Mergulhando nos bastidores de um crime contra Michael Jackson


'Um encontro com Sr. Rothman foi como encontrar um demônio de verdade vindo das profundezas do inferno. Mas eu ainda estava subestimando-o. Eu espero nunca encontrar alguém como ele novamente.'

O livro de Geraldine Hughes: Redenção: A Verdade Por Trás das Alegações de Abuso Sexual Infantil Contra Michael Jackson detalha seu conhecimento das alegações que foram feitas há onze anos do ponto de vista de quem esteve por dentro do caso.

GERALDINE: Eu sou a secretária, eu fui a única secretária que trabalhou para Barry Rothman, que foi o advogado que representou Evan Chandler, o pai do garotinho que acusou Michael Jackson de abuso sexual no caso de 1993. Como o resto do mundo, eu assisti as alegações em lágrimas, quando elas vieram à tona. E meu primeiro pensamento foi: “Ah, meu Deus, não, eles não fizeram isso com ele!”

Assim, eu sabia desde o início que Michael Jackson era completamente inocente dessas alegações. Eu inicialmente contei à defesa por que eu sentia que o crime estava sendo cometido contra Michael. Mas, porque o caso acabou com um acordo e nunca foi a julgamento, todas as informações que eu providenciei ainda têm que vir à atenção do público, e são informações que apontam na direção da inocência de Michael Jackson. Por estar dentro da equipe de Chandler, quando eu comecei a acreditar que algo errado estava realmente acontecendo ao meu redor, eu simplesmente comecei a juntar informações na minha agenda, por alguma razão. Eu vim a saber com total clareza porque eu fiz isso agora.

Quando eu vi que as informações na agenda concluíam que ele estava sendo falsamente acusado das alegações de abuso sexual infantil e o caso foi encerrado com o acordo, eu fiquei pensando por anos sem saber realmente que caminho tomar, o que fazer nesse ponto. Eu sei de algo que o mundo não sabe, mas como você expõe essa informação? Eu diria que a ideia para escrever o livro não veio até 1997. Eu de fato comecei a escrever o livro, ou comecei a jornada de escrever o livro, em 1997. E eu o completei no ano 2000.

RON: Você disse que 75% da informação que está em seu livro é de conhecimento público.

GERALDINE: Sim, a parte que é tão interessante, a informação mais destrutiva, é a conversa entre Evan Chandler e David Schwartz, que foi padrasto do garotinho. Evan não sabia, mas Schwartz estava gravando, assim Evan estava falando livremente. Ele disse literalmente, palavra por palavra, qual foi seu motivo, qual foi sua intenção (e, se ele não conseguisse o que ele queria, o que ele iria fazer), por que ele contratou Rothman (que era o advogado para quem eu trabalhava)... e ele fez tudo que ele disse que ele ia fazer [nota da EDCYHIS: na gravação desta ligação, Evan Chandler disse que tinha um plano, contratara o advogado mais calhorda para executá-lo e, se fosse até o fim, destruiria Michael Jackson e conseguiria muito dinheiro]. Mas Pellicano, o detetive da defesa, o investigador de Michael Jackson, conseguiu essa gravação. Ele deu essa gravação para as redes de tv. Eles mostraram essa gravação em todas as redes, e eles deixaram todos ouvirem Chandler, com sua própria boca, dizer que era tudo premeditado. E ele não disse simplesmente. Quando você apenas diz e não age, você está só alegando algo, mas quando você diz e então faz, torna-se um fato. Ele simplesmente fez o que ele disse que ele ia fazer.


O áudio onde Evan Chandler assume o seu crime de extorsão

Isso tudo foi varrido para debaixo do tapete. Por que nós não ouvimos mais? Nós estamos tentando fazer de Michael Jackson um pedófilo. Nós estamos tentando fazer dele um molestador de crianças. Nós tínhamos esse homem dizendo com sua própria boca: “Eu vou destruí-lo se eu não conseguir o que eu quero”.

RON: Mas esta gravação não teria sido admitida na Corte, porque, na época, Evan Chandler negou saber que estava sendo gravado, correto?

GERALDINE: Correto [nota da EDCYHIS: Gravações obtidas sem o consentimento dos envolvidos, como em telefones grampeados ou escutas, não são aceitas nos tribunais americanos].

RON: Essa conversa foi no começo de agosto de 1993?

GERALDINE: Eu acredito que foi, sim, foi.

RON: Na conversa, Sr. Chandler alega, “Não há como eu possa perder. Eu chequei isso de todos os lados. Há outras pessoas envolvidas. Eu paguei a elas para fazerem. Este cara vai destruir todos de qualquer modo sujo, cruel, trapaceiro que ele possa fazer”. Neste ponto, alegadamente se referindo ao Sr. Rothman. Correto?


GERALDINE: Certo.

RON: “Eu darei a ele plena autoridade para fazer isso”. E então, outra coisa que eu achei interessante é quando Schwartz pergunta sobre os interesses da criança. Você se lembra qual foi a resposta do Sr Chandler?

GERALDINE: Ele disse que não era importante para ele, que isto era irrelevante.

TRISH: Ok, então vamos falar sobre Barry Rothman, seu ex-patrão. Você poderia compartilhar conosco um pouco sobre o caráter e a personalidade dos dois personagens principais, Sr. Rothman e Dr. Chandler?

GERALDINE: Eu passei muito tempo explicando o caráter de Rothman, porque, para entender como alguém poderia ter feito isso, você precisa conhecer a pessoa. Eu estive trabalhando na área jurídica por anos antes de começar a trabalhar com ele, e eu nunca vi um advogado como ele. Eu posso honestamente dizer que eu nunca vi um ser humano como ele. Foi a experiência mais incrível que eu tive. Ele foi o advogado a quem Chandler se referiu quando ele disse (eu usarei as próprias palavras de Chandler): “Eu encontrei alguém que é maligno, ele é.”

RON: Por que você não usa uma citação direta do seu livro? Um encontro com Sr. Rothman foi “como encontrar um demônio de verdade vindo das profundezas do inferno”.

GERALDINE: Sim, e eu estava subestimando-o. Mas isto foi o mais claro que eu pude colocar. Eu espero nunca encontrar alguém como ele novamente.

RON: Você pode nos falar um pouco sobre o fato de Chandler poder ter contratado Rothman, porque ele, um ano antes, esteve engajado em outro caso similar sobre abuso de crianças, em que falsas alegações foram feitas?

