Entrevista com Tom Jobim


Tom Jobim em entrevista para a revista ''Veja''
edição de 23 de março de 1988

Veja - O Michael Jackson ganhou 10 milhões de dólares para fazer anúncio da Pepsi-Cola, não é?

Jobim - Eu fico muito satisfeito com isso porque o Michael Jackson comprou os direitos dos Beatles. Isso é uma coisa fantástica. O Michael Jackson deve ser fã dos Beatles e vai cuidar bem da obra. Eu, se ganhasse um dinheiro desses, não 10 milhões de dólares que é muita coisa para mim, mas 5 ou 4 ou 3 ou 2 ou 1 milhão de dólares, compraria a obra do Tom Jobim, a minha própria obra.

Não quero terras nem fazendas. Dinheiro é muito bom quando você não tem de pensar nele. Eu compraria minha obra e iria editá-la toda direitinho porque está toda escrita errada, iria corrigir as letras, as harmonias e as melodias e até o ritmo. Faria isso para poder morrer em paz. Se eu morresse agora, neste minuto, iria ficar um rastro de besteira incrível. No mais das vezes, esses editores nunca se preocuparam em editar música nenhuma, eles sempre quiseram foi ficar com os direitos autorais.

Veja - Está acontecendo uma renovação na música brasileira?

Jobim - O Brasil é um país maravilhosamente musical, bem-dotado. Fala-se muito aqui da influência americana. Mas tenho ouvido Michael Jackson e aquilo está cheio de samba. Aliás, a música latina sempre fez parte da música americana. A música cubana toda foi assimilada pelos Estados Unidos. O Dizzy Gillespie ia a Cuba estudar pistão. Eles vêm aqui e ficam encantados. Mas é difícil ouvir músicas brasileiras porque aqui só se escuta rock.

*Tom Jobim, foi um compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro. É considerado o maior expoente de todos os tempos da música popular brasileira pela revista Rolling Stone e um dos criadores e principais forças do movimento da bossa nova.

Fontes:
 http://arquivo-mj.blogspot.com.br
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