The King of Style: Dressing Michael Jackson (03)


Acidentes felizes - Como nós conhecemos Michael

''Ainda que todos nós possamos fechar os olhos e instantaneamente aparecer a imagem de Michael com o seu perfil militar, havia muito mais coisas para ver em sua aparência que não são apenas aqueles vistos a olho nu.

Como poderia um homem que se sentia tão obrigado a se pressionar criativamente, desejar ao mesmo tempo um perfil consistente, mas nunca querer se sentir aprisionado? Como fazia para que cada corte parecesse único cada vez?

Conseguir tal façanha fazia parte da magia de Michael.

O objetivo de Michael era se rebelar com o que ele vestia, aplicando uma mistura de autoridade mediante as rígidas linhas de uma jaqueta. Em certo sentido, o corte militar exigia atenção e respeito, mas isto era rock and roll.

Quando fazia uma peça tradicional, usando tecido elástico ou plástico, se tornava uma rebeldia, um tapa sutil na cara com a ideia do ''que se espera de você." A tradição ainda está aqui, a obra artística está aqui, mas eu estou me rebelando contra o "sistema" à minha maneira.

Eu imagino Michael pensando assim. Eu pensei que esta perspicácia, esta rebeldia aumentava a sua capacidade de se comunicar e se conectar mais plenamente com os seus fãs. No entanto, mesmo deixando de lado as roupas, você não poderia evitar se conectar com Michael. Isso é, na verdade, o que aconteceu quando eu o conheci. Conexão instantânea.

Começamos a trabalhar com Michael em 1985, durante as filmagens de Captain Eo. E, como acontece em todos os grandes relacionamentos, nosso início com Michael aconteceu por acaso. Dennis e eu trabalhávamos na rede de televisão ABC. Eu fazia todos os trabalhos possíveis, segundo o que precisavam. Se precisava costurar uma roupa, eu o fazia, se um ator em uma série precisava de uma assistente de figurino, ali estava Bush ao resgate.

Michael Jackson e Michael Bush em Captain EO
Dennis, por outro lado, começou sua carreira como assistente de figurino para Icones da Antiga Hollywood, como Milton Berle e George Burns, mudando mais tarde para se tornar um alfaiate para a rede ABC, antes da Disney contratar a ele para trabalhar em Captain Eo, juntamente com o figurinista John Napier [Starlight Express e Cats].

Eu estava feliz por Dennis, quando lhe foi oferecido o trabalho durante as férias de verão, porque ele poderia lançar sua carreira no mundo do cinema.

Mas Dennis não estava exatamente 'dando pulos' porque isso significava que teríamos de sacrificar suas férias de três meses, mas eu expliquei a ele que adicionar ao seu currículo um filme dirigido por Francis Ford Coppola e produzido por George Lucas poderia abrir lhe abrir as portas de uma forma que ele não poderia imaginar.

Eu era o que estava deslumbrado com as estrelas e finalmente convenci a Dennis para que assinasse a fim de estar à frente do departamento, contratando a mim como um dos seus quinze alfaiates.

Enquanto trabalhávamos no guarda-roupa durante o verão fazendo figurinos para os dançarinos, não tínhamos ideia de quem era a estrela do filme. Em nosso último dia de trabalho, nos levaram para dar uma volta pelo conjunto.

"Este é o elevador que levará Michael Jackson ao palco", disse um dos membros da equipe.

''Esse Michael Jackson?'' me peguei atônito. Isto foi bem depois da Victory Tour, da luva, do Moonwalk.

Em 1985, nada nem ninguém era maior do que Michael Jackson. Certamente eu era um fã, mas a ideia de que nós fazermos os figurinos para um filme estrelado por Michael Jackson, me fez sentir calafrios pelas costas.