GERALDINE: Eu estava tentando explicar ao leitor por que ele contratou Rothman e por que sua escolha foi importante. Não teve nada a ver com o litígio, porque Rothman não era um advogado de tribunal. Rothman era um advogado especialista em entretenimento. Quando você é um advogado desta área, você não vai à Corte, você está lidando com contratos, acordos, cartas... E, portanto, um advogado da área não poderia ter muita experiência com litígios. Ele não era um advogado da vara familiar e, quando Chandler contratou Rothman, eles estavam engajados em uma batalha por custódia. O único motivo que faz sentido para a contratação de Rothman durante uma batalha por custódia é que ele representou uma cliente que queria a custódia de seu filho e, por isso, eles acusaram o pai de abuso sexual infantil. A mãe obteve total custódia e o pai teve seu envolvimento com o filho restringido. A mesma coisa aconteceu com essa cliente anterior e com o caso de Chandler.

TRISH: Em seu livro, você conta como Dr.Chandler tinha os nervos à flor da pele e a criança estava sempre à vontade, tentando acalmar seu pai. Isto é estranho para mim. Você achou estranho também?

GERALDINE: Eu achei muito estranho, porque, geralmente, esse é o papel do pai, mas eu testemunhei o comportamento dos dois como o oposto. Quer dizer, Chandler estava totalmente nervoso e eu me espantei um pouco com o fato do filho estar o tempo todo checando como ele estava. Quando ele tinha explosões, o filho vinha e o acalmava. O garotinho parecia ser perfeitamente normal, estar perfeitamente bem, e eu vi algo charmoso e encantador nele. Eu posso entender por que alguém se encantaria com ele, uma criança doce.

TRISH: Então os papéis foram invertidos. Ele era mais o pai e Dr. Chandler mais o filho. Isto é realmente interessante.

GERALDINE: Sim, havia uma inversão de papéis completa entre aqueles dois.

TRISH: Você também fala sobre um encontro que você presenciou entre Sr. Rothman e Jordan Chandler. Você pode descrever isso para nós?

GERALDINE: Eu entrei no escritório de Rothman sem bater. Nós éramos sempre ameaçados de morte se entrássemos lá sem bater...

GERALDINE: Eu estava saindo para ir para casa uma tarde e pensei em avisá-lo que eu estava indo. Eu abri a porta e esqueci de bater. Foi a primeira vez que eu vi o garoto, o garoto Chandler. Ele estava nos fundos do escritório de Rothman, mas nós não o vimos chegar no escritório. Por alguma razão, Rothman colocou o garotinho dentro do escritório sem ninguém notar que ele tinha entrado e então ele o tinha atrás de portas fechadas. Mas o que me surpreendeu realmente foi o fato do pai não estar lá. Estavam apenas Rothman e o garotinho. A princípio, eu achei estranho, mas o que me fez sentir que realmente algo estranho estava acontecendo foi a expressão no rosto do garotinho quando eu entrei e o vi no escritório de Rothman. Ele fez uma expressão confusa, ele tinha a mais engraçada expressão em sua face. Rothman me deu uma bronca, é claro, por chegar e entrar, e eu disse a ele que eu queria apenas dizer que eu estava indo embora. E quando eu me virei e fechei a porta, isso colocou um pequeno ponto de interrogação em mim. Simplesmente, algo me dizia que havia alguma coisa realmente estranha naquela cena. Alguma coisa não estava certa nisso, porque ele tinha aquele olhar em sua face como se eu não devesse ter visto aquele encontro. Foi por isso que eu chamei de “encontro secreto”.

RON: Geraldine, uma coisa que nós sabemos sobre o processo criminal em andamento é a importância da cronologia, ou seja, quando certos eventos aconteceram, quando as coisas tomaram lugar, quando as coisas foram ditas... e eu tomei nota quando eu estava lendo seu livro sobre quando as coisas começaram a acontecer. 04 de agosto é a data em que você estabelece que as negociações entre Michael Jackson, Anthony Pellicano [nota da EDCYHIS: Pellicano era o investigador particular contratado pela defesa de Michael Jackson], etc., e Rothman e Chandler começaram. Eu achei interessante que entre 04 e 17 de agosto, durante esse período de negociações, aquelas três semanas em que as demandas iam de um lado para o outro entre Rothman e Pellicano, a criança nunca foi ao psiquiatra [nota da EDCYHIS: Se uma criança vai a um psiquiatra e confessa ter sofrido abuso, é dever do psiquiatra notificar as autoridades a respeito, o que faz com que o caso passe às mãos do Estado e fuja ao controle da família. O que Ron quer implicar com essa colocação é que Chandler e Rothman não queriam que uma denúncia ocorresse nesse período de negociações, porque tinham a esperança de conseguir dinheiro de Jackson com ameaças]. Você pode falar um pouco sobre isso? Eu achei estranho, lendo o livro. Se você é um pai e seu filho foi abusado, uma das primeiras coisas que você faz é relatar para uma terceira parte.Você não vai tentar extorquir dinheiro de um indivíduo por causa disso. Você certamente não vai perder três semanas se a criança está vivendo um trauma.

GERALDINE: O que eu acho realmente chave é que, durante esse período, nós todos sabemos que ele examinou o psiquiatra. Rothman primeiro deu a ele uma questão hipotética do tipo “o que aconteceria se”, e assim o psiquiatra escreveu a ele duas páginas dizendo: “bem, se fosse um caso real...” O psiquiatra disse que teria que ser denunciado e então, em vez de fazer o que ele disse, houve três semanas de negociações. Em vez de seguir o conselho do psiquiatra, denunciar, ele apenas pegou essa carta que o doutor deu a ele e foi usá-la para barganhar com Michael e dizer: “Vê essa carta? Ou você me dá o dinheiro ou…eu vou expor você”. Tudo que ele tinha era a resposta do psiquiatra para uma questão hipotética, mas ele usou isso como uma ferramenta de barganha, foi com isso que ele primeiro foi a Michael pedindo o dinheiro: 20 milhões de dólares. Ele foi muito claro. Ele disse: “O que eu quero são quatro contratos para filmes que precisam ser de 5 milhões de dólares cada”. Foi assim que ele pediu. Se ele tivesse dito: “Me dê 20 milhões”; certamente, nós teríamos dito: “Oh, isso é extorsão”. Mas isso ainda é a essência de uma extorsão: usar alguma influência indevida para tentar conseguir que alguém faça algo e, se ele não fizer, então há uma conseqüência que acontecerá. Assim, essa foi sua arma para pedir a Michael 20 milhões em “termos de um contrato cinematográfico”.

