A presa mais cobiçada


''Há meia dúzia de anos, depois de uma brutal campanha contra Michael Jackson a pretexto de eventuais casos de pedofilia que, aliás, nunca foram provados, o Rei do Pop foi votado a um esquecimento deliberado em que alguns amigos mais chegados rompiam com palavras de corajosa solidariedade.

Cercado de boatos, objeto de calúnias, insultado, humilhado, Jackson tornou-se a presa mais cobiçada dos verdadeiros cães raivosos, dispostos a destruí-lo. O cantor viu-se obrigado ao recato mais absoluto, a parar a sua carreira, a ganhar tempo para relançar a sua vida, moral e física, destruída pelos vampiros dos escândalos. Morreu sem forças para regressar ao palco e renascer no sítio que foi o epicentro da sua vida: a música.

É a este homem que os seus algozes de novo se levantam, agora, com a vontade de o glorificarem. A histeria em torno da sua morte só tem comparação com esses dias terríveis que lhe destruíram a vida. A pressão é tal que os médicos, que dele cuidavam, correm o risco de serem transformados em carrascos. Jackson não podia morrer. Não podia tomar drogas proibidas para dormir. Precisava estar vivo. Mas para quê? É evidente que nesta guerra contra a sua mortalidade existe muito dinheiro pelo meio.

A verdade que a polícia deve procurar tem a ver com a razão pela qual ele deixou de dormir até sentir a necessidade de ingerir medicamentos proibidos. Que sortilégio lhe levou o sono? Que angústia, mágoa ou ansiedade lhe trouxe a insônia? É muito natural que, entre outras explicações mais próximas, se encontre a mais definitiva das explicações.

Este homem que desde miúdo foi dirigido para o palco, muitas vezes forçado, que não soube o que era brincar, que viveu e respirou o palco, que se transformou numa das maiores estrelas do espetáculo do séc. XX, começou a morrer no dia em que o enxovalho público lhe foi destruindo plateias, o único caminho que aprendera rumo às estrelas.

Esta ressurreição magoada revela a admiração que milhões de homens e mulheres pelo mundo tinham pelo cantor e dançarino. Admiração mitigada, escondida, pois os vampiros que lhe destruíram a imagem apenas o queriam vivo para continuar a destruí-lo.

Fez bem em deixar-se morrer. O seu anunciado regresso não seria mais do que um pretexto para tornarem a despedaçá-lo. Assim, descansa em paz, longe dos vampiros do escândalo, sendo certo que viverá para sempre na memória daqueles milhões de anônimos que nunca deixaram de o admirar e aplaudir.''

Francisco Moita Flores [Criminologista em depoimento para a TV Guia.]

Fonte: http://comunidade.jn.pt