''A arte de fazer amor com você''


''A arte de fazer amor com você''

Um texto de Andréa Faggion

''Nos [bons] tempos do rebolado de Elvis, a música branca descobriu que precisava se casar com a música negra. Nascia o bom e velho rock’n roll que, diziam, devia ser feito com uma mão branca e uma negra. 

A mão negra trazia, com seu ritmo, a sexualidade para dentro da música. A mão branca parece que ainda não se sabe bem ao certo o que acrescentou, além dos rostinhos que a mídia preferia ver, mas, bem, isto é outra história.

Hoje, vamos falar de sexo.

O que aconteceu conosco nas últimas décadas? Certamente, mudamos muito, pois, partindo do medo da música e da dança venenosa dos negros, chegamos ao ponto em que a música nem interessa mais face ao sexo. Ela é só a embalagem da sensualidade.

Maior símbolo disso é Madonna, afinal, quando você ouve este nome, o que lhe vem à mente em primeiro lugar, música ou sexo? Às vezes, até esquecemos que ela canta. Sua sucessora natural, Britney Spears, aprendeu rápido que, por mais hipócrita e conservadora que seja a sociedade americana, o único meio de continuar no mercado era comercializando sua sexualidade. 

A bem da verdade, ela sempre soube disso, pois desde os tempos em que bancava a colegial virgem, não havia inocência, a não ser para ser vendida a marmanjos doentios que, em suas fantasias mais obscuras, preferem menininhas a mulheres.

Mas nem sempre o sexo se sobrepôs à arte e se transformou em mercadoria. Não era para ser assim! Houve um tempo em que o sexo era apenas um modo de ser, uma forma de expressão, da arte. E esses tempos de Elvis e sua pélvis censurada não estão mortos.

Pelo menos não enquanto existir um rebolador chamado Michael Jackson. É fácil perceber o que há em comum entre esses dois mitos, não? Quando estão atuando, o órgão sexual de cada um parece um centro de onde emana uma espécie de energia que alimenta o show e contagia o público, levando-o a um alto grau de excitação.

É fácil perceber o envolvimento erótico de ambos com a música. Certamente, não teriam se tornado mitos sem este envolvimento que os difere de figuras mais insípidas como os Beatles, por exemplo, a quem faltou a mão negra.

O envolvimento de Elvis e Michael com a música é sexual, mas isto com tal naturalidade que o erotismo não impediu Elvis de se tornar um mito da família americana e não apenas dos jovens, sempre mais liberais. 

Quanto a Michael Jackson, a família sempre se divertiu com seus gestos “obscenos”. Michael se diz um escravo do ritmo para justificar os gestos, mas nem precisava, porque todos já compreendemos. A performance é um ato sexual entre ele e a música que envolve a todos e, naquele momento, todos compreendem.

Não há o que censurar porque Michael sequer é um sex simbol. Ele não usa o sexo para prostituir a música, mas sim para fazer amor com ela. Na contramão de todas as outras estrelas, sua imagem aparece como assexuada para a maior parte do público, sendo que para uma grande parcela nada parece menos sexualmente atraente do que Michael… fora do palco!


No palco, Michael nos leva de volta ao tempo em que brancos espiavam de fora as festas negras sem saber ao certo o que estava acontecendo durante a música. Seria uma orgia? Mas depois que Elvis abriu a porta da festa, Michael nos convidou a entrar e sentir a música em sua plenitude, ou seja, até mesmo de um modo físico.

[Fã desmaia no palco durante o concerto da HIStory Tour em Viena, 1997]

Agora você entende por que as garotas desmaiam durante concertos de Michael Jackson mesmo que ele não tenha a carinha de um vocalista de boy band, não é? Agora você entende por que mesmo os fãs heterossexuais do sexo masculino costumam confessar, ainda que embaraçados, que sentem a sensualidade que vem dele?

Ou você vai dizer que nunca sentiu? Calma, não precisa se constranger, tudo que você sentiu foi a arte usando o corpo dele para tocar você da forma mais íntima. Relaxe e aproveite!''

**Andréa Luisa Bucchile Faggion é filósofa e foi gerente da Edcyhis/MJBeats de 2003 a Setembro de 2005.

Fontes: 
MJBeats
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