Apenas alguns anos atrás, eu era um jovem de Appalachia que tinha aprendido a costurar à mão com a mãe e fiz o meu caminho para Hollywood em ziguezague. Eu poderia não ter formação profissional ou experiência na indústria do cinema, mas uma coisa que eu tinha era o poder de persuasão e, rapaz, eu estava contente em poder usar ele com Dennis.

Além de suas funções no set de [Captain] EO, Dennis foi convidado a "vestir" Michael e preparar a ele para as filmagens, mas Dennis recusou. Ele era um alfaiate, afinal, e se concentrar nessa responsabilidade para ele já estava bem.

"Peçam para Michael Bush'', Dennis sugeriu a um dos executivos. E isso eles fizeram.

"Eu posso não gostar," eu disse a ele em um tom abafado.

"Experimente."

No mundo da moda em Hollywood há uma espécie de hierarquia: Designers enviam seus desenhos para os alfaiates, que cortam o padrão e montados em manequins. Os alfaiates enviam as peças para os costureiros, que passam a peça acabada para alguém do guarda-roupa, cujo trabalho é colocar a ela em um cabide para que o assistente de figurino a receba. O assistente de figurino, literalmente pega a roupa do cabide e o artista a coloca.

Eu tinha a mesma idade de Michael Jackson, 27 anos, e tinha apenas dois anos e meio no setor, mas eu sabia de uma coisa: Um homem do calibre de Michael Jackson que não têm o seu próprio assistente de figurino significou um grande alarme. Qual era o problema? Tinha que haver um.

''No dia seguinte, eu peguei todas as roupas de Michael e as levei para seu trailer no set de Captain EO. Esperei uma hora na calçada com seu figurino sobre meu antebraço. Quando eu tive permissão para entrar, estava escuro como um breu e quente como o inferno lá.

Michael ficou por todo o caminho na parte traseira do trailer, onde estava a cama. Eu podia ouvir Bubbles, o chimpanzé de estimação de Michael, pulando na cama. Uma pequena luz ligada sobre a mesa e por causa da pouca luz, eu podia ver apenas sombras.

Eu andei em direção à cama e o chimpanzé agarrou minha perna. ''Ok - eu pensei - talvez seja por isso que Michael Jackson não tem seu próprio estilista.''

''Eles estão prontos para mim?'' Michael perguntou. "Eu não quero me vestir a menos que eu saiba que eles estão realmente prontos para mim.''

"Sim, eles me mandaram aqui para vesti-lo."

"Isso não significa nada. Por favor, verifique e se certifique que eles realmente estão prontos para mim."

Então, de volta fora eu fui, meus olhos cegos tentando se ajustar à luz da manhã. Certo de que realmente eles estavam prontos para Michael, eu voltei para o trailer para vesti-lo. Quando eu fiz o meu caminho novamente para a parte traseira do trailer, uma cereja me acertou no rosto. Eu não conseguia ver de onde ele estava vindo, mas eu ouvi risadas.

''Eu não estou gostando do chimpanzé'', eu decidi, acreditando que Bubbles estava por trás disso. Foi quando uma outra cereja me acertou no ombro. E Michael rachou. Eu estava bem na frente dele agora, e ele olhava para mim como um garoto de doze anos de idade, me dando o seu melhor desafio.

Ele atirou uma terceira cereja em mim e riu da minha expressão de surpresa.

''Ah, se ele quer jogar, eu vou jogar.''

Então eu peguei uma das cerejas do chão e a joguei de volta para ele. A mandíbula de Michael estava aberta, mas depois seus olhos brilharam maliciosamente, enquanto ele lentamente levantou a taça de cerejas sobre esta cabeça... e jogou o resto das cerejas em mim.

A partir de então, gostávamos um do outro. Se você não pudesse ou não quisesse se divertir, então Michael não iria querê-lo à sua volta. Ele testou o meu senso de humor e eu passei no teste.''

Por Michael Bush
*Estilista de Michael Jackson, em seu livro The King of Style: Dressing Michael Jackson

Fonte: MJHideout