RON: É interessante que se trate de uma carta hipotética. É interessante saber que a carta não foi baseada em qualquer tipo de encontro com alguém da família Chandler. Rothman, obviamente, tinha seu plano em mente e, se nós formos acreditar em tudo que você está dizendo, era “o plano” a que Chandler se referiu várias vezes. E o plano, aparentemente, era usar essa carta como arma, como ferramenta de barganha, para dizer: “veja, tudo que nós precisamos fazer é levar esse garoto ao psiquiatra, porque ele então vai denunciar à polícia e sua carreira estará acabada”.

GERALDINE: Exato. E Chandler também disse: “Eu estou sendo aconselhado”. O que quer dizer que isto vinha de alguém mais. “Eu estou sendo aconselhado. Eu estou agindo de acordo com um plano e não tem como eu perder”.

RON: Você mencionou que você realmente digitou uma carta que o Sr. Rothman escreveu para o Dr.Chandler sobre o procedimento para um pai denunciar abuso infantil sem ter que assumir a responsabilidade da acusação. Você pode falar um pouco sobre isso?

GERALDINE: Eu expliquei isso no capítulo intitulado: “A Descoberta da Terceira Parte”. Este capítulo conta em detalhes que foi Rothman quem realmente aconselhou Chandler sobre como denunciar abuso sexual infantil usando uma terceira parte, sem responsabilizar o pai pela denúncia, e eu digitei essa carta. Eu não copiei a carta, seria uma quebra do que quer que seja, mas eu anotei em minha agenda alguns códigos que ele anexou à carta.

Para o público, simplesmente parece que Chandler levou o garoto ao psiquiatra e o psiquiatra o questionou, descobrindo detalhes que ele sentiu que precisava denunciar. Mas atrás das cenas não foi nada parecido com isso. Ele levou o garoto ao psiquiatra no dia em que ele tinha uma audiência no processo pela custódia. Eles não tinham muito tempo para pensar e, lembrem-se, eles estavam se movendo de acordo com um plano. A Corte ordenou que ele devolvesse o garoto para a mãe. Então eu achei que tudo acabaria, porque o garoto voltaria para a mãe. Mas foi então que eu descobri que ele, em vez de obedecer a Corte, levou o garoto ao psiquiatra que já tinha dito que se fizessem tal coisa, tal coisa aconteceria. Então o psiquiatra fez a denúncia para o departamento encarregado de proteger crianças de abuso. Eu estava como: “espere um minuto, algo está realmente errado, porque ele sabia disso há 3 semanas. Ele já tinha feito a pesquisa e sabia que se A acontecesse, então B aconteceria.

O ponto chave é que ele estava indo para a Corte em uma batalha pela custódia. Agora, vem cá, você está negociando por 3 semanas com uma suspeita de abuso sexual e então você vai à Corte e não há menção sobre isso. Não houve nenhuma menção ao assunto na audiência, nem mesmo ao juiz. Chandler não mencionou que ele tivesse qualquer tipo de conhecimento de que o garoto estivesse sendo molestado. Você sabe que, se você diz isso para um juiz, o juiz vai fazer alguma coisa, até que ele saiba que isso é infundado. Este seria o melhor lugar para expor essa informação, porque um juiz faria qualquer coisa em seu poder para proteger o bem-estar da criança. Este é seu trabalho! E Chandler foi a uma Corte pela custódia da criança e não mencionou ao juiz que ele tivesse qualquer suspeita, qualquer idéia que algum tipo de abuso ou algo impróprio estivesse ocorrendo. A razão para isso é que eles tiveram somente um dia para imaginar o que fazer. Já que ele não disse nada, o juiz ordenou que a criança fosse devolvida e a criança sendo devolvida à mãe arruinaria seus planos. Ele precisava da custódia do garoto para executar a acusação de abuso sexual. De outro modo, qualquer resultado da acusação teria favorecido June [nota da EDCYHIS: Se June, a mãe de Jordan, mantivesse a custódia, Evan não poderia ter acesso ao dinheiro visado em seu plano, que, afinal, seria uma indenização ao garoto e não aos pais].

RON: Eu acho que eu sei por que ele não mencionou o suposto abuso na audiência pela custódia. Aqui entre nós, durante este período, ele estava ainda negociando para tentar obter seus 20 milhões de dólares [nota da EDCYHIS: O ponto de Ron é que, se Evan tivesse se referido ao suposto abuso na Corte, ele estaria desistindo das negociações com Jackson. Assim, ele só teria decidido levar o plano adiante, encaminhando o garoto ao psiquiatra, quando viu seu plano ameaçado pela ordem do juiz].

GERALDINE: Mas isto foi no dia 17, uma semana depois do último encontro, quando ele já sabia que a equipe de Michael não daria o dinheiro a ele. O que aconteceu é que simplesmente não estava de acordo com seu plano e eles estavam se movendo de acordo com o plano e não se desviariam dele [nota da EDCYHIS: No plano, era importante que a denúncia se desse através do psiquiatra para que Evan Chandler não assumisse a responsabilidade por ela, como aconteceria se ele tivesse denunciado Jackson em sua audiência na Corte]. Meu ponto ao abordar esse episódio da audiência é: você vai à Corte disputando a custódia de uma criança que você suspeita estar sendo abusada e você não diz nada? Foi por isso que o juiz ordenou a devolução da criança. Não houve nada dito a ele que o fizesse pensar que a criança estivesse correndo qualquer perigo sob os cuidados da mãe.

Ron: Uma das coisas que eu queria mencionar é o nível profissional com que a investigação foi conduzida, especialmente com relação a certas coisas que você mencionou no livro. Bert Fields [nota da EDCYHIS: Fields foi o primeiro advogado a representar Michael Jackson no caso de 1993. Trata-se de um advogado civil que já trabalhava para o cantor] enviou uma carta para o então chefe de polícia de Los Angeles, Willie Williams, criticando-o pela forma com que as entrevistas foram conduzidas. Você incluiu em seu livro que, durante a busca realizada, a polícia encontrou e confiscou cadernos de endereço e de telefone de Michael Jackson, sua agenda pessoal, entre outras coisas. E eles entrevistaram todo mundo. Como você mencionou no livro, eles até viajaram para diferentes países, como as Filipinas, e entrevistaram 400 testemunhas. Agora, acho relevante que as pessoas saibam disso, já que as várias pessoas e crianças daquele caderno de telefone foram referenciadas especialmente por Jordy Chandler como tendo sido supostamente abusadas. Todas elas foram entrevistadas e nenhuma delas confirmou em depoimento que qualquer abuso aconteceu. Então, se ele diz que cinco pessoas foram molestadas, incluindo ele mesmo, mas as outras quatro negam, sua declaração não se torna um pouco menos válida? Mas o que eu realmente quero apontar é para a maneira como o departamento de polícia de Los Angeles interrogou, algo como: "Temos fotos suas em que você está nu. Tudo bem se você vir e nos contar sobre o abuso". Obviamente, uma tática não muito profissional. Você gostaria de comentar um pouco sobre isso?

