um mastro de totens, tapacas e uma aldeia), pelo forte de dois andares (completo com artilharia que dispara água), pelo parque de diversões, pelo complexo de cinema de mais de 2 milhões de dólares (cartazes dos filmes do dia são colocados em todas as paradas ao longo da rota do trem), pela sala de doces (recheada de todo tipo de pipoca e doces imagináveis), pelo zoológico, pelo lago e, finalmente, pela sala de jogos eletrônicos, com dezenas de fliperamas.

Além do trem, uma dúzia de carrinhos de golfe estilizados são usados para percorrer Neverland. "Isso é muito mais do que eu havia imaginado", conta Michael, referindo-se ao particular parque de diversões do rancho, com direito a roda gigante, carrossel (que freqüentemente gira ao som de Like A Virgin), uma enorme casa da árvore, escorregador de 3 metros de altura, barca viking (que balança ao som de Remember The Time), carrinhos "bate-bate" e até montanha russa. Os brinquedos são monitorados por empregados, sempre dispostos a repetir: "Quer ir de novo?"

Por toda parte, há carrocinhas de mão cuidadosamente pintadas, onde é possível se servir de algodão-doce, amendoim e refrigerante. No zoológico, vivem cerca de 200 animais extremamente bem tratados, incluindo o elefante Gypsy (presente de Natal de Elizabeth Taylor), a ovelha Linus, a gorducha leitoa Petunia, o cavalo garanhão Cricket, o leão Kimba e outra infinidade de bichos, que vão desde alpacas e girafas até cangurus e lhamas.

Um dos mais exóticos é a cobra albina com manchas amarelas espalhadas pelo corpo, chamada Madonna. "Bem, ela [a cobra] também é loira", explica Michael com um sorriso malicioso, "mas não fui eu que coloquei esse nome nela."

Do terraço da mansão em estilo Tudor, é possível localizar um enorme playground, uma piscina, um trampolim, uma jacuzzi ao ar livre. Logo adiante, um grande lago cintila, com sua ponte em arco de pedra, sua cachoeira, seu barco em forma de cisne e seus jet skis.

No meio, há uma ilha onde Michael, às vezes, medita. Na propriedade, ainda podemos encontrar quadras de basquete e uma cama elástica. Há incontáveis estátuas de bronze de crianças brincando e tocando instrumentos musicais, e por todos os lados, parece haver balanços pendurados nos galhos de árvores.

O jardim é tomado por flores, especialmente cravos - 40 jardineiros cuidam das 128 mil flores de Neverland. A música envolve cada canto do rancho. Dentro da mansão, quando Michael não está tocando seu piano, trilhas sonoras de Disney saem dos alto-falantes.

Do lado de fora não é diferente: quando não são as canções Disney, é a voz de Julie Andrews (atriz e cantora do musical A Noviça Rebelde) que se ouve sair dos canteiros de flores e das árvores, ecoando pelos campos de gramado verde que envolvem todo o terreno.

Quando a noite cai, Neverland parece ter sido borrifada com pó de estrelas: os troncos e galhos dos imponentes carvalhos estão enfeitados com luzinhas brancas piscantes.

Uma estrada de tijolos amarelos leva até o parque de diversões, que também fica aceso contra o céu negro. Nas noites em que está sem visitas, Michael gosta de andar incansavelmente na roda-gigante, tentando sozinho alcançar as estrelas.

"Eu faço isso o tempo todo", ele revela. "Em certo Natal, quando eu voltei de uma turnê pelo Japão", conta Michael em 1993, "Elizabeth [Taylor] tinha decorado a casa inteira. Foi maravilhoso. Eu nunca havia celebrado aniversários ou Natais antes. Era sempre: trabalho! É por isso que eu acredito na Terra do Nunca [Neverland].

Como seria o interior do castelo de Michael Jackson? Mobiliado de forma requintada, o andar principal contém uma biblioteca em carvalho, cheia de edições raras de clássicos e de todo tipo de livros. "Eu entro aqui e sinto a presença de cada livro", diz Michael sobre sua sala favorita. "Quando vou para a cama", ele continua, "uso uma lâmpada mágica ao redor do meu pescoço. Ela ilumina as páginas e eu me perco em livros."

Na espaçosa sala de estar, encontramos um piano artesanal dos fabricantes alemães Bosendorfer, uma lareira de pedra da Bouquet Canyon e numerosas peças de arte raras. A coleção de arte do Rei do Pop ainda inclui pinturas de David Nordahl, que estão espalhadas pela casa e mostram réplicas perfeitas da própria imagem de Michael, geralmente rodeado de crianças.

A cozinha country é profissionalmente equipada. Nela, balcões carregados de cestas de lanche incluem biscoitos marcados com o logotipo Neverland. No andar de cima, encontramos uma biblioteca só de livros infantis e em uma sala existe uma cama com arcos cheia de bonecas antigas - algumas com caras tristes, outras sorrindo.

