Depoimento de Chris Roberts (01)


Ele é belo, felino e febril. Michael Jackson é a criança que existe dentro de nós; aquela que ainda não foi contaminada pela aspereza da realidade. Este show é puro prazer, pompa e narcisismo. É magia, fantasia, viagem, vertigem, dissimulação e controle . Ele dança e consegue adicionar algo de inesperado e radiante a tudo aquilo supostamente conhecido.

Escrevi o comentário acima quando assisti a um show de Michael Jackson no estádio de Wembley, em 26 de junho de 1997. Mais adiante, prossegui:

Ele tem um complexo de Messias que transborda por todos os poros. Seu corpo é um templo em movimento; seu ego se transmuta em sinos que nos arrebatam.

Ele é incandescente, uma pantera no céu sem a gravidade de Fred Astaire. E ainda há seu sorriso intergalático. Ele quer o iluminemos como raios de lua. ‘Parem de me pressionar‘ ele canta, mas adora tudo isso. Num dado momento do show ele emerge de uma nave espacial em formato de casulo, convencido que era um astronauta feito de ouro. 

Encara a multidão em absoluto silêncio durante minutos intermináveis e se nutre do amor que emana do publico. Seguem-se encenações envolvendo gangsters e seus acompanhantes, uma máscara de lobisomen para compor o personagem de Thriller e o ato cerimonial de vestir a luva para entoar Billie Jean.

Ele ficou suspenso acima de nossas cabeças por um guindaste em Earth Song atuando simultaneamente como acrobata e pregador. Fingiu chorar entre I’ ll be …e …there e se emocionou tanto como o sentimos aquele aperto no peito ao ver realmente alguém chorando. Um tanque atravessa uma parede do palco e Michael o impede de avançar. Uma garotinha oferece uma flor a um soldado e este abandona sua arma.

Talvez pareça piegas, mas não no mundo de Michael Jackson. A grandiloquência pode soar vazia mas ninguém pode dizer que assim o seja neste caso, quando até mesmo a queima de fogos ao final do espetáculo perde um pouco do brilho sem sua presença.

Definitivamente, Michael não tem medo de se arriscar e no palco revive um conjunto de vidas cativantes e angelicais. Ele conhece o caminho que conduz a plateia ao êxtase , e sabemos que em nome dessa sensação qualquer coisa pode ser perdoada.'


Chris Roberts (em seu livro Michael Jackson O rei do pop 1958-2009)

Fonte: www.guardian.co.uk