Geraldine: Realmente eles fizeram coisas que de fato foram questionáveis. Eles realmente convocaram as testemunhas inapropriadamente, o que não é boa coisa. É algo muito sério, para começar. Ainda, eles fizeram isso com as crianças, tentando ludibriá-las. Por exemplo: "Bem, nós conversamos com algumas pessoas e elas já admitiram". O que acho tão sério com relação a essa tática que eles usaram com as crianças é que eles não estavam simplesmente questionando-as, mas sim tentando enganá-las. Você sabe, tentando fazer com que elas admitissem certas coisas, o que não funcionou porque não havia nada para elas admitirem. Penso que isso funcionou a favor de Michael, porque, como você disse, eles questionaram 400 testemunhas e não obtiveram nenhuma que corroborasse o garoto. O que eu acho tão injusto é que todos continuam dizendo que ele só saiu ileso, porque foi feito um acordo no processo civil, mas veja o que Sneddon e Garcetti tinham. Na época, eles estavam em busca de corroboração. Se você tem alguém afirmando sem evidência física... para passar pelo júri é preciso algo mais do que simplesmente estar acusando. Você precisa de uma testemunha, precisa de alguma coisa. [nota da EDCYHIS: Em 2003, Sneddon registrou as acusações contra Michael Jackson se utilizando de uma nova lei que permite acusações de abuso sem evidências físicas ou testemunhas que corroborem-na]. Então, se houvesse só mais uma testemunha, se houvesse alguém mais que pudesse ter corroborado... Mas não havia. E tenho que dizer que realmente temos as melhores agências policiais da nação e, dessas, quatro estavam investigando e procurando por algum tipo de corroboração. Sem contar com a ótima equipe de homens e mulheres investigando, quero dizer, provavelmente trabalhando isoladamente. Eles não conseguiram encontrar nenhuma corroboração para a alegação de abuso infantil do garoto. O que estou dizendo é que aquela não era uma alegação factual.

Ron: E foram dois Grande Júris, para a apresentação do caso.

Geraldine: Dois Grande Júris.

Ron: Doze pessoas em cada. Doze no condado de Los Angeles e mais doze no de Santa Bárbara, e nenhuma evidência que levasse o caso a julgamento [nota da EDCYHIS: Pelas leis americanas, o Grande Júri é convocado para ouvir a apresentação do caso feita pela promotoria e avaliar se as evidências da acusação são suficientes para justificar que um caso vá a julgamento. A defesa não se manifesta nesta fase do processo. O caso de Jordan Chandler foi recusado por dois Grandes Júris por falta de evidências].

Geraldine: E muitas pessoas ainda dizem que ele pagou. É preciso saber que o civil e o criminal são dois processos separados [nota da EDCYHIS: Em um processo civil, o acusador é uma pessoa física ou jurídica que processa outra pessoa (física ou jurídica) em nome de um alegado dano sofrido e, assim, requer uma indenização, única penalidade a qual o réu pode ser submetido. Em um processo criminal, o Estado acusa o réu de um crime e a pena pode ser a prisão]. Se tivessem encontrado qualquer coisa que corroborasse a declaração do garoto, o acordo não teria encerrado o processo criminal [nota da EDCYHIS: Um acordo, como o feito entre Michael Jackson e a família Chandler, pode encerrar um processo civil, mas em nada afeta o andamento do processo criminal. O processo criminal contra Michael Jackson, como explicado acima, não foi a julgamento porque dois Grande Júris entenderam que não havia um caso concreto, enquanto o processo civil não foi a julgamento por causa do acordo], já que literalmente mantiveram-no aberto por seis anos [nota da EDCYHIS: O fato do processo criminal não ter ido a julgamento não significa que ele tenha sido encerrado. Durante seis anos ele permaneceu aberto à espera de novas evidências que pudessem justificar um julgamento. Nada apareceu!]. Seis anos esperando por algo que viesse à tona e em seis anos não houve nada que pudesse corroborar. Então, o público precisa entender que o fato dele ter feito um acordo no caso civil não tem nada a ver com o caso criminal.

Trish: Em seu livro, você fez referência a uma explosão que ouviu de Evan Chandler, dirigida a Rothman. Aqui está a citação: "Sou eu que estou por um fio e em risco de ir para a prisão". Você registrou isto em seu diário. Pode nos contar o que estava se passando por sua mente e por que você acha que Dr. Chandler estava irritado?

Geraldine: Eu só pude ouvir, porque foi uma explosão. Eu não poderia ter ouvido se tivesse sido dito num tom normal. Mas como foi um acesso, houve uma alteração e eles simplesmente berraram. Eu pude ouvir. Aquele foi um dos comentários que ouvi e logo pensei ser estranho para alguém que se dizia vítima. Aquilo não soava como uma declaração de vítima para mim. Soava mais como a declaração de alguém que cometeu um crime.

Trish: Certo, porque se eu tivesse ouvido "Sou eu que estou por um fio e em risco de ir para a prisão", a primeira coisa que eu teria pensado era em alguém com problemas. E é muito interessante. Até na gravação da ligação entre David Schwartz, padrasto de Jordan Chandler, e Evan Chandler, ele nunca menciona abuso. Ele sempre declara que seu filho foi "seduzido pelo poder e dinheiro desse cara" e que "não tem como eu possa perder. Tenho checado isso de todas as formas. Há outras pessoas envolvidas. Eu paguei para elas. Este cara vai destruir todo mundo na mira da maneira mais vil, desonesta e cruel que ele possa fazer. E eu lhe dei total autoridade para fazer isso". E quando Schwartz perguntou sobre o que seria melhor para o garoto, Dr. Chandler disse: "Isso é irrelevante".

Geraldine: Exatamente.

Trish: Não parece que ele estava preocupado com seu filho supostamente abusado. Você detalha como ambos Chandler e Rothman procuraram advogados criminalistas e estavam muito nervosos com relação aos investigadores que os investigavam por extorsão. E em certo ponto você ouviu Rothman dizer a Chandler que eles precisavam se encontrar no fim de semana para assegurarem que suas estórias seriam as mesmas. Pode nos contar sobre isso?