Sobre uma mesa está Child Star, a biografia de Shirley Temple, com quem Michael se identifica. Há uma antiga máquina de escrever com um papel onde alguém datilografou: "E tudo que queremos para o Natal é...".

Em outra sala, encontram-se dezenas de brinquedos e jogos infantis, e uma estreita escada leva para a sala dos trens. Autoramas também não faltam. Bonecos de papelão de personagens dos Simpsons e de Roger Rabbit ficam de pé, contra a parede.

Peter Pan, Mickey Mouse e Bambi estão deitados no chão. Uma prateleira está lotada de fitas do filme E.T. - O Extraterrestre, de Steven Spielberg. "As crianças ficam loucas quando estão aqui", conta um dos empregados.

O quarto do Rei do Pop, com sua cama king size, tem vista para um jardim fechado por um muro em pedras, de dois metros de altura. Pôsteres de Peter Pan e vários espelhos estão pelas paredes. Ainda em seu quarto, uma passagem secreta com um corredor de três metros leva para o Quarto do Tesouro, onde Michael guarda objetos de valor material e pessoal. O acesso é restrito, claro.

Tudo isso pode parecer pura extravagância de um superastro. Mas não é bem assim. Apesar de ser considerado uma pessoa excêntrica, não é tão difícil perceber que para se entender a essência de Michael Jackson, basta entender a essência de Neverland.

Em seu País das Maravilhas particular, o Peter Pan do Pop pode vivenciar o mundo de sonhos e fantasias comuns na infância, mas que para ele não existiram. É pura e simplesmente diversão. É a busca por um passado perdido.

Não obstante, para Michael, ser infantil nunca foi ser imaturo. Neverland não é apenas seu mundo de fábulas. Mesmo estando no lugar que mais parece o Céu encravado na Terra, ele nunca esteve cego ao mundo lá fora.

Regularmente, ônibus lotados de crianças desprivilegiadas e doentes terminais são levados à Neverland. "Minha mais afetuosa lembrança aqui", conta Michael "foi uma noite, quando a casa estava cheia de crianças carequinhas. Todas elas tinham câncer. Um garotinho virou-se para mim e disse: 'Este é o melhor dia da minha vida.' Eu tive que conter as lágrimas."

Lee Tucker, que ajudou a planejar o cinema e serve como projecionista, conta que quando as crianças estão em Neverland, ficam tão felizes que nem conseguem dormir.

 "Às vezes, sou chamado às duas horas da manhã: 'Lee, você pode me mostrar tal filme?'"

"Nunca tive infância. Quando as crianças sentem dor, sinto a dor delas. E quando se desesperam, sinto seu desespero. Sinto muita preocupação com as necessidades e o estado delas, hoje. Se houvesse um dia em que as crianças pudessem se unir a seus pais, isso faria a diferença", diz Michael.

E o que irá acontecer com os filhos dele, quando começarem a ir à escola? Afinal, são os filhos do astro mais famoso do planeta!

"Como vão estar na sociedade? Ele é Prince Michael Junior. Ela é Paris Michael Katherine Jackson. Seria difícil demais. Vou construir uma escola com computadores em Neverland. Com outras crianças", respondeu Michael, em 2001, durante uma entrevista.

E ainda conta: "Eu conheço bem a família Disney, e as filhas de Walt costumavam me contar das dificuldades que tinham na escola. As crianças falavam: 'Eu odeio o Walt Disney. Ele nem é engraçado. Não o assistimos.' Os filhos de Charlie Chaplin, que eu conheço bastante, tiveram que tirar os filhos da escola. Eles eram provocados: 'O avô de vocês é estúpido. Ele não tem graça. Não gostamos dele.' E ele era um gênio!".

Prince e Paris, quando muito pequenos, demoraram a perceber que Neverland é a casa deles.

"Eles costumavam pensar que era algum hotel resort. Em todos os lugares, ficamos em hotéis. Eles não percebiam que o trem e a estação são para eles, e aqueles brinquedos são para eles. Mas agora os dois dizem: 'Queremos ir para Neverland!' ", conta Michael.

Em Neverland, Michael não conseguiu apenas criar um mundo de sonhos, pureza e magia, onde ele pode, ao lado dos filhos, compensar parte da infância perdida nas luzes de estúdios e palcos; através de seu rancho, Michael consegue restaurar, mesmo que por apenas dias ou instantes, a infância de centenas de crianças muito doentes e pobres, que podem sorrir novamente e conhecer o significado real do encanto e dos sonhos infantis.

Essas crianças certamente aceitarão e levarão por toda a vida a grande lição que Michael nos oferece: "Todos nós deveríamos crescer por fora, mas manter para sempre a criança em nosso interior". Este é o espírito de Neverland. É a alma de Michael Jackson.¨

Trecho extraído do texto 'Visita ao Reino' por Daniele Soares
MJ EDCYHIS