Michael Jackson e o #BlackLivesMatter


#BlackLivesMatter é um movimento social que está acontecendo nos E.U.A. desde 2012, na tentativa de frear os números alarmantes de violência cometida contra os cidadãos negros, em uma clara alusão ao racismo e à discriminação sexual. 

A cada 28 horas uma pessoa negra - homem, mulher ou criança - é assassinada pela polícia. Estima-se que 25,1 % das mulheres negras americanas vivem na pobreza. Maior do que qualquer outro grupo étnico. A expectativa média de vida de uma mulher bisexual negra é de 35 anos. São apenas alguns dos números. 

Na últimas semanas, os protestos têm sido revidados com violência. O movimento #BlackLivesMatter precisa do apoio dos artistas, para que estes também sejam a sua voz, junto à mídia e à sociedade. Porém, muitos têm fechado seus olhos e ouvidos.







A partir desse panorama, D.B. Anderson - escritor e estrategista na área metropolitana de Washington DC - publicou recentemente [09/12/2014] o seguinte texto no site The Baltimore Sun onde Anderson recorda a face ativista de Michael Jackson, e o quanto ele lhes faz falta, também nesse momento.

[Trechos selecionados] 

Rei Mensageiro: Michael Jackson e as políticas do #BlackLivesMatter

''Onde estão todas as celebridades?''

Essa é uma pergunta que muitos apoiadores dos protestos do #BlackLivesMatter estão se fazendo. Neste momento de grande agitação, alguns estão sentindo a falta de liderança daqueles que têm plataformas de mídia em todo o mundo.

Muitos atores e músicos negros fizeram declarações públicas para expressar sua tristeza e frustração sobre as decisões do júri de Michael Brown e Eric GarnerJohn Legend contratou caminhões de comida para alimentar os manifestantes em New York. A celebridade do hip-hop J. Cole se juntou aos manifestantes. O rapper da Philadelphia Chill Moody escreveu uma canção, We're Worth More.

Mas há uma sensação de que os super-famosos não têm realmente se envolvido. A declaração de Pharrell foi menos do que satisfatória para alguns. Onde está Oprah? Onde está Tyler Perry? Onde está Beyonce? Estas são as perguntas que eu já vi na minha linha do tempo no Twitter nas últimas semanas.

Acho que algo diferente do que a apatia está realmente aqui o medo e a trepidação. Artistas temem que tomar uma posição política pode pôr em causa as suas reputações e carreiras. 

Qualquer declaração política vai ter uma reação - e um preço será pago. Carreiras são dependentes da boa vontade das empresas, a partir das gravadoras aos patrocinadores para as estações de rádio.

Comentários:

@JFCanton: ''Atacar o amor e o compromisso do Sr. Jackson para aliviar o sofrimento das crianças neste mundo foi uma maneira daqueles de se sentiram ameaçados pela mensagem do Sr. Jackson e sua mega popularidade, foram capazes de incentivar o público em massa para desacreditar o Sr. Jackson. A mídia o fez....''

Questlove colocou algo parecido em seu Instagram: "Exorto e desafio músicos e artistas a se mover para ser uma voz dos tempos em que vivemos...''

Dixie Chicks perdeu seu patrocinador ao dia seguinte ao incidente de 2003* e viu suas canções serem retiradas do ar e a queda livre nas vendas de seus discos. Imagine então, que destino poderia acontecer para artistas que fizeram declarações políticas em meio ao seu corpo de trabalho?

[Nota do blog Dixie Chicks é um trio norte-americano de música country. É um dos grupos femininos de maior sucesso de todos os tempos, tendo vendido um pouco mais de 30 milhões de álbuns em sua terra natal. Em 2003, dez dias antes da invasão norte-americana ao Iraque, a vocalista Natalie Maines disse se envergonhar do fato do presidente George W. Bush ser texano assim como as integrantes do grupo. Tal afirmação causou controvérsia e o grupo foi banido de diversas emissoras de rádio por todo o país. Este momento infame da vida das integrantes do grupo serviu de base para o documentário Dixie Chicks: Shut Up and Sing  em 2006]

Michael Jackson nunca teve medo de se expor para a verdade, conforme ele a via. Sempre pudemos contar com Jackson para ser o líder global da banda, para dar voz a tudo o que estávamos sentindo. Seu catálogo adulto é um tesouro de ativismo social. 

Inanição. AIDS. Guerra. A violência das gangues. Relações raciais. O meio ambiente. Foi Jackson quem colocou nos concertos a devastação de Sarajevo.


Foi Jackson quem colocou uma canção de caridade em grupo e em concerto após o 9/11. Foi Jackson quem usou cada gota de sua celebridade global para fazer a diferença. Ele estava lá.


O que aconteceu com Jackson por conta da sua política foi muito pior do que perder vendas. Por falar sobre da verdade ao poder, Jackson fez de si mesmo um alvo. Os piores tiros contra ele foram feitos por um promotor branco na Califórnia, que o perseguiu implacavelmente durante 12 anos e o acusou de crimes hediondos, os quais foram totalmente desmentidos no julgamento. 

Parece que nunca ninguém liga os pontos: Um homem negro muito influente, muito rico e grande orador foi tirado de cena por um promotor branco em acusações forjadas.

De fato, para Jackson o silêncio foi ensurdecedor. Ele perdeu patrocinadores e enfrentou os problemas financeiros exatamente como Questlove se refere. 

O ceticismo sobre seu vitiligo [posteriormente confirmado na autópsia] e acusações de branqueamento de pele já tinha lhe custado alguns adeptos. Seus protestos contra as maquinações de sua gravadora foram redondamente ridicularizados na imprensa.


"A maioria de nós tinha virado as costas para ele", disse Madonna depois de sua morte.

Em 1996, Jackson recorreu a Spike Lee para criar o curta-metragem para sua canção They Don't Care About Us. Você pode nunca ter visto a ele, no entanto, porque [o video] foi proibido na televisão americana. E as estações de rádio nos E.U.A. estavam relutantes em reproduzir a faixa porque Jackson foi acusado de usar linguagem "racista" na mesma.


A canção foi, em grande parte, uma resposta ao fracasso em se condenar os policiais na filmagem de 1992, onde Rodney King aparece apanhando mas também a sua própria experiência terrivelmente degradante sobre a brutalidade policial em 1993. 

Relendo a crítica da música atualmente, é de se abanar a cabeça em descrença, por conta da ingenuidade [da letra]. É óbvio que, para alguns no poder na época, esta era uma canção perigosa e as objeções, apenas uma tentativa de desviar.


O que precisamos, disse Questlove no outro dia, são "canções que contenham espírito. Canções com soluções. As músicas com questionamentos. Canções de protesto não tem que ser chatas ou não-dançantes... elas só têm que falar a verdade."

No Twitter, #TheyDontCareAboutUs é uma hashtag. Na cidade de Ferguson, eles protestaram com a canção de Michael Jackson através das janelas dos carros. Em New York e Berkeley no último fim de semana, ela foi cantada e executada por manifestantes.

E em Baltimore houve um momento mágico quando o coro da Morgan State University respondeu protestando com uma interpretação de Heal The World de Jackson. O preço já foi pago, mas o cheque não foi descontado. Talvez nós só precisemos, finalmente, ouvir Michael Jackson.''