Geraldine: Foi na acusação de extorsão - quando começaram a telefonar para investigar a acusação de extorsão contra Rothman e Chandler. Até esse ponto, eles estavam muito autoconfiantes e tinham controle das coisas, mas quando alguém do escritório dos investigadores telefonou requisitando um encontro com eles, um encontro que não seria com os dois juntos, as coisas mudaram. Seriam encontros separados. Rothman estava nervoso um dia, porque Chandler normalmente costumava ligar para nosso escritório de quatro a cinco vezes por dia, sendo suas ligações sempre prioridade. Neste dia em particular, quando ele soube que precisava se encontrar com o investigador - acredito que seria numa segunda-feira, e o dia era talvez quinta ou sexta-feira -, ele não teve notícias de Chandler para avisá-lo, então ele estava como...: "Quando Chandler ligar, encontre-me". Era para encontrá-lo fosse onde ele estivesse, interrompê-lo fosse o que estivesse acontecendo. Então, quando Chandler finalmente ligou, ele atendeu num escritório próximo de onde eu estava. Normalmente, ele faria todo o caminho de volta para seu próprio escritório e atenderia a chamada por trás de portas fechadas. Desta vez em particular, ele atendeu naquele escritório e não fechou a porta. Então logo pensei que ele não estava normal naquele dia. Ele não estava raciocinando. As coisas estavam fora de ordem. E eu o ouvi. Era uma explosão - precisava ser uma. Eu o ouvi dizer a Chandler... Ele estava contando-lhe alguma coisa e então disse esta parte mais alto, que queria encontrá-lo no sábado, quando nenhum empregado estaria no escritório. Teria de ser só entre ele e Chandler. Imediatamente fez sentido para mim. Eles queriam privacidade. Mas ele estava tentando dizer a Chandler que o motivo era para "assegurarmos que estamos falando a mesma coisa". Ele disse isso realmente alto. Provavelmente, Chandler estava tentando dizer para se encontrarem num outro dia ou algo assim, então Rothman foi realmente inflexível. "Temos que nos encontrar para assegurarmos que estamos dizendo a mesma coisa". Para mim isto é diferente de "Vamos nos encontrar e rever os fatos". Para ele ter dito aquilo da maneira que disse, eu imaginei: "Espere aí, há algo realmente errado aqui".

Trish: Você mencionou que nunca foi procurada com relação ao processo de extorsão e que os membros da mídia sequer tentaram entrevistá-la sobre isso. Mas como você pode justificar o fato de você estar cooperando com os investigadores ao investigar a trama de extorsão, enquanto trabalhava com Rothman?

Geraldine: Você quer dizer o investigador com quem eu estava trabalhando - certo, era o investigador da defesa, o investigador de Michael Jackson. E o motivo... Bem, não partiu de mim, não foi idéia minha. Durante todo o caso, eu ia para casa e não falava do que estava acontecendo, do que eu estava presenciando, com ninguém, a não ser minha mãe. Mães normalmente sentem o que está acontecendo com seus filhos, e eu estava compartilhando coisas com a minha. Eu dizia: "Não posso acreditar nisso!". Então, quando a acusação veio à tona, a acusação de abuso sexual infantil, ela estava bastante incomodada com ela, porque sabia bem, por causa das informações que eu lhe havia passado, que ele era completamente inocente, que as acusações eram falsas. Assim, minha mãe juntou as notícias e através disso ela descobriu quem era o investigador do lado de Michael Jackson, e telefonou para ele dizendo: "Você tem que falar com minha filha. Ela trabalha para Rothman e tem algumas informações". Depois, ela me procurou e disse: "Você tem que falar com o investigador. Ele quer falar com você". Como você vê, a princípio, honestamente, pensei que fosse a equipe de investigação que queria falar comigo para saber do que eu sabia sobre o caso.

Na verdade, não foi quando fomos falar com Pellicano que eu descobri que ele era o investigador particular de Michael Jackson. Eu não havia descoberto isso até o fim do encontro, quando ele me deixou saber exatamente de que lado estava. Eu, realmente, pensava que estava falando com um investigador do promotor, apesar de saber que minha mãe meio que havia planejado aquilo. Mas o motivo de eu ter ido falar com ele foi que eu pensava que não tinha escolha e, além do mais, no meu coração eu realmente acreditava que estava sendo testemunha de um crime que estava sendo cometido contra Michael Jackson.

Ron: Geraldine, dez anos depois, muitas pessoas ainda questionam, especialmente o público que não é necessariamente fã de Michael Jackson, por que um homem inocente fez um acordo judicial sabendo que isso o faria parecer culpado. E no capítulo intitulado "Legalmente Falando", você cobre isso em grandes detalhes. Você poderia nos falar um pouco mais?

Geraldine: Acredito que 95% dos motivos que levaram-no a fazer o acordo tiveram a ver com o que estava se passando no tribunal. O sistema judicial não estava funcionando para Michael Jackson. Ele perdeu quatro moções, sendo que duas delas acredito que ele deveria ter ganhado. E eram moções chaves. Uma, em particular, era o pedido de suspensão do caso civil. Há uma diferença entre o processo civil e o criminal. O caso civil era aquele que Feldman havia aberto, enquanto o escritório do promotor estava perseguindo o caso criminal. Ambos são de diferentes padrões. O caso criminal requer... Bem, são diferenças bem meticulosas. No criminal, você não pode obter informações de uma forma qualquer. Você tem que fazê-lo de acordo com os padrões e códigos. Mas, no caso civil, os padrões são um pouco mais indulgentes. Nele, você pode considerar como evidência coisas que no criminal não pode. Era importante para eles tentar a suspensão do caso civil, porque, se ele precedesse o criminal, então tudo o que o promotor distrital teria que fazer era sentar-se e esperar para colher as informações - é como uma forma de auto-incriminação, viola seu direito de Quinta Emenda [nota da EDCYHIS: A Quinta Emenda à Constituição dos Estados Unidos determina que o indivíduo tem o direito de recusar-se a apresentar evidências que possam vir a incriminar a si mesmo. Ao permitir que o processo civil contra Michael Jackson ocorresse paralelamente ao processo criminal, a justiça americana fez com que o cantor tivesse que expor, antes de um eventual julgamento criminal, sua estratégia de defesa, bem como permitiu ao promotor ter acesso a informações apresentadas pela acusação no processo civil, informações estas mais fáceis de serem colhidas em um processo civil, dadas suas regras mais indulgentes com a acusação, como explicou Geraldine].

