The King of Style: Dressing Michael Jackson (04)


''Durante as filmagens de Captain EO, havia acertos para fazer nas roupas de Michael, como acontece muitas vezes no show business. O figurino com o qual ele estava dançando com a pele e a linha não era fluida, o que significava que eu não poderia esticar onde Michael necessitava para apoiar e reforçar a coreografia.

Toda noite, eu levava a roupa para casa, reparava e devolvia no dia seguinte, observando como Michael a levava no resto do dia. Fazia sua rotina de dança, a roupa voltava a se romper e eu a levava de novo para casa para consertar. No set de Captain Eo, a borda azul da camisa atrapalhava a roupa e eu tive que cortar a ele com uma tesoura.

"Michael, eu estou gastando tanto tempo corrigindo isso que eu fiz algo para a virilha que eu sei que vai funcionar."

Mas esse não era o meu trabalho no momento e Michael gentilmente a recusou, até que eu o convenci com uma promessa, "Eu posso fazer um par de calças que nunca vai se romper.''

E assim eu fiz. E um dia depois da filmagem e dançar com ela, Michael me perguntou, "Bush, como você sabia?"

Se ajustar para a função. Assim foi como eu soube. Fiquei muito feliz de poder me sentar no set e ver Michael atuar. Observava especificamente como ele movia o seu corpo e aprendia o que era necessário para fazer as roupas para ele. 

Para mim, vestir Michael Jackson começou por fazer um diagnóstico de trabalho para determinar por que ele estava lutando com suas roupas e, em seguida, como a construir para fazer ela funcionar de acordo com a maneira como eles dançavam. 

As roupas de Michael teriam que ser secundárias ao que ele estava fazendo. Se não entendesse como ele dançava, não poderia construir a roupa que está adaptado à sua função ao máximo. Então vesti a Michael para seu curta-metragem Smooth Criminal. Mais uma vez, havia falhas na roupa.

"Bush, eu preciso que você faça para mim um par de calças que eu possa usar... que funcionem.''

E assim foi. Era uma simples questão de estar no lugar certo na hora certa. Fizemos as primeiras calças elásticas nos lugares certos. Unos Levi's 501 que cortamos e voltamos a costurar, colocando lycra entre as pernas para permitir o fascinante desempenho de street dance criada por Michael Jackson.

Depois disso, estava em tempo integral. As chamadas a partir do estudo se repetiam sistematicamente, "Dentro de uma semana, Michael vai estar aqui ou ali. Nós precisamos de você."

Estar no set, estudar seus ensaios e apresentações me fizeram compreender o corpo de Michael e como ele o conduzia. Eu passei de assistente a estilista. Em 1987, quando me pediram para sair em turnê com Michael e monitorar o vestuário do seu então estilista, Bill Whitten, pensei que tinha morrido e ido para o céu.

Um menino nascido e criado em Ohio, que nunca tinha saído do país. Nem sequer tinha um passaporte. Contei a Dennis, meus amigos e familiares que iria ao Japão para ajudar Michael em sua primeira turnê solo - a Bad Tour - e me fez sentir que eu tinha conseguido.

Quando você se muda para Hollywood, você deixa para trás um monte de pessoas, as quais estão apenas esperando que você fracasse e volte para casa com o rabo entre as pernas. Eu não. Ele ia dar a volta ao mundo e retornar.

Geralmente os trajes são feitos antes de se ver os artistas. Para mim, é frustrante vê-los tentando trabalhar ao mesmo tempo que tentam fazer suas roupas funcionarem. Naqueles primeiros dias, eu vi Michael não conseguindo se concentrar na música e dança, e eu pensei: não deveria ser assim. Não é o seu trabalho se preocupar com a roupa. Não deveria estar lidando com coisas que não funcionavam.

Mas se adaptar à função não foi a única coisa que aprendemos vestindo Michael Jackson. As peças teriam que ser únicas. Nossa educação em desenho e figurinos para Michael começou em camadas. Forma, função. Sim.

Mas não se esqueça "Primeiro". E isso, obviamente, não significava ser o primeiro a usar meias sobre calças ou braceletes feitos com grampos. A criatividade de Michael transcendia a tudo o que Dennis e eu pensávamos que realmente poderia ser percebido.

Eu acho que Michael se sentia assim. E à sua própria e fantástica maneira, ele nos treinou para mudar nossa maneira de pensar, a maneira como nós olhamos ao nosso redor e nos ajudou a entender o que ele realmente queria nos dizer sobre chegar até o limite.

Sabíamos que Michael não gostava quando olhávamos e não percebíamos o que víamos. Michael deixou claro que ele queria que suas roupas incluíssem uma pergunta inocente e caprichosa aos seus fãs, "Você está olhando? Se deu conta?"

Por Michael Bush
*Estilista de Michael Jackson, em seu livro The King of Style: Dressing Michael Jackson

Fonte: MJHideout