Você tem esse direito de não incriminar a si próprio, mas eles registraram as moções requisitando a suspensão do caso civil até que o criminal tivesse a chance de ser concluído e acabaram perdendo. Isso colocou Michael em uma situação em que ele não receberia um julgamento criminal justo. No caso de O.J. Simpson, por exemplo, o caso criminal teve que seguir primeiro e, uma vez que fora concluído, a família foi atrás do caso civil. E é a ordem apropriada. É assim que deveria ser, especialmente quando as alegações são as mesmas. Era o mesmo caso na situação de Michael Jackson, mas, neste, eles permitiram o caso civil. Permitiram que Feldman fosse em frente. Foi quando Cochran entrou [nota da EDCYHIS: Johnny Cochran, o famoso advogado que defendeu O.J. Simpson. Ele foi contrato por Michael Jackson em uma fase mais adiantada do processo] e tentou colocar uma ordem de proteção. Ele disse: "Bem, se vocês vão deixar o caso civil correr, então nós queremos proteger as descobertas" [nota da EDCYHIS: Cochran queria que as evidências apresentadas no processo civil ficassem sob sigilo justamente para que o promotor não pudesse se aproveitar delas no caso criminal]. Ele também não obteve êxito. Quando ele fez a ordem de proteção, três oposições vieram de três fontes diferentes. E era isso que estava acontecendo no tribunal. O sistema não estava funcionando a favor de Michael Jackson, e esses advogados sabiam disso [nota da EDCYHIS: Em resumo, o usual nos EUA é que o processo civil aconteça após a conclusão do processo criminal para que a promotoria não possa se beneficiar do conhecimento dos fatos do caso, tanto da parte da acusação quanto da defesa, que obteria acompanhando o processo civil. Vulgarmente falando, seria como se um lado visse as cartas do outro, antes do jogo, e ainda recebesse um Ás a mais. No famoso caso O.J. Simpson, o processo criminal concluiu por sua absolvição, justamente porque o processo criminal não aceita certos tipos de evidências e ainda requer provas que estejam além de qualquer dúvida razoável para a condenação. Posteriormente, deu-se o julgamento civil, em que ele foi condenado e pagou uma indenização à família da vítima. No caso de Michael Jackson, em 1993, o juiz permitiu que o processo civil se desenrolasse paralelamente ao processo criminal. Após tentativas fracassadas para o adiamento do processo civil, os advogados de Jackson não tiveram outra saída que não interrompê-lo com um acordo extra-judicial. Em 2003, Tom Sneddon pediu aos acusadores que não abrissem um processo civil antes do término do processo criminal, supostamente porque passaria a imagem de que os acusadores estariam interessados no dinheiro do cantor, o que se obtém em um processo civil, e não apenas em justiça, o que se obtém em um processo criminal].

Agora, eles poderiam ter ido em frente e ido a julgamento, mas eles realmente fizeram o que tinham que fazer com base no que sabiam que estava acontecendo. E é tarefa do advogado verificar como as coisas estão indo para que possa representar o cliente da melhor forma possível. Portanto, ter feito o acordo não teve nada a ver com ele ser culpado. Ele realmente quase não teve outra escolha sabendo do que estava ocorrendo, baseado no conselho que estava recebendo de seus advogados. Quero dizer, teria sido estupidez naquele ponto ter continuado e ido a julgamento sabendo que ele gastaria mais dinheiro com os custos judiciais, com os altos honorários dos advogados e com os impostos, ao mesmo tempo em que não havia nenhuma indicação de que... Bem, as coisas não estavam funcionando até então, por que funcionariam no final? Depois de passar por aquilo tudo, foi a escolha mais fácil. Foi o melhor conselho que seus advogados, tenho certeza, deram-lhe. E foi por isso que ele fez o acordo. Não teve nada a ver com ele ser culpado.

Ron: Geraldine, eu gostaria de mencionar algumas coisas a que você se referiu em seu livro, como o porquê dele ter perdido aquelas moções. Feldman, obviamente, é um advogado muito agressivo e de muita experiência. Acho que podemos dizer isso tranqüilamente. Ele estava utilizando-se, por exemplo, de algum tipo de precedente apoiado na fragilidade de "memória" que uma criança tem, apesar daquela criança, na época, ter acabado de completar 14 anos, acho. Isso, de acordo com o tribunal, era mais importante do que o direito constitucional de Michael Jackson de não se "auto-incriminar". Ele se baseava no uso do mesmo testemunho que o promotor usaria, que seria dado no caso civil. Então, sei que isso teve muito a ver com a perda daquelas moções [nota da EDCYHIS: O argumento da acusação para não adiar o processo civil foi a memória da suposta vítima. Argumentaram que, em se tratando de uma criança, ele poderia esquecer os fatos se esperasse o término do processo criminal].

O fato é que, com respeito ao ponto de vista financeiro do qual falamos há pouco e está relatado em seu livro, se o julgamento, estimado em seguir por oito meses, tivesse acontecido, custaria-lhe quatro vezes mais dinheiro, porque ele não tinha contratado um "João Ninguém" que havia acabado de se formar, mas sim Johnny Cochran e outros poderosos que não eram profissionais quaisquer. Eles estavam cobrando, sem dúvida, várias centenas de dólares por hora. E para pagar quatro vezes mais, ter sua vida totalmente exposta para o mundo inteiro e sendo Michael Jackson, obviamente, uma pessoa muito privada... com nenhuma garantia de vitória, me faz pensar, só para reiterar o que você estava dizendo, que esses foram os motivos pelos quais ele decidiu fazer um acordo no caso.

Geraldine: E mais! Uma das outras moções foi aberta, porque queriam imediatamente o depoimento de Michael Jackson. Com um depoimento, você pode requisitar um documento, pode pedir a apresentação de documentos. Eles estavam requisitando informações financeiras! Foi quase a primeira coisa que pediram – dados sobre as finanças. Queriam saber quais eram seus bens. E os advogados de Michael tentaram bloquear isso também, mas, mais uma vez, perderam.

Ron: Obviamente, estavam bastante interessados com o bem-estar da criança naquele ponto. Quero dizer, com a verdadeira questão no caso.

Geraldine: Ou com o bem-estar financeiro de Michael.

Ron: Sabemos que o julgamento foi marcado para março, acho que 24 de março, e que o acordo foi feito em janeiro. Com base no que sabemos sobre os fatos e a partir do que sua experiência contou-lhe, enquanto estava trabalhando como secretária, você acha que ele teria ganho? Você acha que Michael Jackson teria triunfado no tribunal, com relação ao caso civil e/ou ao criminal, cujas acusações nunca foram formalizadas, a propósito?

Geraldine: Acho que ele teria ganhado porque, como eu disse, o primeiro grupo de advogados realmente tinha reunido muitas informações. Eles sabiam quem tinha tramado isso contra ele. Ele teria ganhado.

Ron: E quanto ao caso separado envolvendo a alegada extorsão que estava seguindo e quase não foi reportado pela mídia? Você acha que Michael teria ganho também?

Geraldine: Bem, se eles realmente tivessem investigado a acusação de extorsão com o mesmo vigor com que fizeram com a acusação de abuso, eles teriam obtido muito mais respostas, e teria custado muito menos dinheiro. A resposta estava justamente ali. Eles não teriam que ir longe. Eles não teriam que enfrentar dois Grandes Júris.

Ron: Eles não teriam que ter ligado para Diane Dimond...

Geraldine: Só se eles quisessem confundir o caso. Os fatos eram muito evidentes, simples demais. Eu diria que 75% do meu livro está baseado em informações que já estavam expostas, que já estavam nos olhos do público e já haviam sido trazidas à sua atenção. Você não precisa cavar fundo para descobrir isso. Ninguém precisa nem acreditar em mim. Simplesmente vá ao tribunal e puxe os arquivos e veja você mesmo. Agora, se a questão é provar no tribunal que a relação entre Rothman e Chandler foi anti-ética, que Chandler contratou Rothman para cometer um crime, estou preparada para isso. Estou preparada para defender isso e acho que o mundo deveria estar interessado nisso também.

Trish: Qual foi sua primeira reação quando ouviu sobre as alegações mais recentes feitas contra Michael Jackson?

Geraldine: A primeira coisa que eu disse foi: "Não acredito que eles fizeram isso de novo!". Sei que quando alguém faz algo uma vez, você tende a pensar que ele pode fazer novamente. Mas bem, eu sei com toda certeza que Michael Jackson era inocente no primeiro caso e posso apenas assumir com a mesma convicção que ele é inocente neste também.

Trish: Agora estamos a par do que Michael Jackson está enfrentando e dos vários paralelos com 93. Você pode comparar e contrastar as diferenças e similaridades entre o caso atual e aquele de dez anos atrás, incluindo os personagens?

Geraldine: Bem, Sneddon estava envolvido naquele caso e está neste também. Contaram-me que Feldman está envolvido, que foi ele que direcionou o caso para o ponto onde está agora, assim como foi ele que procurou o psiquiatra [nota da EDCYHIS: Feldman foi o segundo advogado a representar o garoto no caso atual e o levou ao mesmo psiquiatra a que havia levado Chandler há dez anos. Curiosamente, o psiquiatra usado nos dois casos, sequer é um especialista no assunto ou costuma tratar de crianças]. Estão usando os mesmos canais que usaram antes. A única diferença é que desta vez Rothman não está envolvido [nota da EDCYHIS: Rothman foi demitido por Chandler quando a ficha criminal do advogado e a suspeita de extorsão contra Jackson surgiram na mídia. A demissão abafou o caso. Rothman foi então substituído por Feldman].

Ron: Geraldine, você citou o caráter "planejador" que estava por trás do primeiro caso mas que está ausente no atual. Em outras palavras, o plano estratégico de Rothman e Chandler, que pareciam ter tudo sob controle, saiu em vantagem. Desta vez é uma questão criminal. Parece ser totalmente diferente daquele modelo. Você pode comentar sobre isso?

Geraldine: O plano é o mesmo. É um diferente grupo de personagens, mas estão usando o mesmo plano.

Ron: Você pode falar de como os personagens são diferentes agora? Acho que você estava comentando há pouco que há dez anos eles realmente pareciam saber o que estavam fazendo, pareciam ter tudo premeditado. Eles eram realmente bons. Hoje a coisa é um pouco diferente.

Geraldine: Bem, as partes envolvidas no primeiro caso, como disse Pellicano [nota da EDCYHIS: Investigador particular de Michael Jackson em 93], planejaram um elaborado esquema de extorsão. E estas palavras são fortes e ríspidas por si só. "Elaborado", que significa que foi uma extorsão multifacetada. E "esquema"... Bem, agora não passa de um projeto, ou seja, não há um esquema elaborado desta vez. Acho que muitas pessoas ficaram bem surpresas com relação ao caráter do garoto e da família, porque, além das inconsistências, eles uma vez já negaram tudo. É difícil fazer o júri engolir isso. Você realmente tem de ser bem crente e estar disposto a acreditar naquilo, que há credibilidade, ao invés de acreditar num tipo de evidência física [nota da EDCYHIS: A acusação contra Michael se baseia no artigo 288a do código penal americano, portanto, não requer testemunhas ou evidências físicas, apenas a palavra da suposta vítima. A vantagem da defesa é que pesam sérias suspeitas quanto à credibilidade da alegada vítima de Jackson]. E, ainda, várias inconsistências têm surgido mesmo depois da formalização das acusações. Muitas pessoas ficaram chocadas por Sneddon ter prosseguido e formalizado essas acusações apesar de todas as inconsistências que apareceram.

Ron: Chocante. Absolutamente.

Geraldine: É. E ele simplesmente agiu impulsivamente. Acho que este caso é bem menos aceitável e será bem mais fácil de ser provado falso, enquanto que o outro, o primeiro, foi mais bem planejado. Ele precisou de uma testemunha ser capaz de contar o que realmente aconteceu [nota da EDCYHIS: A própria Geraldine], mas se não fosse por isso, ninguém estaria sabendo ainda o que se sucedeu no primeiro caso, justamente por ter sido idealizado de maneira bastante elaborada.

Ron: Estamos muito cientes da mídia sensacionalista alimentando o frenesi que cercava as alegações de dez anos atrás. Como você pode contrastar isto com o modo como a estória está sendo coberta agora?

Geraldine: O frenesi existe, mas a mídia está... Bem, estou meio que satisfeita com o modo como a mídia está lidando com o caso desta vez. Acho que estão sendo justos em reportar informações como elas aparecem. Não acho que estão sendo perseguidores agora. Eles estão de fato noticiando adequadamente, não sendo tão precipitados em atirar pedras. Antes, eles estavam pagando pessoas. No primeiro caso eles estavam pagando pessoas com informações falsas sem mesmo verificá-las [nota da EDCYHIS: Michael Jackson provou que a jornalista Diane Dimond pagou para que pessoas fossem à TV acusar de Jackson de ter cometido abuso sexual. Essas pessoas confessaram a justiça que fizeram acusações na TV pelo dinheiro. No entanto, Diane Dimond não foi condenada no processo que Jackson moveu contra ela, porque não puderam provar que ela sabia da falsidade das acusações e o simples fato dela ter pago pelas entrevistas não é crime. Na ocasião, Dimond foi à falência pagando advogados para se defender.]. Agora, acho que realmente gosto de como eles estão agindo. O frenesi existe porque é Michael Jackson, quer dizer, o caso dele teve prioridade sobre tudo que estava acontecendo - Saddam Hussein, por exemplo. Ele é tido como prioridade sobre tudo no momento. Mas acho que estão sendo um pouco mais cautelosos, um pouco mais responsáveis ao dar informações.

Ron: Na verdade, acho que o problema é mais com o barco conduzido pela senhorita Dimond, mas é só minha opinião...

Geraldine: Bem, eu não estava falando de TODA a mídia. Eu só disse da maior parte. Eu realmente quero dar à mídia, como um todo, um crédito nisso. Na maioria, a mídia está sendo bem justa e não está perseguindo nem aumentando os fatos, apenas permitindo que qualquer coisa antiga seja relatada [nota da EDCYHIS: Essa entrevista com Geraldine Hughes foi conduzida antes que uma avalanche de rumores fossem espalhados pelos tablóides do mundo todo, como temos visto recentemente]. Mas ainda penso que há certas coisas que estão sendo noticiadas demais e muitas outras de menos. Há algumas coisas que eles não param de falar. Você fica ouvindo repetidamente sobre um homem de 45 anos de idade que dorme com crianças... Trabalhei com crianças. Há crianças vindo à minha casa pelos últimos três anos, que costumavam ir à minha casa semanalmente. E digo a você que tenho feito tanto com essas crianças, crianças desprivilegiadas, levando-as a lugares onde nunca estiveram, fazendo coisas que faria qualquer criança simplesmente maravilhar-se. E dentre todas essas coisas, sua pergunta número um, que me fazem ao telefone toda semana, é: "Geraldine, quando vamos nos ver e dormir juntos?". Isto é algo prioritário para uma criança, elas amam. Então não acho que é Michael que está fazendo qualquer coisa, são elas. E todos os pais com que converso me dizem a mesma coisa. Agora, quando se trata de mídia, todo mundo diz: "Bem, isso não é normal". É, é sim. É perfeitamente natural se você for uma pessoa normal.

Ron: Especialmente se você é alguém como Michael Jackson.

Geraldine: Isso, elas o adoram. Elas querem ficar perto dele. São elas querendo ficar com ele e não soltar mais. E acho que tudo isso está acabando com Jordan. Na verdade, ouvi comentários vindo de pessoas que conhecem esse rapaz agora, mas não sei se tenho liberdade para falar...

Ron: Vá em frente! Diga!

Geraldine: Não posso, mas digo que ouvi de duas fontes. Alguém disse que... Não, acho que não posso falar, mas posso dizer que acredito que tudo isso o incomoda, que está o cutucando. Alguém realmente apareceu e me deu essa informação. Por isso o livro chamava-se "The Set Up" ["A Armação"] e eu mudei para "Redemption" ["Redenção"], porque eu quero mesmo que esclareça a todo mundo, quero que todos encontrem um ponto final nisso tudo. Quero que Michael seja redimido. Quero que o garotinho seja redimido também. E não acho que deveria existir qualquer ordem legal no mundo que proibisse a verdade de ser revelada se não foi dita antes. Se uma ordem de silêncio foi baseada em falsas alegações, então não acho que deveria existir uma neste mundo que proibisse a verdade de ser revelada.

Ron: Ontem, nós conversamos um pouco sobre os paralelos entre a vida de Michael e de várias outras figuras conhecidas como John Lennon, Martin Luther King Jr. E contei para você da minha crença, que vejo muitos paralelos entre a vida de Michael e a de Jesus. Claro que não estamos dizendo que ele é Cristo, mas em seu livro há uma passagem onde você diz: "Eles crucificaram o caráter de Michael Jackson. Assassinaram sua reputação, acusaram-no falsamente, pregaram-no numa cruz com mentiras perversas, e roubaram-lhe seus pertences". Você pode nos falar mais sobre sua crença no plano de Deus para Michael Jackson e sua missão para com o mundo, contada no seu livro no capítulo "Um Carneiro no Mato"?

Geraldine: Eu acredito... Ouvi algumas declarações na mídia sobre o que as pessoas acreditam. Acho que perguntaram a Jermaine se ele acreditava que isso era um linchamento moderno, mas não igualo o que está acontecendo com Michael Jackson a um linchamento. Considero o que está acontecendo com ele como uma crucificação moderna, porque até onde sei, e eu não sabia disso até começar a pesquisar, ele não usa seu status de ícone para conseguir mulheres ou drogas. Do que eu colhi, ele não tem usado seu status só para si próprio, para simplesmente dizer ao mundo para amá-lo e adorá-lo. Ele está tentando trazer paz ao mundo. Está tentando quebrar a barreira racial. Então, até onde sei, está acontecendo uma crucificação moderna, e tenho que falar assim porque precisamos saber disso, do que estamos fazendo, o que estamos dizendo quando nos deparamos com a mídia chamando-o de pedófilo. Vamos só parar por um instante e ver. E se estivermos errados? E se todas essas pessoas que estão fazendo todos esses documentários estiverem erradas? E se ele for inocente? É justo para ele? Eu estive lá. Sem uma testemunha ninguém teria escrito este livro, a verdade não seria contada, e estaríamos simplesmente alfinetando: "Oh, ele deve ter feito novamente". Não, ele não fez da primeira vez, então o que diremos desta?

Trish: Você nos disse outro dia que conversou com Mark Geragos recentemente. Sabemos que dez anos atrás você ia ser usada como testemunha primária pela defesa. Você ainda estaria disposta a testemunhar no caso atual se fosse chamada?

Geraldine: Estaria. Não estou certa do que acontecerá, mas se acontecer, eu estarei disposta.

Trish: Michael não pôde estar aqui conosco hoje, mas se estivesse, o que você gostaria de dizer a ele e aos fãs, que têm resistido a dez anos disso e agora estão enfrentando tudo novamente?

Geraldine: Eu primeiro diria a Michael que Deus não o abandonou, que Ele não o esqueceu, que Ele colocou suas mãos ao longo de toda sua vida e está com ele, e tudo isso passará. E acredito com toda a minha alma e coração que tudo isso é um teste e uma provação. Todos nós passamos por testes e provações, porque eles nos tornam mais fortes e movem-nos para mais perto do nosso propósito na vida, a verdadeira razão pela qual estamos aqui. Realmente acredito que quando tudo estiver dito e feito, Michael será capaz de saber como Deus o ama. Ele será capaz de saber que Deus esteve sempre ao seu lado e sempre estará, enquanto ele continuar a fazer coisas que estão ajudando as pessoas, que têm agradado aos olhos de Deus. E aos fãs de Michael eu diria para eles continuarem a apoiar e acreditar nele, porque vocês sabem em seus corações que ele é inocente. Simplesmente continuem a acreditar nisso, digam o que disserem. Simplesmente continuem a seguir seus corações...

Fonte: MJBeats / editado e traduzido por Andréa Faggion
Título original do texto:'Os bastidores de um crime'